quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Artigo: Breve reflexão lúcida do crítico de cinema Octavio Caruso

Foto postada pelo blog 'Cinemateca da Saudade', para ilustrar o presente artigo

Texto compartilhado do Facebook/Devo Tudo ao Cinema, de 20 de dezembro de 2022

Artigo: Breve reflexão lúcida sobre a EDUCAÇÃO CULTURAL do povo brasileiro.
Por Octavio Caruso*

As postagens de listas de plataformas de streaming na página atraem um público novo, mas, infelizmente, sempre preciso banir muitos leitores que aparecem com comentários bastante deselegantes e grosseiros, debochando da presença de "filmes velhos". 

Quem trabalha com cultura neste país acaba tendo que lidar (eu me recuso a me acostumar) com a acachapante falta de educação dos brasileiros. Ocorre então algo surreal, eu, com 39 anos de idade, preciso ensinar a importância FUNDAMENTAL da REVISÃO na apreciação cinematográfica e, principalmente, a necessidade da valorização da memória cultural. 

Velho é aquilo que você CONHECE há muitos anos. Se você tem 18 anos e está começando a se interessar por cinema, TODOS os filmes já produzidos são NOVOS. Se você já passou dos 60 anos e NÃO ASSISTIU ao filme em questão, ele é NOVO, mesmo que tenha sido produzido antes de seu avô nascer. 

É importante, como crítico de cinema e um apaixonado autodidata pelo garimpo desde a infância, utilizar este espaço para tentar fazer você entender que, por mais que muitos jovens e adultos primem pelo limitado pensamento imediatista, rasteiro, o mais correto é apreciar a arte como algo atemporal.

Aprofundando a análise, a forma como o indivíduo enxerga o passado é sintomática de seu nível educacional. Vale traçar um paralelo com o desrespeito generalizado com os idosos na sociedade. Como sempre afirmo, incentive em seus filhos desde cedo o amor pelo garimpo cultural. Aquele que não vê beleza no antigo, por preconceito tolo ou preguiça, está fadado a acordar um belo dia e perceber que já não é mais existencialmente relevante, afinal, envelheceu.

O clássico “este eu já vi” (em tom de deboche) simplesmente não faz sentido na apreciação cinematográfica. O ato de REVER um filme é fundamental. Imagine escutar a canção apenas uma vez. Imagine beijar a pessoa amada apenas uma vez.

Quem assiste ao filme apenas uma vez enxerga o cinema como um passatempo pueril, facilmente substituível por uma partida de gamão. O amor urge pelo REENCONTRO.

Texto reproduzido do Facebook/Devo Tudo ao Cinema de Octavio Caruso

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* Quem é Octavio Caruso?

Texto foi publicado originalmente no site: 'Devo Tudo ao Cinema'.

Eu me chamo Octavio Caruso, sou um apaixonado pela Sétima Arte desde que vi pela primeira vez o clássico “Ben-Hur” (1959), dirigido por William Wyler e com Charlton Heston protagonizando a famosa cena da corrida de quadrigas. Eu tinha quatro anos quando minha mãe me apresentou o filme. Ao longo da minha infância devo ter visto umas três vezes, o que me ajudou a estabelecer um elevado padrão do que era qualidade no cinema. Com sete anos li o livro de Lew Wallace, numa versão editada, direcionada a um público jovem, e como já tinha a história do filme memorizada, inclusive com as músicas, transformava minha mente em um enorme estúdio de Hollywood.

A minha adolescência foi típica de um rapaz tímido. Encontrava refúgio seguro no entretenimento escapista que a literatura e o cinema me ofertavam. De tanto ter assistido filmes legendados, aprendi inglês sozinho, por osmose. Cheguei a dar aulas durante um tempo, com o intuito de conseguir a verba necessária para alimentar meu progressivo e insaciável desejo de conhecimento. Cantava árias de ópera na escola e procurava desesperado algum colega de classe que aceitasse conversar sobre meus ídolos na música: Elvis Presley e Frank Sinatra. Sem internet era difícil reunir um grupo de pessoas que gostasse das mesmas coisas.

