Cine Rio Branco - Rua João Pessoa - Atual Lojas Ipanema.
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi.
Anos 40 e 50. 3ed. Aracaju: Unit, 2007.
Anos 40 e 50. 3ed. Aracaju: Unit, 2007.
Foto publicada pelo blog Cinaemateca da Saudade,
para ilustração do presente artigo.
para ilustração do presente artigo.
Publicado no site Osmário Santos, em 24/11/2003.
O Memorial do Rio Branco.
Por Luiz Antonio Barreto.
No dia 4 de abril de 2004 o múltiplo espaço cultural de
Aracaju, o Cine – Teatro Rio Branco, completa 100 anos de uma das mais ricas
histórias sergipanas. Aracaju sempre quis ter um teatro e as autoridades da
então Província, depois os presidentes do Estado fizeram muitas tentativas, sem
êxito. O general José de Siqueira Menezes, que governou o Estado entre 1912 a
1914 defendeu a edificação de um Teatro de Verão, para funcionar na capital
sergipana. No Governo de Pereira Lobo – 1918 – 1922, o Estado adquiriu o
terreno, fez o projeto, contratou a obra, mas nada feito. No terreno, poucos
anos depois, foi construído o Palácio da Intendência, hoje Prefeitura, na praça
Olímpio Campos.
Havia, na virada do século, um pequeno teatro, o São José,
bastante acanhado para promover a vinda das Companhias que, aquele tempo,
excursionavam pelos Estados do País. Foi então que o comerciante italiano
Nicolau Pungittori, morador antigo de Sergipe, construiu com seus próprios
recursos o Teatro Carlos Gomes, com 400 lugares, distribuídos em bancos de 10
cadeiras, 30 camarotes e 150 torrinhas. Estava pronto para ser inaugurado em 4
de abril de 1904, e para funcionar como casa de espetáculos, aberta ao
movimento artístico aracajuano.
O nome do Teatro homenageava o compositor e maestro paulista
Antônio de Carlos Gomes, (1836 – 1896) um dos mais notáveis artistas
brasileiros, empenhado nas campanhas nacionais mais importantes, como a
abolição da escravatura. Carlos Gomes musicou um poema do laranjeirense
Bitencourt Sampaio – Quem Sabe -, que se tornou a modinha referencial do
cancioneiro brasileiro. Com o nome de Teatro Carlos Gomes a casa de Nicolau
Pungittori chegou a 1913, quando ampliou a sua função e mudou de nome.
O cinematógrafo é um aparelho de captação e projeção de
imagens, desenvolvido a partir de 1890 por Marey, Edison e pelos Irmãos
Lumiere. A novidade rapidamente correu mundo e em 1903 há registro de uma
demonstração em Aracaju. Empresários passaram pela capital sergipana e exibiram
as imagens do cinematógrafo, atraindo um público curioso. Fez sucesso em
Aracaju, por exemplo, o cinematógrafo dos irmãos Pathé, que entraram para a
história do cinema com filmes pioneiros em Paris, alguns deles apresentados por
cartazes desenhados pelo sergipano de Laranjeiras Cândido Faria, um dos mais
completos artistas do seu tempo.
Coube, no entanto, ao major Alcino Fernandes de Barros, que
foi Intendente de Aracaju nos anos de 1906 e 1907, instalar no Teatro Carlos
Gomes, em 1913, um cinematógrafo, e trocar o nome para Cine – Teatro Rio Branco,
em homenagem ao Barão do Rio Branco, Chanceler do Brasil, falecido no final de
1912. Por coincidência foi também no mês de abril, que Aracaju passou a contar
com um Teatro, que também era cinema e que oferecia os seus espaços internos
para eventos musicais, escolares, cívicos, políticos, e outros que serviam para
mostrar artistas, produções e público nas primeiras décadas da vida aracajuana
do século XX.
Em 1920, quando das grandes festas que celebraram o
Centenário da Emancipação Política de Sergipe a fachada do Cine – Teatro Rio
Branco foi toda remodelada, e seu interior ganhou alterações ampliadoras, para
receber mais e melhor os freqüentadores. Já havia sido constituída uma nova
firma – J. Barreto & Cia, para levar adiante o Cine – Teatro Rio Branco. No
9º aniversário do Cine – Teatro, 12 de abril de 1922, a casa era dirigida por
José Barreto de Mesquita, o Juca Barreto, que manteve-se a frente do
empreendimento até a década de 1970, deixando a responsabilidade com o seu
irmão, o poeta e escritor Paulo Barreto Mesquita.
O Cine – Teatro Rio Branco não era mais o único espaço
público de divertimento e de cultura. O salão superior do prédio da Biblioteca
Pública, atual Câmara de Vereadores de Aracaju, era muito usado para reuniões
solenes, recitais, conferências e apresentações. Na década de 1930, com a
construção do novo prédio da Biblioteca Pública, na praça Fausto Cardoso, onde
hoje está o Arquivo Público do Estado de Sergipe, o salão do 3º andar foi
bastante ocupado com espetáculos, concertos, reuniões, conferências, e outros
eventos artísticos, literários e culturais. O mesmo aconteceu com o prédio do
Instituto Histórico e Geográfico, com suas salas térreas e seu grande
auditório, sediando a Academia Sergipana de Letras e outras instituições
sociais, como espaço cultural requisitado. Até mesmo os outros cinemas, como o
Vitória, cedia seu palco e suas cadeiras para shows e eventos que atraíam
grandes públicos.
O Rio Branco, no entanto, continuou sendo o mais importante
dos espaços aracajuanos, porque mantinha com regularidade as três funções
básicas de sua história: a função teatro, que chegou praticamente aos anos
setenta; a função cinema, que foi predominante e varou o tempo, ainda que
mesclada pela onda pornográfica dos últimos anos; e a função cívica, social e
cultural, com eventos marcantes que mobilizaram as diversas gerações de
sergipanos.
Um Memorial do Rio Branco está sendo preparado para contar a
história de 100 anos de uma casa de espetáculos, que já foi chamada de “Salão
Nobre” de Aracaju, resgatando as suas funções e organizando com peças,
iconografia, filmes e equipamentos modernos um ambiente para visita, pesquisa,
estudo e apresentações. Os proprietários, liderados pela Construtora CELI,
estão empenhados em dotar a capital sergipana de um espaço capaz de recriar a
história não apenas da casa, mas das artes e dos fatos que ela abrigou, na sua
relação com o público.
Nada mais oportuno, abrindo o ano de evocações de Aracaju,
feita cidade e capital no dia 17 de março de 1855, há quase 150 anos. Serão
duas, então, as comemorações: 100 anos do Rio Branco, em 2004, 150 anos de
Aracaju, em 2005. Já é tempo, como dá exemplo a Construtora CELI, de abrir a
temporada de júbilo pelo sesquicentenário da obra de Inácio Joaquim Barbosa, o
presidente que deu a vida pela sua idéia e ligou-se, definitivamente, a
Sergipe, a história e ao futuro dos sergipanos.
Texto reproduzido do site: usuarioweb.infonet.com.br/~osmario
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