Publicado originalmente no site Faxaju, em 29/06/18
Lembranças dos cinemas em Itabaiana
Por Professor José Costa
Uma das melhores lembranças que tenho da minha infância e da
juventude era de assistir a filmes, principalmente no Cine Santo Antônio, e
provavelmente da maioria dos itabaianenses que nasceram algumas décadas atrás.
Os meus filmes preferidos eram os de cowboy com Django, Sartana e Ringo
eternizados por suas músicas orquestradas, Mazzaropi, Tarzan e os chineses de
lutas e espada.
Para os que não conheceram ou frequentaram o Cine Santo
Antônio, também conhecido como cinema do padre, ele ficava no Edifício Pio XII
na Praça João Pessoa que também teve o estúdio da Rádio Princesa da Serra AM a
partir de 1978, onde hoje é o Supermercado Nunes Peixoto. O Cine Santo Antônio
era enorme com cadeiras de madeira e acolchoadas. Nas laterais ficavam algumas
portas grandes e largas, em cada lado existia um corredor onde as pessoas
ficavam se refrescando nos dias de calor enquanto aguardavam o início do filme
ou batendo papo com os amigos.
O Cine Santo Antônio foi marco cultural de Itabaiana, porque
além de exibir filmes também cedia seu espaço para eventos tais como: shows com
cantores nacionais, de calouros e político, a exemplo do lançamento da
candidatura de Djalma Lobo para deputado estadual.
Os filmes eram exibidos à noite e na matinê aos domingos.
Quando o público era insuficiente, o dinheiro do ingresso era devolvido, isso
aconteceu algumas vezes na sessão do domingo à tarde. Na frente do cinema eram
colocados cartazes do filme em exibição e lançamentos. Quando a pessoa passava
pela portaria adentrava a um salão onde ficavam expostos cartazes de filmes e
do lado direito tinha uma bomboniere que vendia balas, chicletes, drops,
pirulitos e guloseimas em geral. Um funcionário, Queixinho, era quem colocava
os cartazes dos filmes, inclusive em alguns pontos do centro da cidade, a
exemplo do Bar Simpatia.
Enquanto o público aguardava o início da película, ouvia
músicas orquestradas transmitidas nas caixas de som do cinema. Na matinê, as
portas laterais eram fechadas para que o ambiente ficasse escuro e a noite as
portas ficavam abertas, e quando as luzes eram apagadas, as pessoas gritavam de
euforia pelo início do filme. No início, passava um documentário do Canal 100,
principalmente sobre o futebol, depois passava os trailers de filmes que
entrariam em cartaz e finalmente iniciava o filme. Era comum ao término do
filme, as pessoas ficarem olhando o cartaz e as fotos na frente do cinema para
relembrar das cenas.
De tanto frequentar o Cine Santo Antônio ainda tenho
lembranças dos funcionários que trabalharam no período a exemplo do gerente
João Carteiro, que morava próximo a minha casa, Antônio Santana do Dnocs e seu
filho Dode, ambos trabalharam na bilheteria e portaria, Oseas e Mané Roló como
porteiros e Roberto, mais conhecido como filho de Deus, operador de máquina, o
que passava o filme e Queixinho.
Comecei assistir a filmes no cine Santo Antônio no final da
década de 60 até o início dos anos 90 quando o mesmo parou de exibir as
produções cinematográficas. A partir desta data, Itabaiana ficou sem um cinema
por causa da febre das locadoras de filmes e dos videocassetes e posteriormente
dos DVDs, já que quase todo mundo possuía um em sua casa.
Tenho lembranças de algumas situações que ocorriam durante
as exibições de filmes como: quando a fita do filme quebrava, o operador acendia
as luzes enquanto a consertava, e as pessoas impacientes pela demora ficavam
batendo as cadeiras de madeira até o reinício da exibição; igualmente ocorria
quando faltava energia durante a apresentação, e que às vezes a energia não
retornava e as pessoas recebiam o ingresso para voltar outro dia; quando o
filme era ruim as pessoas se levantam e iam embora antes do término, geralmente
o filme ficava um dia em cartaz, mas quando era bom, ficava a semana toda em
exibição; em algumas datas especiais, a exemplo da Sexta-feira Santa, o filme
passava em duas sessões seguidas com um ingresso apenas para quem quisesse
assistir.