Os meus melhores amigos na época eram Woody Allen, Peter Sellers e Jerry Lewis. Pode parecer exagero, mas a verdade é que eu era tão introvertido que não conseguia levantar a mão na sala de aula para tirar qualquer dúvida com os professores. Eu era aquele rato de biblioteca e sebos, o magricela esquisito que passava horas na seção de clássicos das locadoras de vídeo. Numa época anterior à internet, como não tinha dinheiro, quando não encontrava o livro que queria em sebos, eu ia lendo dentro das livrarias em várias visitas. A única pobreza que limita o homem é a de caráter. Comecei a fazer teatro ainda adolescente e, inspirado pelas inúmeras possibilidades que a fantasia do cinema oferecia, comecei a sonhar alto. Tentar viver de arte, sem nenhum parente na área ou qualquer ajuda externa que não fosse conquistada por mérito.

Já como publicitário formado, eu surpreendentemente acabei em um palco de teatro em 2002, sendo dirigido pela atriz Zaira Zambelli. Atuei em peças como: “Não Pensa Muito Que Dói” e “Eu Sei Que Vou Te Amar”. No momento em que desisti de tentar ser aquela pessoa que meus colegas gostariam que eu fosse, com seus intermináveis e enfadonhos papos sobre futebol ou sobre música de qualidade extremamente duvidosa, passando a aceitar plenamente minha intuição, tive o prazer de conhecer a mim mesmo. Daquele ano para cá, atuei em algumas peças, inclusive escrevendo e dirigindo uma, intitulada: “O Júri“. Por volta de 2003, comecei a cantar em alguns eventos, o que faço até hoje e me traz uma enorme satisfação. Em um curto espaço de tempo, apenas dez anos, consegui reverter completamente minha vida. Tudo graças ao amor pelo cinema e os sonhos que ele me despertou. O meu maior objetivo é fazer o meu público se apaixonar pela Sétima Arte ou intensificar a paixão já latente, enxergar cinema como mais que um bom divertimento ou um passatempo agradável.

Ao final de 2013, tornei-me oficialmente um membro da ACCRJ – Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica (Fédération Internationale de la Presse Cinématographique – FIPRESCI). Lancei também o meu primeiro livro “Devo Tudo ao Cinema” na Bienal do RJ, pela editora Litteris. Em 2015, com pouquíssimo dinheiro do bolso, sem qualquer patrocínio, eu produzi dois curtas-metragens (argumento, roteiro e direção, além de ter atuado neles): Übermensch e “Teresa“. No mesmo ano, os dois foram selecionados para a Mostra Oficial Competitiva do Festival Figueira Film Art, de Portugal, um dos mais conceituados de cinema independente. Os dois filmes entraram no catálogo da plataforma “Looke”, popularmente conhecida como a Netflix brasileira, no início de 2017.

O meu terceiro curta: “Nocebo“, foi selecionado no mesmo ano para a Mostra Brasileira de Cinema, do FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, em Lisboa. Levei a palestra “O Cinema por Octavio Caruso” para Brasília, além de retornar à escola da minha infância no RJ e falar para os alunos e professores sobre como o cinema pode mudar vidas. Também fui o curador da Mostra “Elvis é Joia”, no Cine Joia (RJ). E no mesmo ano lancei meu segundo livro: “A Arte do Guerreiro Lúcido”, pela editora Jaguatirica. Em 2018 lancei meu quinto curta-metragem: “Sacrifício“. Em 2019 lancei meu sexto curta: “Cinéfilo”, dirigindo grandes nomes da história do cinema brasileiro, como Monique Lafond, Sonia Clara, Vera Vianna e Zaira Zambelli.

Será uma jornada rica em emoções, abordarei no blog temas variados desde o início desta arte com o primeiro cinematógrafo até os diretores mais badalados de hoje, textos autorais sobre filmes de todas as épocas, nacionalidades e gêneros. Conto com a honra de sua atenção e o prestígio de sua companhia.

Texto de Octavio Caruso, reproduzido do site: 'Devo Tudo ao Cinema'

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