Foto: Fabio Seixo
Publicado originalmente no Facebook/Nirton Venancio, em 15/05/2018
O Cinema de Roberto Farias
O Cinema de Roberto Farias
Em 2015, o cineasta e produtor Roberto Farias foi o homenageado no 14º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, evento organizado anualmente pela Academia Brasileira de Cinema, que tem votação dos profissionais da área para aqueles que se destacaram em cada categoria.
No começo da década de 60, Farias dirigiu um dos mais
importantes filmes da história do nosso cinema, “Assalto ao trem pagador”, com
roteiro de Luiz Carlos Barreto e Alinor Azevedo, com narrativa próxima à
estética neorrealista, baseado no roubo ao comboio da Estrada de Ferro Central
do Brasil.
Sem desconsiderar a relevância dos seus primeiros filmes, o
trabalho pelo qual é sempre lembrado é o drama de ficção histórica "Pra
frente, Brasil", sobre o período de repressão da ditadura Médici, corajosamente
realizado quando Figueiredo foi presidente, 1982. Baseado em argumento do irmão
Reginaldo Faria e de Paulo Mendonça, o roteiro descia aos porões do regime
militar com audácia surpreendente, desafiando a censura e colocando à prova a
abertura política na área cultural. No ano "milagroso" de 1970 o
Brasil inteiro torcia com a seleção de futebol no México, enquanto prisioneiros
políticos eram torturados e inocentes vítimas de arbitrariedade. Todos esses
acontecimentos são vistos no filme pela ótica de uma família quando um dos seus
integrantes, um pacato trabalhador da classe média, é confundido com um
ativista político e "desaparece".
Afastado dos sets de filmagens desde final dos anos 80, e
dedicado à televisão nos anos 90, Roberto Farias é o cineasta que, como bem
apontou o crítico Inácio Araújo, ilumina a complexidade e contradições do
cinema brasileiro, fazendo sua trajetória desde a chanchada (“Rico ri à toa”,
“Um candango na Belacap”), passando pelo policial (“Assalto...”, “Cidade
ameaçada”), pela comédia (“Toda donzela tem um pai que é uma fera”), a aventura
musical (a trilogia com Roberto Carlos), o documentário (“O fabuloso
Fittipaldi”), e logo após o engajado “Pra frente, Brasil”, a comédia-paródia,
“Os Trapalhões no Auto da Compadecida”, seu último filme, e o mais sofisticado
da franquia do quarteto trapalhão.
Complexidade também quando durante o governo Geisel, assumiu
a direção da Embrafilme. A mesma que depois financiou “Pra frente, Brasil” e
gerou a demissão de Celso Amorim, então diretor do órgão.
Roberto Farias faleceu ontem, aos 86 anos, abatido pela
complexidade de um câncer.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Nirton Venancio
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