segunda-feira, 10 de julho de 2023

Crítica | Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1



Crédito das fotos: Reprodução/Paramount Pictures

Publicação compartilhada do site O VÍCIO, de 10 de julho de 2023

Crítica | Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1

Por Ramon Vitor * 

Se já havia assumido o propósito de defender as pessoas e suas experiências em Top Gun: Maverick (2022), Tom Cruise deu um passo além com Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 (2023), se colocando na linha de frente contra os abusos de uso da inteligência artificial.

Arranhando a superfície de conceitos brilhantemente trabalhados por James Cameron em O Exterminador do Futuro nos 80/90, o diretor Christopher McQuarrie e equipe não poderiam ter sido mais felizes com o timing de lançamento do novo filme da franquia.

Em meio a uma greve de roteiristas, em que grande parte da discordância com os estúdios é relacionada ao uso abusivo de “robôs” para criação de conteúdo, Missão: Impossível 7 evita ser mais um filme de espionagem genérico, não só pela discussão que gera, mas também por fugir das repetidas histórias sobre desativar bombas atômicas ou armas químicas.

Este é um filme sobre propósito, que evidencia o quanto uma pessoa pode se transformar de forma poderosa quando encontra o seu.

Como Ethan (Tom Cruise) já tem o seu propósito muito bem estabelecido nos seis filmes anteriores, o roteiro inteligentemente nos leva em uma viagem até a origem do agente, para que possa desenvolver a jornada de Grace.

Funcionando quase como um espelho do protagonista, a personagem de Hayley Atwell é definitivamente o coração da trama. É nela que o filme se escora na sua própria busca pelo propósito necessário para justificar sua existência como evento.

Para não dizer que o desenvolvimento da jornada de Grace é todo redondinho, existe uma tentativa de estabelecer um romance, que de certa forma até funciona, mas de modo atropelado. Provavelmente, algumas pessoas vão ter dificuldade de acreditar em um diálogo importante do filme por causa disso.

Os outros coadjuvantes não tiveram a mesma sorte de Atwell, como já é comum na franquia, que desde sempre tende a se concentrar em desenvolvimento apenas no personagem de Tom Cruise. Apesar de isso ser comum, é realmente uma pena que o roteiro não tenha trabalhado tão bem com Pom Klementieff.

Com um visual incrível e uma atuação impressionante, Klementieff é um dos destaques do filme devido ao conceito apresentado para sua personagem. Na melhor das intenções, McQuarrie tenta reconhecer o trabalho da atriz, dando a ela um papel relevante no ato final. Infelizmente, tal qual o romance de Grace, a jornada da “ninja” Paris acaba ficando atropelada.

O mais curioso disso é que, enquanto precisa de mais tempo para desenvolver melhor alguns coadjuvantes, Missão: Impossível 7 gasta mais do que deveria com um primeiro ato um pouco arrastado.

O filme demora alguns minutos para pegar no tranco por causa de um probleminha na montagem. Abrir mão de algumas cenas pouco necessárias para o corte final talvez fosse um caminho. Por exemplo, uma sequência que não precisava estar ali é a primeira, que por mais que sirva para apresentar a grande vilã da história, poderia tranquilamente ser um flashback de abertura para Acerto de Contas Parte 2.

Como já visto em materiais promocionais, a trama gira em torno da busca por uma chave, que ninguém além dos vilões sabe o que abre, exceto o público, que assiste o item sendo usado na sequência de abertura. Ao manter isso no filme, McQuarrie prejudica até mesmo o clima de mistério que o roteiro tenta criar em volta de seu grande MacGuffin.

Se o diretor derrapa no desenvolvimento de coadjuvantes e na montagem, o mesmo não pode ser dito para o trabalho nas cenas de ação e suspense. Contando com a colaboração de Eddie Hamilton (Top Gun: Maverick), McQuarrie entrega algumas das sequências mais tensas e imersivas da franquia, com destaque para a do trem, que é impressionante desde o primeiro frame exibido.

Por mais que a montagem seja um pequeno problema, Missão: Impossível 7 definitivamente consegue encontrar e manter um ritmo alucinante, que mescla muito bem os momentos de drama, ação e comédia.

Aliás, é importante destacar que de todos os filmes que saíram como Parte 1 recentemente, este definitivamente é o que melhor resolve o momento da divisão para a Parte 2, tendo três atos como é convencional.

Em meio aos três atos, McQuarrie conta com os auxílios do diretor de fotografia, Fraser Taggart (Dead Fish: Um Dia de Cão), e do designer de produção, Gary Freeman (Malévola), para ter êxito na tentativa de causar sentimentos específicos no público, como o temor de estar em queda livre em meio a montanhas, e a crise claustrofóbica de lutar em um corredor muitíssimo curto.

As cores, os visuais, os cenários, tudo está em completa harmonia parar fazer o que é o propósito básico de qualquer obra de arte, que é gerar emoção.

A emoção gerada pelo filme é totalmente fruto do amor que seus realizadores têm pelo cinema. De alguns anos para cá, Tom Cruise e Christopher McQuarrie não trabalham na indústria de Hollywood focando apenas no lado comercial, mas principalmente nas pessoas, na experiência e no valor delas. Este foi o propósito de vida que eles encontraram desde que começaram a trabalhar juntos.

Pensando principalmente na experiência do público, a dupla fez questão de impressionar não só pelas cenas de ação espetaculares, mas também pela boa e intimista história escrita, que nenhuma máquina seria capaz de criar.

Em síntese, Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 traz Tom Cruise brilhantemente reafirmando seu propósito de lutar pelo valor das pessoas, em meio a perseguições impressionantes, manobras arriscadas e coreografias deslumbrantes. Achando sua alma neste processo, a produção se coloca como séria candidata ao título de “filme do verão norte-americano“.

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* Estudante de Jornalismo, Engenheiro Civil e Gerente de Conteúdo do O Vício. 

Texto e imagens reproduzidos do site: ovicio com br/critica

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