Publicado originalmente no site do jornal Diário do Nordeste, em 14.10.2012
A História dos Filmes Polêmicos da década de 60.
Por Editor DN.
Na década das mudanças mais marcantes da História da
Civilização, o cinema não só acompanhou, mas influenciou a nova visão que o
mundo exigia e a qual foi percebida por uma juventude que se postou
revolucionária. Os hippies, digo, os filhos dos ricos da América (como gosta de
ser chamada a nação que criou Hollywood) saíram da tutela e da subjugação aos
pais e botaram os pés na estrada bradando o rock and roll e o amor livre; a
mulher estadunidense, por sua vez influenciada pelas europeias em confronto e
busca de liberdade conforme expostas pelos filmes da Nouvelle Vague também
faziam a sua parte nas mudanças impondo a liberalidade sexual; e as guerras e
ditaduras eram alvos de combate em várias partes do mundo. E, teve ainda, os
Beatles, Rollings, os filmes ousados da França e da Inglaterra, a consciência
da inaceitabilidade do racismo, o cinema europeu adentra o social, a política e
o sexo e abre caminho para que Hollywood, influenciado pela nouvelle vague, com
uma nova geração de cineasta e produtores, também acompanhe as mudanças… Ah,
uma época como nenhuma outra…
MUNDO CÃO (Mondo Cane, Itália, 1972), de Paolo Cavara,
Gualtiero Jacopetti e Franco Prosperi. 108 minutos.
Quando lançado no Festival de Cannes, a crítica o denominou
de shockdocumentary, ou seja, “documentário chocante”, pelo seu autêntico
apanhado de bizarrices, incríveis, depravadas e chocantes, protagonizadas pela
raça humana. Apesar dos protestos, foi premiado na Itália com o David Di
Donatello (o Oscar de lá), abriu uma janela para o documentário e foi
exaustivamente copiado.
LOLITA (Lolita, Inglaterra/EUA, 1962), de Stanley Kubrick,
com Sue Lyon e James Mason. 152 minutos.
Baby Doll reapareceria 6 anos mais tarde na adaptação do
célebre e odiado romance Lolita, de Vladimir Nabocov (1899-1977), lançado em
1955 e então alvo de protestos de entidades conservadoras. Enquanto Kubrick
(1928-1999) questiona a pretensa inocência da juventude, milhares de pessoas e
entidades protestaram contra a adaptação da história em que um homem mais velho
deseja uma adolescente de 14 anos. Livro e filme foram vítimas da lei criada no
século 19 que estabeleceu a pedofilia como crime.
A BATALHA DE ARGEL (La Battaglia di Argeri, Itália, 1966),
de Gillo Pontecorvo, com Brahim Hadjadi, Jean Martin e Yacef Saadi. 121
minutos.
Baseado em fatos históricos da guerra da Argélia no período
1964-1962, quando o país lutou contra o colonizador francês, provou confrontos
entre radicais argelinos e franceses logo após o seu lançamento. Obra
fundamental do cinema político. Na França, liberado em 1979 e logo em seguida
proibido, continuou censurado até 2004, mas raramente conseguiu alguma
exibição, o que ocorreu fora do circuito. As cenas de tortura foram cortadas
nas cópias exibidas nos EUA e no Reino Unido. Em 2003, foi exibido no Pentágono
para oficiais e especialistas que discutiam as dificuldades militares no
Iraque. O tema era: como vencer a batalha contra o terrorismo e perder a guerra
de ideias.
A RELIGIOSA (Suzanne Simonin, Le Religieuse, França, 1966),
de Jacques Rivette, com Anna Karina, Micheline Presle e Wolfgang Reichman. 135
minutos.
O romance de Denis Diderot (1713-84), escrito em 1780 e só
publicado após a sua morte, teve uma adaptação que ganhou dimensão de choque e
escândalo junto aos religiosos europeus. Proibido na França após uma série de
protestos e quando 12 mil cartas chegaram ao Ministério da Informação pedindo a
sua retirada de cartaz sob a acusação de anticristão e difamatório – no que foi
atendido pelo governo do militar Charles DeGaulle -, o filme só retornou um ano
depois. O produtor, indiciado judicialmente, saiu inocentado. O enredo aborda o
drama de uma jovem obrigada a entrar para um convento e se deparar com uma
Madre Superiora lésbica. Aqui no Brasil, foi liberado, mas com vários cortes.
BONNIE & CLYDE – UMA RAJADA DE BALAS (Bonnie &
Clyde, EUA, 1967), de Arthur Penn, com Warren Beatty, Faye Dunaway, Gene
Hackman e Estelle Parsons. 111 minutos.
A Warner não acreditava no potencial do roteiro de David
Newman e Robert Benton, os quais romancearam a história de Bonnie Parker e
Clyde Barrow, assaltantes de bancos e criminosos que aterrorizou os estados
centrais dos EUA na década de 30, época em que o país vivia a Grande Depressão
econômica, tanto que ofereceu a Warren Beatty, um novato que chegava ao estúdio
com potencial de ser galã, o cargo de produtor e ator, motivado pela oferta de
60% da bilheteria. Influenciado pela nouvelle vague francesa, logo que
ingressou nos cinemas foi alçado à polêmica sob a acusação de glorificar 2
assassinos, além de exacerbar a violência. No entanto, a discussão só serviu
para elevar o filme ao conhecimento do público, o qual o transformou em um
grande sucesso de bilheteria – e Warren Beatty em milionário. Sua renda chegou
aos US$ 70 milhoes.
A TRITEZA E A PIEDADE (Le chagrin et la Pitié, França,
1969), de Marcel Ophuls. Montado em 2 partes: O Colapso (L’effondrement), com
122, e A Escolha (Le Croix), com 129 minutos.
Lançado logo o movimento estudantil de maio de 1968 na
França, este documentário de Marcel Ophuls, 86, é hoje uma raridade em termos
de cinema político, sendo um dos pouquíssimos registros do colaboracionismo
francês ao nazismo, uma vergonha histórica para a nação européia. Demolidora de
mitos, mostra que a população resistiu aos invasores, mas as autoridades, não.
É uma visão contundente da época na qual Klaus Barbie (1913-91), cognominado O
Açogueiro de Lyon, oficial da Gestapo, que cometeu torturas horrendas,
perseguiu e capturou judeus franceses para enviá-los aos campos de concretação.
Utilizando-se de imagens de arquivos, Ophuls registra depoimentos de oficiais
alemães, colaboracionistas, membros da resistência francesa, pessoas do governo
da época, muma tentativa de compreensão os motivos do colaboracionismo. Políticos
gaulistas e setores da inteligência acusaram o filme de antipatriótico.
Acredite: o filme está inspirando a Comissão da Verdade brasileira.
Z (Z, França-Argélia, 1969), de Costa-Gavras, com Yves
Montand, Irene Papas e Jean-Louis Trintgnant. 127 minutos.
Tendo por base o romance homônimo do escritor grego Vassilis
Vassilikos, Costa-Gavras fez este pungente e agressivo thriller sobre a
ditadura militar que controlou a Grécia de 1967 a 1974. O enredo aborda o
assassinato de um político liberal de esquerda, cuja investigação é obstruída
pelos militares, os quais protegem os responsáveis pelo crime. Proibido no
Brasil pela Junta Militar, só veio a ser liberado em 1980.
Texto e imagens reproduzidos do site: blogs.diariodonordeste.com.br
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