O herói Pantera Negra é interpretado
por Chadwick Boseman
Foto: Divulgação
Texto publicado originalmente no site da revista GALILEU, em
21 de fevereiro de 2018
'Pantera Negra' é repleto de referências históricas e
culturais
Filme da Marvel homenageia a diversidade cultural dos povos
africanos e reafirma sua luta por direitos
Da redação da revista Galileu
O ano de 2018 ainda está começando, mas a Marvel já emplacou
um de seus maiores sucessos: primeiro filme da produtora protagonizado por um
herói negro, Pantera Negra bateu recordes de bilheteria em seu final de semana
de lançamento e já arrecadou mais de US$ 426,6 milhões — superando toda a
receita de filmes da empresa como Capitão América: O Primeiro Vingador.
A história de T'Challa, líder do reino fictício de Wakanda
que ganha os poderes de Pantera Negra para proteger o seu povo, ganhou elogios
do público e da crítica especializada não apenas pela história bem contada e
pelo visual impecável.
O filme também é histórico ao apresentar atrizes e atores
negros como protagonistas, valorizando as particularidades culturais e
históricas dos povos africanos para além dos estereótipos. Sem contar as
personagens femininas do filme, que têm papel fundamental para o desenrolar da
trama.
Além disso, Pantera Negra é repleto de referências
históricas, políticas e culturais que contam a trajetória do movimento negro
nos Estados Unidos pela luta por direitos sociais. Assim como no Brasil, a
sociedade norte-americana conviveu com a escravidão de seres humanos durante
séculos, deixando cicatrizes ainda não curadas, como a segregação, a falta de
oportunidades iguais e a desigualdade econômica entre brancos e negros (alguma
semelhança com nosso país?).
Ainda que dentro dos limites possíveis para um blockbuster
que precisa ter fácil assimilação, algumas das cenas de Pantera Negra são uma
tremenda lição para quem insiste em afirmar que o racismo não existe — de
Donald Trump a exemplares de nossa política. Confira abaixo as principais
referências (com quase nenhum spoiler):
Baltimore, a cidade do Pantera Negra
Na primeira cena do filme, é mostrado um flashback que
acontece em Oakland, nos Estados Unidos. A escolha desse local não é por acaso:
a cidade localizada no estado da Califórnia foi o berço do movimento do Partido
dos Panteras Negras, que surgiu como reação após episódios seguidos de
violência policial cometidos contra a população negra.
Vale lembrar que em plena metade do século 20, alguns
estados norte-americanos mantinham leis de discriminação racial que não eram
diferentes daquelas praticadas pelo regime branco sul-africano do Apertheid ou
das primeira leis segregacionistas da Alemanha nazista. Até a década de 1960,
por exemplo, salas de aula, assentos de ônibus e bebedouros eram divididos para
a população branca e para a população negra.
Diante disso, movimentos e líderes negros lutaram por
direitos de mínima igualdade civil. Alguns deles, como o pastor Martin Luther
King Jr. (assassinado em 1968) pregava um ativismo pacífico pela conquista de
direitos. Já lideranças como Malcolm X (assassinado em 1965) e os membros do
Partido dos Panteras Negras acreditavam que apenas superariam a situação de
opressão por meio de métodos revolucionários e violentos — em termos gerais, o
personagem Killmonger (interpretado por Michael B. Jordan) é fruto direto desse
cenário de tensão social. Ele é responsável por uma das frases mais fortes do
filme, quando relembra os anos de escravidão sofridos pelos antepassados
africanos.
Foi apenas em 1964 que uma Lei de Direitos Civis foi
promulgada nos Estados Unidos, que extinguiu as leis de segregação racial
adotadas por alguns estados da federação.
Em uma das cenas que acontecem em Oakland, é possível ver um
pôster com os membros do Public Enemy. Formada na década de 1980, o grupo de
rap ficou conhecido por conta de suas letras politicamente engajadas e que
criticam o racismo estrutural dos Estados Unidos.
Wakanda para sempre!
Pantera Negra retrata a riqueza das etnias que compõem a
África. De certa forma, o reino fictício de Wakanda é uma pequena utopia que
representa as potencialidades de todos os países africanos por conta de seus
recursos naturais.
Aqui, vale outra pequena lembrança histórica: o cenário de
guerras e instabilidades políticas que acompanharam a maior parte dos países
africanos nas últimas décadas é consequência direta da ação das nações
europeias, que colonizaram territórios africanos durante os séculos 19 e 20 e
realizaram divisões territoriais sem levar em conta as particularidades
étnicas, culturais e religiosas de cada povo.
Como consequência, as riquezas naturais continuaram sendo
exploradas pelas empresas dos países ricos, enquanto grupos militares locais
disputavam o poder dos territórios africanos.
Figurino impecável
Apesar da presença do discurso político e social, Pantera
Negra surpreende ao retratar a diversidade cultural de todos os povos
africanos. Dirigido por Ryan Coogler (que é negro), o filme apresenta trajes,
máscaras e marcas corporais que são inspiradas em diferentes etnias. No
Twitter, a usuária somaliana Waris mostra algumas das referências presentes no
longa-metragem.
Os trajes das guerreiras de elite de Wakanda, por exemplo,
são inspirados no povo Maasai, que vivem no sul do Quênia e no norte da
Tanzânia:
Já os trajes coloridos utilizados por T'Challa são
inspirados em algumas vestes do grupo étnico Akan, que vive no território que
compreende Gana — na África Oriental.
Um dos conselheiros de T'Challa, que representa um dos
grupos étnicos de Wakanda, possui um prato labial semelhante ao utilizado pelos
Mursi: eles vivem no sudoeste da Etiópia e mantém tradições religiosas ligadas
ao animismo — que entendem a relação entre o mundo espiritual e físico a partir
da integração com a natureza (como é mostrado em algumas cenas de Pantera
Negra).
Texto e imagem reproduzidos do site: revistagalileu.globo.com
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