Texto publicado originalmente no site da GAZETA DO POVO, em 7 de
abril de 2012
O comediante, produtor e diretor, um dos nomes mais
populares na história do cinema brasileiro, viveu em Curitiba quando garoto.
Ele completaria 100 anos amanhã se estivesse vivo
Por Paulo Camargo
Cronologia
Saiba mais sobre a vida e a carreira de Mazzaropi:
1912 Amácio Mazzaropi nasce no dia 9 de abril, em São Paulo
1926
Aos 14 anos, começa a viajar com um circo, mas
volta para a casa dos pais, em Taubaté, três anos mais tarde.
1931
Torna-se diretor e o principal ator em um teatro de um convento de Taubaté.
1935
Convence toda a família a entrar para a trupe. Cria o
Teatro de Emergência um
barracão de tábuas
corridas, coberto de lona.
1944
Uma doença do pai consome o dinheiro de Mazzaropi,
e ele dissolve a trupe.
1945
Transfere seu pavilhão de teatro para a cidade de São Paulo e passa a morar no Tucuruvi. Assina contrato com o
Teatro Colombo.
1946
Faz seu primeiro programa de rádio, o
Rancho Alegre, onde cantava e contava piadas. O sucesso lhe rende o segundo
show, Brigada da Alegria. No mesmo ano, começa a trabalhar com Hebe e, mais
tarde, com Dercy Gonçalves
1950 É convidado para fazer um show de humor no primeiro canal de
tevê brasileiro, a TV Difusora de São Paulo.
1951
Faz o primeiro programa da TV Tupi, do Rio de Janeiro, O Maior Caipira do Rádio Brasileiro.
1951 É chamado para um teste na Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Com 39 anos, Mazzaropi faz o primeiro filme,
Sai da Frente.
1958
Vende tudo o que tem para criar sua própria produtora, a Pam Filmes, lança
Chofer de Praça e passa a cuidar do lançamento e distribuição.
1959-1962 Sob o comando de José Bonifácio de Oliveira, o Boni, Mazzaropi comanda um programa de
variedades na TV Excelsior de São Paulo.
1960
Estreia Jeca Tatu. Pouco depois, assume a direção
pela primeira vez no longa As Aventuras de Pedro Malasartes.
1961 É lançado seu 12.º filme, Zé do Periquito e inicia a construção do primeiro estúdio. Também estreia o primeiro filme colorido da produtora, Tristeza do Jeca .
1974-1978 Produz e lança uma série de filmes com o personagem Jeca Tatu: O Jeca Macumbeiro,
Jeca contra o Capeta, Jecão... Um Fofoqueiro no Céu, O Jeca e Seu Filho Preto e A Banda das Velhas Virgens.
1979 Já bastante debilitado pela septicemia, roda seu último filme, O Jeca e a Égua
Milagrosa. Chega a começar a produção
de Maria Tomba Homem.
1981
Morre em São Paulo, aos 69 anos.
Amácio tinha 12, 13 anos quando o pai, Bernardo, preocupado
com a vontade crescente do garoto de virar artista de circo e cair no mundo,
tomou uma decisão radical: enviá-lo para passar uns tempos com o avô paterno, o
italiano Amázzio Mazzaropi, de quem herdara o nome e que morava em Curitiba,
onde era proprietário de uma loja de tecidos na Rua XV de Novembro, coração da
cidade.
Segundo a biografia Sai da Frente!, assinada pela jornalista
carioca Marcela Matos e publicada pela editora Desiderata, Amázzio recebeu o
neto com entisiasmo e carinho. Queria proporcionar a ele os mimos e o conforto
que, em tempos mais difíceis, não havia conseguido oferecer aos filhos. O
pré-adolescente, no entanto, não revelou grande talento para o comércio, e mal
conseguia diferenciar um tecido do outro.
Em compensação, o guri virou a atração da loja, entretendo
os fregueses com suas hilárias imitações. Já famoso, o comediante, que faria
nesta segunda-feira, dia 9 de abril, 100 anos, lembraria em uma entrevista sua
experiência curitibana nos anos 20: "Eu vendia fazendo pose, imaginando
uma câmera. Tinha isso no sangue..."
Embora tenha aprendido um tanto sobre o dia a dia de uma
loja, a tentativa de dissuadi-lo de fazer graça e virar artista foi inócua.
Passados três meses, Mazzaropi despediu-se das casimiras e das gabardines em
Curitiba e voltou para Taubaté, no interior de São Paulo, para encontrar o seu
destino.
Independência
Um dos grandes nomes do humor no Brasil, e integrante do
seleto grupo de comediantes clássicos do cinema nacional, ao lado de Oscarito,
Grande Otelo, Ankito e Renato Aragão, Mazzaropi era jeca só na ficção.
"Ele era um homem refinado. Quando o chamaram para fazer teste na Vera
Cruz, esperavam que aparecesse um caipira rústico. Foi vestido com um terno bem
cortado, lenço de seda", conta a biógrafa Marcela Matos, em entrevista à
Gazeta do Povo.
O ano era 1951 (leia cronologia nesta página) e o
comediante, já um nome conhecido do rádio e da televisão, estrelou seu primeiro
longa-metragem Sai da Frente. Embora já tivesse encarnado um tipo interiorano,
e fizesse sucesso no programa O Maior Caipira do Rádio Brasileiro, que estreou
no mesmo ano na TV Tupi, seu personagem no filme era urbano, ainda que com
traços dos principais papéis vividos pelo comediante, sempre algo ingênuos, mas
também espertos e resmungões: Isidoro, dono de um caminhãozinho, cujo apelido é
Anastácio. Seu principal amigo é um cão chamado Coronel, interpretado pelo cão
Duque, famoso astro da Vera Cruz.
Produtor
O primeiro "encontro" de Mazzaropi com Jeca Tatu,
o tipo rural, atrasado e submisso criado por Monteiro Lobato em sua obra Urupês
(1918), aconteceu em 1960, quando estrelou o filme que leva o nome do
personagem, que passaria a ser sua persona mais popular. Dois anos antes,
depois de já ter feito filmes com a Vera Cruz e outros estúdios, o ator havia
dado um passo importante, ao criar a Pam Filmes, que passou não só a produzir,
mas a lançar e distribuir seus filmes.
"Nesse aspecto, o Mazzaropi foi um visionário, um
empreendedor exemplar. Ele controlava tudo com extremo cuidado. Em 1960, ele
começa a dirigir [As Aventuras de Pedro Malasartes] e passa a ter controle
total sobre sua carreira, acompanhando a distribuição e a renda de seus filmes,
para ter certeza de que o dinheiro chegaria a seu bolso", conta Marcela,
lembrando que as fitas chegavam aonde as linhas férreas do país alcançassem, e
o comediante, para garantir a circulação de seu catálogo, forçava os exibidores
a reprisar títulos mais antigos se quisessem lançar os novos.
"Ele se autofinanciava, procurando fazer um filme por
ano, guardando parte da renda acumulada de um para produzir o outro, e também
investindo em equipamentos", diz a jornalista, lembrando um período na
década de 70 quando os longas estrelados e dirigidos por Mazzaropi, como Jeca
Macumbeiro, Jeca e Seu Filho Preto e Jeca contra o Capeta, levavam mais de 3
milhões de espectadores aos cinemas, rivalizando com blockbusters
norte-americanos. Quando faleceu, em 1981, de câncer na coluna vertebral,
deixou um estúdio moderno, instalado em Taubaté, hoje transformado em museu e
hotel.
Texto reproduzido do site: gazetadopovo.com.br
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