Dona Lúcia Rocha, mãe do cineasta Glauber Rocha, em imagem de 2007.
André Coelho/Agência O Globo-2007.
Revista Veja, em 03/01/2014.
Memória
Morre no Rio Lúcia Rocha, mãe do cineasta Glauber Rocha
Dona Lúcia ganhou admiração no meio cinematográfico por ter
lutado pela preservação dos filmes e do acervo do filho desde sua morte, em
1981
Morreu no Rio de Janeiro, nesta sexta-faira, Lúcia Rocha, 94
anos, mãe do cineasta Glauber Rocha e chamada de "mãe do Cinema
Novo". Dona Lúcia, como ficou conhecida, será sepultada neste sábado, no
cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul, onde também foi enterrado
Glauber. Obstinada, ganhou admiração no meio cinematográfico por ter lutado
pela preservação dos filmes e do acervo documental do filho desde sua morte, em
1981. Para isso, buscou patrocínios que viabilizassem seu trabalho, missão
adotada para toda a vida.
Dona Lúcia estava em casa e teve uma parada cardíaca depois
de sair do banho. "Estava muito bem de saúde, curtiu a tataraneta, minha
filha, no Natal. Fez um poema para ela. Tinha uma memória perigosa! Mas vinha
reclamando muito do calor que está fazendo no Rio. Completaria 95 anos no dia
16. Foi uma passagem suave. Foi melhor assim, pois ela sempre dizia que queria
morrer dormindo, sem sofrer", disse Sara Rocha, sua bisneta.
Lúcia Mendes de Andrade Rocha nasceu em Vitória da Conquista
em 1919. Teve Glauber em 1939 e foi responsável por sua alfabetização. Quando o
filho ainda era pequeno, a família mudou-se para Salvador, cidade em que ele
desenvolveria seu pendor artístico.
Ela perdeu outros dois filhos (uma, Ana, ainda criança, de
leucemia, e outra, a atriz Anecy Rocha, num acidente num elevador, em 1976).
Passou décadas guardando tudo que Glauber jogava fora - pegava rascunhos
amassados no lixo e passava a ferro, tamanha a idolatria que sentia por ele.
Chegou a juntar mais de 100.000 documentos, fotografias e textos (boa parte
permanece inédita).
Desde a morte prematura de Glauber, lutou pela preservação e
propagação de sua filmografia e vasta produção intelectual. Conseguiu, com a
ajuda dos descendentes, patrocínios para restaurar filmes, de ‘Barravento’
(1962) a ‘A Idade da Terra’ (1980). Abriu o Tempo Glauber, centro cultural em
Botafogo que conta com moderno centro de documentação, batizado com seu nome.
Lá fica o arquivo amealhado por dona Lúcia.
O espaço - usado para seu velório - é mantido com dificuldade
pela família, que não conta com apoio de governos ou empresas. Recentemente,
conseguiu-se promessa de verba do Ministério da Cultura, mas a instituição
ainda não recebeu o dinheiro. "Minha meta é reunir e divulgar toda a obra
do Glauber. Guardar papel eu sabia fazer, mas isso eu não sei", brincou
dona Lúcia numa entrevista ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’ em 2009.
Ela foi a grande incentivadora de Glauber. Quando ele filmou
‘Barravento’, na Bahia, ela cozinhava para todo o set. Para ‘Deus e o Diabo na
Terra do Sol’ (1964) - o seu preferido - e ‘O dragão da Maldade Contra o Santo
Guerreiro’ (1968), fez alguns figurinos.
(Com Estadão Conteúdo).
Foto e texto reproduzidos do site: veja.abril.com.br/noticia
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