sábado, 30 de março de 2013

Recordar é Viver? - Adolescência.

Cine Rio Branco - Rua João Pessoa - Atual Lojas Ipanema.
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi. Anos 40/50. 3ed. Aracaju:Unit, 2007.
Foto reproduzida aqui do blog: aracajuantigga.blogspot.com.br
De: José de Oliveira B. Filho

Recordar é Viver? - Adolescência.
Por Clodoaldo de Alencar Filho.

Em fevereiro de 1946, deu-se o meu primeiro encontro com Maria Montez. Foi no Cine “Guarany", que ficava na esquina da Rua de Estância com a Av. Pedro Lalazans.
Boa tarde, D. Iáiá
Boa tarde, meu filho. Como vai seu pai?
De repente, aquela risada e a voz alegre:
Jovem, como vai? Cadê o “Velho”?
Era Augusto Luz por baixo da cabeleira branca.
Entrei sem pagar.
Quando começou o filme, lá estava ela, Maria Montez, minha musa encantadora. Linda! Suave.
Daquela tela, então enorme, passou o olhar flamejante por sobre a platéia e parou bem em cima de mim. Percebeu a minha presença, mas disfarçou por causa de John Hall, Turhan Bey e Sabu.
De noite não dormi direito. Se me cobria, sentia um calor horrível... Se me descobria, não agüentava o frio...Sono superficial, inquieto...até as quatro da manhã..
Mal adormecia, ela ria para mim...
Não sei como fui trocá-la por Deanna Durbin, ali mesmo no “Guarani”. Talvez influenciado pela voz maravilhosa.
"Que voz, Que insônia...
Os suores noturnos...
Quando faltava dinheiro para o bonde 5, eu saia da Praça Fausto Cardoso, a pé, subia a Rua de Estância, e lá chegava ofegante, para o "encontro marcado”... Mas, Companhias de Teatro chegadas ao Rio Branco, que ficava na Rua João Pessoa, hoje Calçadão, roubaram-me do " Guarany" e da "deusa de Joba, série " avançadíssima " tecnicamente.
Ainda vejo os " homens voadores "...
O Rio Branco deu-me a chance de conhecer as maiores estrelas do teatro da época: Procópio Ferreira, pai da Bibi Ferreira, Eva Tudor, Iracema de Alencar, Vanda Lacerda, Milton Carneiro, Mário Brasini e outros.
Na porta interna do Rio Branco, sempre estava Juca Barreto. O bom Juca: sempre elegante: sapato "Fox" marrom e branco, sola fina. Roupa de "borracha" (era o tecido masculino da época), camisa social branca, colarinho impecavelmente bem passado, e sem gravata. Na bilheteria, seu irmão Paulo Barreto, dramaturgo que faria sucesso, logo mais, com a sua peça: “O HOMEM QUE PRDEU A FÁ". Seu intérprete: Edinal Resende.
Lá na tela do Rio Branco fui 'apresentado' ao meus novos amores. Durante os anos 48 e 49, entraram-me pelo coração adentro:
Betty Hutton “O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA), Anne Sheridan (" EM CADA CORAÇÃO UM PECADO”), linda Darnel e Alive Faye (" ENTRE A LOURA E A NORENA”),
Tyrone Powel, Douglas Fairbanks, Dick Haymes e Cornel Wilde tremiam de ciúmes quando me viam na platéia.
Ainda hoje ouço a voz rouca de Lauren Bacal, dizendo-me entre os lençóis:
“Bogard não vai lhe perdoar isto..."
Antes de levá-la para casa, passeamos no bonde 2, para mostrar-lhe a beleza da Colina do Santo Antônio...
Dez horas da noite já era madrugada em Aracaju.
Algum movimento de boêmios, em direção ao “Bela Vista” - perto do Vaticano, ou em busca da pensão de Marieta.

Texto reproduzido do blog: clodoaldoalencar.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário