quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Saudades do Cine Palace - 10


Cartaz de "Os Dez Mandamentos"
A cabine de projeção do Cine Palace era bem espaçosa e aclimatada e, na porta, o tradicional aviso “Proibida a Entrada”. Tinha uma escadinha e logo se via os dois projetores RCA-100, atrás dos quais havia a enroladeira, onde o operador rebobinava o carretel da parte que acabara de ser projetada. Ali mesmo, também, era feita a revisão dos filmes quando estes chegavam da transportadora, vindo de outro estado em sacos de pano, que traziam as latas de filmes, cartazes, fotos, certificado de censura e orientação para o projecionista. Em Aracaju, os filmes eram exibidos com algum atraso, muito arranhados, às vezes, cortados, com as perfurações estragadas, o que gerava muitas emendas, que se não fossem bem feitas, poderiam partir-se ou enganchar durante a projeção, ocasionando até a queima do filme. Quando isso acontecia, via-se na tela o fotograma se queimando. Nesta época as lâmpadas eram de carvão. Duas varetas opostas, que funcionavam como pólos positivo e negativo, iam se queimando à medida que as duas pontas se juntavam. Quando as mesmas se afastavam, a luminosidade enfraquecia e o filme que estava sendo projetado escurecia na tela, causando grande protesto da platéia, que batia palmas e assobiava. Outra reclamação mais comum era quando a fita tinha uma emenda mal sincronizada nas perfurações e o quadro saía do lugar, subindo e cobrindo a legenda. No Palace, antes de ser feita uma adaptação na janela de projeção, uma mesma lente servia para o formato de tela standard (pequena e quadrada) e a cinemascope (retangular, tomando toda a tela), dando um efeito bastante interessante de abertura de formato de tela, quando da passagem do cine jornal para o filme principal em cinemascope. No chão, próximo de cada um dos projetores, ficavam as latas de filmes com os rolos, ordenadas em partes, distribuídas em certa quantidade para cada projetor. Os filmes, normalmente, vinham com seis a oito rolos (partes). Outros, como Os Dez Mandamentos (1956), com Charlton Heston e Yul Brynner, com duração de três horas e quarenta e dois minutos, chegavam a ter mais de treze latas de filme (partes). Quando estava para acabar um dos rolos, o outro já era colocado e começava o trabalho de sincronização. Duas marcas no fotograma do filme, aqueles círculos nos cantos da tela espaçados por trinta segundos, eram a deixa para os operadores saberem a hora de acionar o pedal, que no caso dos projetores do Palace, ficavam na sua base, que fechava o foco do que estava encerrando a parte e abria o que iria iniciar-se, fazendo com que a sincronização fosse perfeita, não se notando a mudança de parte. Uma vez, aconteceu de um projetor quebrar e demorou a ser consertado, mesmo assim o cinema não interrompeu as sessões, só que ficava parando o filme toda vez que o rolo acabava, para mudar a parte em um só projetor. A pensar que hoje nos cinemarks da vida, além de ser um só projetor, não se usa mais carretéis, e sim grandes pratos onde se coloca todo o filme, funcionando automaticamente, só precisando do projecionista para colocá-lo, isto por enquanto, porque quando a projeção for digital e depois via satélite, aí nem projecionista terá. Cada vez mais o cinema perde a magia e o romantismo de uma época que não volta mais, deixando os cinéfilos sem seus fetiches.

Armando Maynard

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