Foto reproduzida do Facebook/Waldemar Lima e postada pelo blog, para simples ilustação do presente Artigo
Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 14 de abril de 2025
Relembrando Waldemar Lima, o gênio sergipano do cinema novo
Por Luiz Eduardo Oliva (*)
Um dos momentos mais marcantes da cultura brasileira, o Cinema Novo no final dos anos cinquenta do século passado e permeou os sessenta, teve na figura do baiano Glauber Rocha seu principal expoente. No entanto pouca gente sabe, ou quase ninguém acentua, que um dos principais nomes daquele movimento foi um sergipano, o fotógrafo e cineasta Waldemar Lima, nascido em Aracaju em 1939.
Waldemar Lima vem a ser o assistente de direção do filme “Barravento” e o diretor de fotografia do revolucionário “Deus e o Diabo na terra do sol” considerado um dos maiores filmes de todos os tempos, todos os dois filmes sob a direção de Glauber Rocha. Waldemar viveu em Aracaju até os 26 anos onde desenvolveu por moto próprio a arte da fotografia. Migrou à Bahia quando conheceu Glauber. Importante destacar que uma das principais referências inovadoras do Cinema Novo é a estética que se apresenta no movimento da câmara, o aproveitamento com realismo e total genialidade da luz dos trópicos, da luz nordestina, da luz da Bahia. E isso se deu pelo olhar de Waldemar Lima.
Waldemar era um apaixonado pela luz. Percebeu que a luz do Nordeste era das mais acentuadas e é através dela no uso da câmara que marca a estética do cinema novo, principalmente quando filmado em preto e branco. Waldemar Lima era um filho do sol, do escaldante sol nordestino, do miraculoso e altamente iluminado sol de Aracaju. Essa sensibilidade que ele levou à Bahia e do encontro mágico com Glauber Rocha, fundindo o gênio sergipano com o gênio baiano, houve uma reinvenção do cinema, conhecido mundialmente como Cinema Novo.
Conheci Waldemar Lima ao acaso quando, nos idos de 1989, ele resolve voltar a Aracaju onde montou uma pequena produtora de vídeos em VHS. Embora altamente reconhecido nas rodas do cinema nacional continuava um ilustre desconhecido em sua terra natal. Salvo trabalhos que fez para a Universidade Federal de Sergipe, mais precisamente para o Centro de Cultura e Arte da UFS não houve nem o reconhecimento nem a compensação mínima para a sobrevivência e Lima retornou a São Paulo.
Só vou reencontrá-lo, mais uma vez ao acaso em 2005 quando ele me revelou (sem trocadilhos fotográficos) que tinha fotografado o centenário de Aracaju em 1955 e as fotos continuavam inéditas e desconhecidas, embora os negativos estivessem bem conservados. Diante daquele tesouro desenvolvemos a ideia de uma exposição das fotos com poemas meus para participar das comemorações dos 150 anos de Aracaju. Mas porque já havia uma programação, o projeto não foi adiante. Tivemos outras tentativas sem frutos até Waldemar falecer em 2012 em São Paulo. Antes, contudo, da última vez que esteve em Aracaju me disse: os negativos são seus.
Foi graças a essa doação que foi possível realizar um projeto de resgate do talento e da história do cineasta sergipano, em 2017. É que o advogado Clóvis Barbosa – ele mesmo um apaixonado por cinema e crítico cinematográfico pelo extinto jornal Diário de Aracaju nos anos 70 - promoveu dentro do programa cultural do Tribunal de Contas do Estado, que presidia, esse resgate a Waldemar Lima com a realização de documentário sob direção do jornalista e homem de televisão Pascoal Maynard, da edição do livro “Waldemar Lima, uma câmera e uma ideia de luz” organizado pelo jornalista Marcos Cardoso, além naturalmente da exposição e um livro-catálogo das fotos inéditas “Aracaju Centenária” com poemas meus e sob a regência gráfica da designe Germana Araújo. À época (2017) estiveram em Aracaju familiares de Lima e velhos amigos do ciclo de cinema baiano, o Carlos Modesto, José Humberto e Roque Araújo, uma lenda viva do cinema novo.
Na sua simplicidade quase franciscana Waldemar não demonstrava o gênio que ele era. Comportava-se como os filmes negativos que necessitavam da câmara escura para o processo de revelação. Recentemente conheci o cineasta paulista Anderson Craveiro que é um conhecedor e fã da obra de Waldemar Lima e me disse entusiasmado: não sabia que o grande Waldemar Lima era sergipano. Relembrar Waldemar Lima e sua obra, principalmente quando Aracaju faz 170 anos, é brindar à alma sergipana, à glória da nossa gente, é reverenciar um saber da sergipanidade, é também dizer do amor a Aracaju. Waldemar Lima, um gênio da raça sergipana.
(*) Advogado, professor, poeta, e membro das Academias Sergipana de Letras Jurídicas e Riachãoense de Letras, Artes e Cultura.
Texto reproduzido do site: radarse com br
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