quarta-feira, 26 de junho de 2024

“O Candelabro Italiano” (1962), de Delmer Daves

Texto compartilhado do site DEVO TUDO AO CINEMA, de 22 de dezembro de 2020

“O Candelabro Italiano”, de Delmer Daves

Por Octavio Caruso 

O Candelabro Italiano (Rome Adventure – 1962)

Durante uma viagem à Itália, a bibliotecária Prudence Bell (Suzanne Pleshette) se envolve com dois homens muito diferentes. Roberto (Rossano Brazzi) é um galanteador mais velho e Don (Troy Donahue) é um arquiteto de idade próxima a sua, que tenta sair de um relacionamento fracassado.

O mais comum ao ler textos modernos sobre a obra é encontrar ataques imbuídos em deboche, utilizando como argumento negativo o roteiro ser moralista, o conceito idílico do romantismo e da elegância jamais será compreendido por mentes doentias, vitimistas, complexadas e invejosas, que endeusam terroristas e que consideram vandalismo uma forma justificável de protesto.

O período refletido nesta pérola de Delmer Daves infelizmente se perdeu, empoeirado nas prateleiras da História, valorizado apenas por aqueles que o viveram em sua plenitude ou por jovens, como se costuma dizer, com “alma velha”.

Eu jamais aceitei o processo (consciente) de emburrecimento e bestialização da sociedade nas últimas décadas, respiro os tesouros culturais do passado desde a pré-adolescência, sinto intenso prazer no garimpo, e “O Candelabro Italiano” fez parte da minha fase inicial de aventuras pelas locadoras de vídeo.

A minha saudosa avó materna falava deste filme, ela tinha a trilha sonora em vinil, mas não costumava passar na TV (muito tempo antes das possibilidades da TV a cabo), logo, o título entrou na minha lista de raridades que buscava nas locadoras.

Naquela época, os apaixonados por cinema não ficavam sentados esperando alguém responder se tinha o filme na Netflix, nós literalmente preparávamos uma mochila com lanche, água, guias de vídeo, e pegávamos ônibus, trem, corríamos para tentar visitar o maior número de locadoras na cidade antes do horário de fechamento.

E, claro, neste processo mágico, conversávamos sobre o tema com atendentes, trocávamos informações (não existia internet), uma experiência inesquecível que fortalecia o amor pela arte. Hoje, as pessoas sentem preguiça de procurar informação no Google.

Após algumas tentativas frustradas, finalmente consegui encontrar o VHS, se não me falha a memória, lançado pela Tocantins Cine Vídeo.

Obviamente fiz uma cópia na época e guardei na coleção, normalmente colocava para rodar no aparelho nas festividades de final de ano, mas revendo hoje, para a preparação do texto, décadas depois, já em DVD, fiquei surpreso com o frescor da trama, o tempo foi muito generoso com o projeto, ou, talvez, o mundo atual de valores invertidos esteja tão horroroso e doentio que rever algo tão belo e puro seja verdadeiramente um necessário fortalecedor terapêutico.

O roteiro do próprio diretor adapta o livro “Lovers Must Learn”, lançado em 1932 por Irving Fineman, apoiando-se bastante no encantamento natural garantido pela beleza das locações italianas, captadas com o refinamento usual da fotografia do grande Charles Lawton Jr. (de “A Dama de Shanghai”, de Orson Welles), e no arrebatador carisma do trio principal, (a estreante) Suzanne Pleshette, Rossano Brazzi e Troy Donahue.

A cena inicial, elemento curioso, já é um enfrentamento direto aos críticos de ontem e de hoje, posicionando a protagonista aceitando um debate franco com senhoras do comitê escolar, sofrendo por ter indicado à uma aluna um livro (o material que originou o filme) considerado adulto demais (“a mãe da aluna colocou tanta maldade nas relações íntimas entre homens e mulheres, que achei que este livro pudesse ajudá-la”), uma das oradoras chega a problematizar a palavra “amantes”.

Ela considera a palavra obscena, atitude que recebe uma resposta certeira, que pode ser facilmente direcionada às feministas de hoje, Prudence (Pleshette) defende que é importante que as jovens leiam a obra para que não se tornem mulheres mal-amadas e solitárias que demonizam os homens.

A sábia bibliotecária entende que há beleza no amor, até mesmo quando o relacionamento não dá certo, e que seres humanos são falíveis, não é monopólio de um gênero, aqueles que segregam e instigam conflitos nesta seara são espíritos de porco, vazios, tristes, facilmente utilizados nas páginas da História por regimes totalitários como patética massa de manobra.

Ela abandona então a monótona cidade e seu sonho acadêmico, partindo rumo à Itália, local que, aos seus olhos, exala romance e doçura. O que se segue é a clássica estrutura do triângulo amoroso melodramático que a Hollywood da era de ouro sabia fazer tão bem, com muitas idas e vindas que conduzem ao adorável final feliz, não há nada inesperado, nem é esta a proposta, apenas momentos acalentadores com diálogos espirituosos.

O candelabro de ouro puro do bonito título brasileiro (superando o genérico original) é comprado pelo jovem Don (Donahue) como símbolo da integridade do sentimento que nutre por Prudence, elemento que ganhará ainda mais relevância alegórica no sensível desfecho.

“Muito além do bem mais precioso, está você, muito além do sonho mais ambicioso, está você, muito além das estrelas e das coisas mais belas, está você.”(Al di là, composta por Carlo Donida e Mogol, cantada por Emilio Pericoli)

Texto reproduzido do site: www devotudoaocinema com br



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