Imagem reproduzida do blog aracajuantigga.blogspot.com.br
e postada por Cinemateca da Saudade, para ilustrar o presente artigo.
Publicado originalmente no blog JASPRUDENTE, em 13 de abril de 2015.
Cinemas de Aracaju.
Por José Augusto Silva Prudente.
Sou do tempo em que os cinemas, ou salas de projeção, eram
desprovidos de qualquer conforto. Nada de tapetes felpudos, ar-condicionado,
poltronas acolchoadas e coisas que tais. Baleiros (garotos que circulavam pelas
filas de poltronas com cestos de balas pendurados no pescoço) compunham a cena.
Não alcancei o tempo do cinema mudo. Contam meus ancestrais
que na época deles os palcos ou ribaltas tinham um piano e uma bateria, onde
acordes e batidas eram tocados ao vivo, sincronizados com as cenas dos filmes, conferindo
um ar de emoção e realismo que se integravam ao filme. A primeira grande
transformação havida foi o advento do
cinema sonoro. Vieram a seguir as evoluções técnicas dos sistemas de som e de projeção, com o
advento do Cinemascope e do Vista-Vision, telas de grandes formatos e
experiências de terceira-dimensão, que
até hoje não conseguiram se popularizar, nem mesmo nas TVs.
Logo, os cinemas se tornaram grandes referências das
principais cidades, comparáveis a palácios e monumentos, e passaram a ser
pontos altos do convívio social. Lembro que, antes que Aracaju tivesse um
cinema moderno, a pequenina Penedo, próxima à Neopolis, tinha um cinema com
ar-condicionado, tapetes que afundavam sob nossos pés e poltronas acolchoadas.
Nessa época, Aracaju teve cinemas bastante frequentados como
o Rio Branco na rua João Pessoa, de longe o mais marcante e famoso. De
propriedade do Sr. Juca Barreto, era a mais perfeita expressão do termo
cine-teatro. Tinha boa programação cultural, tendo ali se apresentado consagradas
companhias teatrais, entre elas a de Procópio Ferreira, assim como expoentes da
música como Bidu Sayão, orquestras como Silvio Mazuca e Caribean Steel Band,
cantores como Nelson Gonçalves e Angela Maria, entre outros. Diga-se de
passagem que Aracaju não tinha naquela época nenhum teatro.
O cine Vitória na rua Itabaianinha era o maior, com mais de
mil lugares. O cine Rex, também na mesma rua, foi o primeiro a sucumbir aos
novos tempos. Tinha também programação cultural mas não conseguiu resistir à concorrência.
Finalmente, houve o cine Aracaju na rua laranjeiras, de cadeiras acolchoadas
mas sem ar condicionado. Havia alguns cinemas fora da zona comercial: o
Guarani na rua de Estância tinha um
público fiel de garotos amantes de filmes de faroeste e seriados que passavam
capítulos novos a cada semana; o Tupi na rua Simão Dias e o São Franscico na
colina do Sto.Antonio. O bairro Siqueira Campos teve o cine Plaza, cujas
instalações viraram uma igreja evangélica.
Nas celebrações do primeiro centenário de Aracaju, em 1955,
a cidade ganhou seu melhor cinema, o cine Palace no início da rua João Pessoa,
que conservou o título até quando foi fechado. O cine Palace tinha um excelente
ar-condicionado e no início muitas pessoas vestiam agasalhos para se protegerem
do frio. Os adolescentes das décadas de 60-70 tinham o Palace como presença
obrigatória dos seus circuitos sociais, que incluíam o passeio no parque dos
alunos do internato do Jackson Figueiredo, a missa dominical na Catedral, a
primeira sessão do Palace sempre precedida de uma agradabilíssima seleção
musical de grandes orquestras, a matinê dançante da Associação Atlética, e
finalmente o "footing" na Praça Fausto Cardoso e rua João Pessoa, com
direito a paquera, som de retreta, visualização das vitrines e neons das lojas,
tudo isso até as 22 horas, quando as moçoilas já se recolhiam e os marmanjos
mais atirados rumavam para outras paragens menos familiares. Tudo isto foi
ficando enterrado na poeira do tempo, de onde só ressurgem nas memórias
teimosas de saudosistas como eu.
Texto reproduzido do blog: jasprudente.blogspot.com.br
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