quarta-feira, 16 de maio de 2018

O Cinema de Roberto Farias

Foto: Fabio Seixo

Publicado originalmente no Facebook/Nirton Venancio, em 15/05/2018

O Cinema de Roberto Farias 

Por Nirton Venancio

Em 2015, o cineasta e produtor Roberto Farias foi o homenageado no 14º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, evento organizado anualmente pela Academia Brasileira de Cinema, que tem votação dos profissionais da área para aqueles que se destacaram em cada categoria.

No começo da década de 60, Farias dirigiu um dos mais importantes filmes da história do nosso cinema, “Assalto ao trem pagador”, com roteiro de Luiz Carlos Barreto e Alinor Azevedo, com narrativa próxima à estética neorrealista, baseado no roubo ao comboio da Estrada de Ferro Central do Brasil.

Sem desconsiderar a relevância dos seus primeiros filmes, o trabalho pelo qual é sempre lembrado é o drama de ficção histórica "Pra frente, Brasil", sobre o período de repressão da ditadura Médici, corajosamente realizado quando Figueiredo foi presidente, 1982. Baseado em argumento do irmão Reginaldo Faria e de Paulo Mendonça, o roteiro descia aos porões do regime militar com audácia surpreendente, desafiando a censura e colocando à prova a abertura política na área cultural. No ano "milagroso" de 1970 o Brasil inteiro torcia com a seleção de futebol no México, enquanto prisioneiros políticos eram torturados e inocentes vítimas de arbitrariedade. Todos esses acontecimentos são vistos no filme pela ótica de uma família quando um dos seus integrantes, um pacato trabalhador da classe média, é confundido com um ativista político e "desaparece".

Afastado dos sets de filmagens desde final dos anos 80, e dedicado à televisão nos anos 90, Roberto Farias é o cineasta que, como bem apontou o crítico Inácio Araújo, ilumina a complexidade e contradições do cinema brasileiro, fazendo sua trajetória desde a chanchada (“Rico ri à toa”, “Um candango na Belacap”), passando pelo policial (“Assalto...”, “Cidade ameaçada”), pela comédia (“Toda donzela tem um pai que é uma fera”), a aventura musical (a trilogia com Roberto Carlos), o documentário (“O fabuloso Fittipaldi”), e logo após o engajado “Pra frente, Brasil”, a comédia-paródia, “Os Trapalhões no Auto da Compadecida”, seu último filme, e o mais sofisticado da franquia do quarteto trapalhão.

Complexidade também quando durante o governo Geisel, assumiu a direção da Embrafilme. A mesma que depois financiou “Pra frente, Brasil” e gerou a demissão de Celso Amorim, então diretor do órgão.

Roberto Farias faleceu ontem, aos 86 anos, abatido pela complexidade de um câncer.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Nirton Venancio

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