Infonet - Cultura - Especial - 09/05/2012.
Os cinemas aracajuanos sob a vigilância do DIP.
A autora do artigo é a doutoranda Andreza Maynard*
Entre o fim da década de 1930 e o início dos anos 1940,
Aracaju contava com um número razoável de cinemas. Dentre eles o Rio Branco,
Guarany, São Francisco, Rex, Vitória, Tupy e o cinema operário. Os
cines-teatros, como eram chamados, se constituíram em espaços de diversão e
informação, pois além de exibir filmes, eram obrigados a incluir em sua
programação os complementos nacionais - filmes produzidos pelo Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP) para promover o Estado Novo. O órgão nacional era
representado em Sergipe através do Departamento Estadual de Imprensa e
Propaganda (DEIP).
As salas de cinema foram utilizadas na construção de imagens
positivas para um regime antiliberal, autoritário, centralizador, marcado por
um culto à personalidade do seu ditador, Getúlio Dornelles Vargas. Contudo o
cinema possuía outras qualidades. Em Sergipe, por exemplo, ele também se
apresentou como um local onde ocorreram várias confusões. Sair de casa para
assistir a um filme propiciava interações sociais na medida em que as pessoas
se encontravam, fofocavam e paqueravam nos cines.
Eram constantes as reclamações a respeito dos gritos e
assobios que vinham das “gerais”. As queixas partiam dos ocupantes das
“cadeiras”. Geralmente o mal-estar se dava entre os participantes desses dois
grupos: os ocupantes dos assentos das “gerais” e os das “cadeiras”. Quando o
cinema escurecia começava a provocação. Pessoas falavam alto, batiam os pés,
assobiavam, atiravam objetos. Mas o pior é que, além disso, alguns
frequentadores, que já haviam assistido ao filme, começavam a dizer o que ia
acontecer. Para resolver o problema se exigia o aumento do número de policiais
que deveriam vigiar as sessões cinematográficas.
Num contexto em que o mundo de amanhã se traduzia nas telas
dos cinemas, esperava-se uma conduta ordeira por parte dos frequentadores dos
cines-teatros. Mais do que isto, desejava-se que a massa de frequentadores
fosse controlável. O DIP procurava traduzir as mensagens do Estado Novo através
dos documentários e cinejornais, mas nem sempre a população aracajuana refletiu
a obediência tão apregoada pelos ideais do Estado Novo.
*Doutoranda em História UNESP/Bolsista CAPES/ Integrante do
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS). E-mail: andreza@getempo.org
Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/cultura
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