sábado, 22 de abril de 2017

Cinemas de Aracaju, por José Augusto Silva Prudente

Imagem reproduzida do blog aracajuantigga.blogspot.com.br
e postada por Cinemateca da Saudade, para ilustrar o presente artigo.

Publicado originalmente no blog JASPRUDENTE, em 13 de abril de 2015.

Cinemas de Aracaju.
Por José Augusto Silva Prudente.

Sou do tempo em que os cinemas, ou salas de projeção, eram desprovidos de qualquer conforto. Nada de tapetes felpudos, ar-condicionado, poltronas acolchoadas e coisas que tais. Baleiros (garotos que circulavam pelas filas de poltronas com cestos de balas pendurados no pescoço) compunham a cena.
Não alcancei o tempo do cinema mudo. Contam meus ancestrais que na época deles os palcos ou ribaltas tinham um piano e uma bateria, onde acordes e batidas eram tocados ao vivo, sincronizados com as cenas dos filmes, conferindo um ar de emoção e realismo que se integravam ao filme. A primeira grande transformação havida foi o advento do  cinema sonoro. Vieram a seguir as evoluções técnicas dos    sistemas de som e de projeção, com o advento do Cinemascope e do Vista-Vision, telas de grandes formatos e experiências de  terceira-dimensão, que até hoje não conseguiram se popularizar, nem mesmo nas TVs.

Logo, os cinemas se tornaram grandes referências das principais cidades, comparáveis a palácios e monumentos, e passaram a ser pontos altos do convívio social. Lembro que, antes que Aracaju tivesse um cinema moderno, a pequenina Penedo, próxima à Neopolis, tinha um cinema com ar-condicionado, tapetes que afundavam sob nossos pés e poltronas acolchoadas.

Nessa época, Aracaju teve cinemas bastante frequentados como o Rio Branco na rua João Pessoa, de longe o mais marcante e famoso. De propriedade do Sr. Juca Barreto, era a mais perfeita expressão do termo cine-teatro. Tinha boa programação cultural, tendo ali se apresentado consagradas companhias teatrais, entre elas a de Procópio Ferreira, assim como expoentes da música como Bidu Sayão, orquestras como Silvio Mazuca e Caribean Steel Band, cantores como Nelson Gonçalves e Angela Maria, entre outros. Diga-se de passagem que Aracaju não tinha naquela época nenhum teatro.

O cine Vitória na rua Itabaianinha era o maior, com mais de mil lugares. O cine Rex, também na mesma rua, foi o primeiro a sucumbir aos novos tempos. Tinha também programação cultural mas não conseguiu resistir à concorrência. Finalmente, houve o cine Aracaju na rua laranjeiras, de cadeiras acolchoadas mas sem ar condicionado. Havia alguns cinemas fora da zona comercial: o Guarani  na rua de Estância tinha um público fiel de garotos amantes de filmes de faroeste e seriados que passavam capítulos novos a cada semana; o Tupi na rua Simão Dias e o São Franscico na colina do Sto.Antonio. O bairro Siqueira Campos teve o cine Plaza, cujas instalações viraram uma igreja evangélica.

Nas celebrações do primeiro centenário de Aracaju, em 1955, a cidade ganhou seu melhor cinema, o cine Palace no início da rua João Pessoa, que conservou o título até quando foi fechado. O cine Palace tinha um excelente ar-condicionado e no início muitas pessoas vestiam agasalhos para se protegerem do frio. Os adolescentes das décadas de 60-70 tinham o Palace como presença obrigatória dos seus circuitos sociais, que incluíam o passeio no parque dos alunos do internato do Jackson Figueiredo, a missa dominical na Catedral, a primeira sessão do Palace sempre precedida de uma agradabilíssima seleção musical de grandes orquestras, a matinê dançante da Associação Atlética, e finalmente o "footing" na Praça Fausto Cardoso e rua João Pessoa, com direito a paquera, som de retreta, visualização das vitrines e neons das lojas, tudo isso até as 22 horas, quando as moçoilas já se recolhiam e os marmanjos mais atirados rumavam para outras paragens menos familiares. Tudo isto foi ficando enterrado na poeira do tempo, de onde só ressurgem nas memórias teimosas de saudosistas como eu.

Texto reproduzido do blog: jasprudente.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário