sábado, 3 de novembro de 2018

Artigo: O que O diabo veste Prada pode ensinar

Imagem postada pelo blog para ilustração artigo.

Texto publicado originalmente no site do jornal Tribuna do Paraná, em 10/11/2006

O que O diabo veste Prada pode ensinar
Maria Bernadete Pupo

Recém-formada em jornalismo, Andrea Sachs muda-se para Nova York em busca de um emprego como articulista em alguma revista da cidade. Acaba conseguindo trabalho na revista de moda Runway, como assistente de Miranda Priestly, a poderosa chefe de redação do periódico. A divertida história do filme O diabo veste Prada é, também, uma aula de recursos humanos. Há situações que envolvem desde o momento da seleção, as dificuldades no ambiente de trabalho, como lidar com os grupos informais, até a gestão de pessoas e estilos de liderança.

A postura da personagem Andrea durante a entrevista de emprego é inadequada ao perfil da vaga e ao ambiente. Ela sequer pesquisou com antecedência a organização para a qual se candidatara. Fica, pois, desconcertada quando Miranda lhe pergunta se conhecia a revista Runway. O caso fictício serve de alerta: a busca por emprego requer planejamento e foco. No início da entrevista, Andrea diz: Enviei currículo para todo mundo e fui chamada por vocês?, ou seja, atirou para todos os lados. O planejamento pode evitar a exposição desnecessária e mais dissabores.

No final da entrevista, num golpe de sorte, a candidata acaba conseguindo a vaga – totalmente diferente do seu emprego dos sonhos. A função tem atrativos fabulosos (pelos quais um milhão de fashionistas? era capaz de dar a vida) e dificuldades imensas.

Passada a surpresa inicial, Andrea demonstra qualidades indispensáveis para qualquer profissional que deseja sucesso no mundo corporativo: equilíbrio emocional para aceitar os ataques da colega Emily, além de maleabilidade e flexibilidade dentro de universo com o qual não se identificava (divas da moda magérrimas, batendo seus saltos altos pelos corredores da redação). É um exemplo de que as pessoas são adaptáveis e, quando querem, conseguem superar os próprios limites. Depois que Andrea foi colocada frente ao desafio, recusou-se a fracassar, um ponto fundamental para quem deseja vencer.

No entanto, como assistente pessoal de Miranda, Andrea vê-se forçada a suportar toda uma série de abusos, realizando tarefas como encomendar-lhe o almoço, tratar-lhe da roupa suja, fazer-se de motorista para a cadelinha, preparar-lhe as viagens… A funcionária é obrigada a estar disponível à chefe nas 24 horas do dia, sem jamais receber um elogio. Para piorar, a arrogante e insegura assistente Emily, que enxerga em Andrea uma ameaça ao seu emprego, lhe atribui críticas e menospreza suas habilidades – problemas a que todos estamos sujeitos, principalmente no início do emprego. Ao final Andrea consegue conquistá-la (outra habilidade necessária para manter o bom relacionamento interpessoal no dia-a-dia).

Diante do abuso de poder praticado por Miranda (motivo que, no mundo real, tem rendido uma série de processos para as organizações por assédio moral), Andrea acaba anulando sua vida pessoal na medida em que os pedidos da chefe, sempre emergenciais, tornam-se cada vez mais absurdos, a qualquer hora do dia ou da noite. Ela se adapta de tal forma que vive uma mudança radical, tanto física quanto comportamental.

Nota-se que a jovem personagem tinha obsessão pela sua carreira. Quando percebe que poderia transformar todos aqueles desafios em oportunidades, doa-se de corpo e alma. Talvez ainda não tivesse entendido que para isso tudo tinha um preço a pagar. A pergunta é: será que um ano de sacrifício ao serviço de um diabo que veste Prada não é um preço demasiadamente alto? Este é um drama presente na vida de muitas pessoas.

O filme ensina, além da importância da preparação na busca de um emprego, que nem tudo vale a pena para mantê-lo. Perseverança, dedicação, humildade, seriedade e honestidade são fatores muito relevados no mundo corporativo, mas nada deve ultrapassar o limite de nossa dignidade e integridade.

Maria Bernadete Pupo é gerente de RH do Centro Universitário Fieo (Unifieo), em Osasco (SP).

Texto reproduzido do site: tribunapr.com.br

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