Teve uma época que bastava mudar o cartaz e eu ia para o
cinema, para isso, ganhava alguns trocados pegando carrego com a carroça de mão
para Tonho cacetinho, que tinha uma bodega na esquina do Grupo Escolar
Guilhermino Bezerra, e ao fazer compras no mercadinho me chamava para ir
buscá-las. Também ajudei no bar de Gleide de Dedé de Tutu nos finais de semana
para ganhar algum dinheiro e poder ir ao cinema. Meu pai, Josias Costa, morreu
quando eu tinha 10 anos e minha mãe recebia a pensão e também trabalhava de
costureira, e o dinheiro era pouco.
Certa vez, pedi dinheiro a ela para assisti o filme de Mazzaropi, mas
como não tinha, disse que se recebesse o dinheiro de uma costura até à noite me
daria, mas com uma condição, eu tinha que varrer o quintal. Assim o fiz, e depois do café, naquela época
não falava jantar, a freguesa pagou-lhe e assim que ela me deu o dinheiro, saí
correndo para o cinema, pois sabia que seria casa lotada. Comprei o ingresso,
entrei e sentei em uma cadeira de madeira próxima ao corredor do lado direito e
ao lado de uma cadeira vazia, foi quando chegou um casal e propôs comprar o meu
lugar com o dinheiro correspondente a do ingresso, aceitei e assisti ao filme
sentado no batente de uma das portas. Enquanto assistia ao filme, fiquei
pensando no que fiz, pois deixei de sentar em um lugar confortável, e que,
talvez, mãe tivesse feito um sacrifício em me dá o dinheiro. Ao chegar em casa,
mãe estava costurando, coloquei a mão no bolso da bermuda e entreguei o
dinheiro a ela que perguntou se eu não tinha ido ao cinema, e respondi que sim.
Contando o que tinha acontecido, ela me entregou o dinheiro e disse que era meu
e gastasse como quisesse.
No palco do cine Santo Antônio, apresentavam-se vários
cantores de renome nacional da época e eu assisti a alguns shows, entre eles, o
de Ronnie Von, Marcio Greyck, Perla paraguaia, Waldick Soriano que geralmente
eram acompanhados por seus violinistas e pelas bandas sergipanas Brasa 10 e Los
Guaranis. Uma lembrança que tenho de um show foi quando eu ia para o cine Santo
Antônio e ao passar no bar de João Marcelo, na Praça João Pessoa, vi Waldick
Soriano tomando algumas doses de cachaça. Ele deve ter gostado bastante, pois
comprou algumas garrafas e ao passo que caminhava, ia cumprimentando as pessoas
que cruzavam com ele pela praça. Vizinha ao cinema, ficava a casa de Zeca Titia
onde o cantor pediu para que guardassem as garrafas dele até o término do show.
Durante um desses shows, o cantor oportunizou a Queixinho que cantasse para o
público com o seu violão, já que o mesmo gostava muito de cantar, mas
infelizmente o itabaianense não alcançou a profissão.
Também assisti filmes no Cine Arrojado, que ficava na Rua
Barão do Rio Branco, atualmente Lucy Decorações, e sem pagar, já que Arrojado
era amigo do meu pai e também me conhecia, pois eu vendia a serviço dele, os
escapulários de Nossa Senhora do Carmo, na Praça Fausto Cardoso, na comemoração
do dia da santa. O cinema era muito simples com um espaço dividido para
exibição de filmes e venda de frutas. O cinema tinha alguns bancos de madeira,
as pessoas que chegavam atrasadas assistiam ao filme sentadas no chão ou de pé.
No cine Popular, situado na Rua 13 de maio, onde atualmente
é a Rádio Princesa da Serra AM, assisti a poucos filmes, mas o que mais me
marcou foi O exorcista, filme de terror, e apesar de não ter a idade exigida
pela censura que era de 14 anos, o porteiro me conhecia e permitiu a minha
entrada. O Cine Popular era pequeno e tinha dois pavimentos para o público, o
maior, que ficava no térreo e o menor, na parte superior. Os cinemas Santo
Antônio e Popular eram do empresário José Queiroz da Costa, que também tinha
alguns cinemas em Aracaju.
Atualmente, Itabaiana possui salas de cinema no shopping,
mas eu não fui ainda assisti um filme, talvez pela facilidade de ver filmes em
casa pela netflix, youtube, sky, dvd, computador ou tv, eu sei que não é a
mesma coisa, mas nada comparado a simplicidade e o glamour de frequentar o Cine
Santo Antônio algumas décadas atrás. Que saudades dos tempos que não voltam
mais…
Texto e imagem reproduzidos do site: faxaju.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário