sexta-feira, 24 de junho de 2016

Cândido Aragonez de Faria, o artista de Laranjeiras que brilhou em Paris

Retrato de Cândido Faria entre as bandeiras do países onde viveu:
Brasil, Argentina e França. Óleo de Charles Lévy, 1905, 
existente no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Infonet > Blog Luíz A. Barreto > 30/09/2011.

Cândido Aragonez de Faria
O artista de Laranjeiras que brilhou em Paris
Por Luiz Antônio Barreto.

Neste ano de 2011 o sergipano Cândido Aragonez de Faria completa 100 anos de morto. Ele nasceu em Laranjeiras, Sergipe, em 1849 e morreu em Paris, na França, em 1911, aos 62 anos, de uma vida  toda ela dedicada a arte, como chargista, cartazista, artista plástico completo, como testemunham suas obras, especialmente os mais de trezentos cartazes de filmes produzidos pela Casa Pathé. O nome de Cândido FARIA aparece, com destaque, na História da Caricatura Brasileira, de Harman Lima, mas não há, naquele livro, nenhuma informação sobre o seu nascimento e vida.

Em 1840 chegava a Laranjeiras, então capital da produção açucareira, um jovem médico – José Cândido Faria – formado em Montpelier, na França, com especialização em Cólera. Pouco se sabe sobre o lugar do seu nascimento, presumivelmente na região sul da então Província de Sergipe, fronteira com a Bahia.  Juntamente com o célebre Dr. Bragança, seu conhecido do tempo de estudante, fundou o Hospital de Caridade de Laranjeiras, fixando residência e casando-se com a espanhola Josefa Aragonez, com quem teve quatro filhos: Cândido, Júlio, Adolfo e Henrique(falecido ainda jovem). Em 1855 irrompeu em Sergipe um surto de Cólera, que mobilizou médicos e recursos terapêuticos. O dr. José Cândido foi um dos profissionais da medicina e uma vítima.

Com a morte prematura do pai, Cândido FARIA foi, com sua mãe e irmãos, viver no Rio de Janeiro, onde tinha parentes. Lá cursou o Liceu de Artes e Ofício e a Escola de Belas Artes, mostrando-se vocacionado para as artes plásticas. Ainda jovem fundou o seu primeiro jornal – O Mosquito – assumindo, com seu irmão Adolfo, que viria a tornar-se famoso fotógrafo em Paris, os desenhos e charges da pequena folha jornalística, com a qual deu início a uma carreira toda exitosa, que o levou a criar jornais e revistas, e a dar cursos de arte, até instalar o seu atelier em Paris, capital das luzes, onde casou, teve um filho – Jacques – que lhe deu o neto Felipe Aragonez de Faria, seu incansável curador, a resgatar a vida e a obra do avô famoso.

Cândido Faria entregou o jornal carioca ao seu irmão Adolfo e foi morar em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde fundou dois jornais –Diabrete e Fígaro, e monta um primeiro atelier, oferecendo aos gaúchos um curso de arte. De Porto Alegre ruma para Buenos Ayres, capital da Argentina, onde repete a fundação de jornal e da revista La Cotorra, e colabora com outros órgãos da imprensa portenha, destacando-se. Por fim, em 1882, aos 33 anos, muda novamente, desta feita para Paris, onde acomoda seu atelier, que leva seu nome, na rua Steinkerque, endereço no qual compõe grande parte de sua obra, incluindo os cartazes para os filmes dos Irmãos Pathé, que ganhavam o mundo conquistando o sucesso da 7ª Arte, desde a entrada em uso do Cinematógrafo, em 1895. É longa a lista de cartazes, desenhados a partir de 1902, quando fez o primeiro dos seus famosos cartazes.

Cercado de amigos e admiradores, disputado por colecionadores, Cândido FARIA viveu 9 anos de intensa produção artística, freqüentando galerias, desenhando cartazes de espetáculos de arte e cultura, acumulando sucesso. Seu irmão Adolfo, que ficou no Rio de Janeiro, também conquistou fama no jornalismo humorístico e como fotógrafo, com laboratório no centro da cidade maravilhosa, como anunciava, à época, o Almanak Lammert. A saga da família FARIA produziu um extraordinário acervo, que eleva ainda mais a contribuição sergipana à cultura brasileira e, como neste caso, à cultura do mundo. É uma pena que Sergipe não tenha tomado, mais cedo, conhecimento da biografia de Cândido Aragonez de FARIA, ou simplesmente FARIA, como assinava seus trabalhos. Houve, há alguns anos, uma pequena Exposição de cartazes do pintor sergipano em sua terra natal, nada mais.

Neste ano do centenário de sua morte, a Universidade Tiradentes e o Instituto Tobias Barreto homenagearão Cândido Aragonez de FARIA, afixando na Sala Interativa de Pesquisas cartazes e desenhos de sua autoria, ao lado de informações biográficas para pesquisas. Felipe Aragonez de Faria, que fez diversas viagens a Sergipe e que percorreu na Espanha, no Brasil, e na França em busca de informações que permitissem reconstituir a história da família, compondo livros com os quais registra, com documentos e ilustrações, grande volume de textos biográficos, com os quais, em definitivo, preencherão páginas grandiosas de sergipanos que de Laranjeiras a Paris testemunharam, com seus trabalhos, a força criadora dos Sergipanos. O Centenário de Cândido FARIA, em 17 de dezembro deste ano de 2011,  é uma excelente oportunidade para que sejam feitas as publicações organizadas por Felipe Aragonez de Faria.

Texto e foto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

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