sábado, 27 de abril de 2024

Morre o crítico de cinema Ely Azeredo, aos 94 anos

Ely Azeredo - Foto: Reprodução

Texto publicado originalmente no site do jornal O GLOBO, em 26 de abril de 2024 

Morre o crítico de cinema Ely Azeredo, criador da expressão Cinema Novo, aos 94 anos

Causa da morte ainda não foi revelada; velório será neste sábado (27), no cemitério São João Batista, em Botafogo

Por O Globo — Rio de Janeiro

Morreu nesta quinta-feira (25) o crítico de cinema Ely Azeredo, aos 94 anos. A causa da morte ainda não foi informada, mas ele enfrentava complicações pulmonares. Ely foi o crítico que por mais tempo deu voz ao famoso "bonequinho", do GLOBO. O velório será neste sábado (27), no cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio.

Nascido em Macaé (RJ), em 1930, Ely Azeredo publicou seu primeiro texto em 1949, na coluna do crítico Oswaldo de Oliveira, no jornal "A Noite". Em 1953, estreou a Tribuna da Imprensa fazendo a cobertura da I Retrospectiva do Cinema Brasileiro, realizada em São Paulo. Foi na publicação que, na primeira metade dos anos 1960, ele viu o nascimento de um estilo cinematográfico no Brasil, inspirado no neorrealismo italiano. Tratou de batizá-lo em sua coluna: Cinema Novo. Era o movimento encabeçado por nomes como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Ruy Guerra, dentre outros.

Teve artigos publicados na Gazeta de Notícias, no Correio da Manhã e no jornal O Fluminense. O crítico Moniz Vianna, do Correio da Manhã, era uma de suas referências. Ely também escreveu no Jornal do Brasil, onde entrou em 1965. No mesmo ano, se tornou o primeiro crítico brasileiro a participar de um júri em festival internacional ao participar do Festival de Berlim como jurado. Acabou desenvolvendo uma relação com o evento e no ano seguinte colaborou com o diretor Alfred Bauer para uma retrospectiva do Cinema Novo na mostra alemã.

Em sua coluna no GLOBO, o cineasta Cacá Diegues já destacou a importância do crítico e de suas "provocações construtivas".

“Ely foi o mais moço de uma geração de críticos, fundamental para a formação de uma cultura cinematográfica no Brasil. Embora, nem sempre concordasse com nossas ideais e filmes, ele foi muito importante na formação de aspectos do pensamento do Cinema Novo, com provocações construtivas. Foi um dos críticos brasileiros que melhor definiram a Nouvelle Vague francesa", escreveu Diegues.

— Ely pertenceu a uma geração de ouro da crítica de cinema no Brasil. A percepção aguçada, o rigor de análise, a defesa do cinema como arte maior, faziam dele um crítico de destaque junto aos colegas. O amor por luminares do cinema moderno como Bergman e Antonioni diz bem de seu olhar afinado as novidades de seu tempo — lembra Hernani Heffner, gerente da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM).

Azeredo participou ativamente das movimentações para a criação do Instituto Nacional de Cinema, no qual comandou em duas ocasiões o setor de publicações da entidade. Com Flávio Tambellini, criou em 1966 a revista Filme Cultura, editada pelo INC e na qual atuou como coordenador, editor e colaborador.

"Crítico de linhagem clássica, Ely se distinguiu pelo rigor lógico com que examinava um filme, num trabalho parecido ao de um anatomista. Manteve uma postura crítica em face do Cinema Novo e de alternativas estéticas como o Cinema Marginal e a pornochanchada", destaca o livro Enciclopédia do Cinema Brasileiro, organizado por Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda.

Foi autor dos livros "Infinito cinema" (Unilivros, 1989) e "Olhar crítico — 50 anos de cinema brasileiro" (IMS, 2010), coletâneas de ensaios e críticas escritas para diversas publicações.

— Os leitores conheceram o rigor crítico com que ele avaliava os filmes. Mas havia uma característica do Ely que transparecia para os colegas que conviveram com ele: foi sua gentileza. Ele era muito atencioso com todos. Quando eu era um jovem crítico, o Ely às vezes ligava ou escrevia para comentar textos e filmes, sempre querendo dialogar de forma afetuosa — conta André Miranda, editor executivo e crítico do GLOBO.

Já a crítica Susana Schild se recorda de um colega mais retraído, que se encontrava confortável de fato em seu habitat natural: o cinema.

— Trabalhei muitos anos com Ely no Jornal do Brasil. Discreto, retraído, ele parecia só se soltar quando escrevia. Gentil, mas austero. Era totalmente apaixonado por cinema, venerava os clássicos e tinha um excelente texto. Estudioso, sério, talvez só liberasse o seu verdadeiro "eu" na sala escura, diante da tela. Personagem de cinema — destaca a jornalista.

Mais do que um crítico, Azeredo também foi um promotor do cinema. Em 1959, ao lado de Alberto Shatovsky e Osvaldo Leite Rocha, fundou a Temporada Cinema de Arte Mesbla, no Passeio, considerada a primeira sala brasileira voltada para o cinema de arte.

— Uns cinco meses depois do cinema na Mesbla, no Passeio, Ely, Osvaldo e eu criamos o Alvorada, no Posto 6. Abrimos com "Um homem tem três metros de altura", com John Cassavetes e Sidney Poitier. Durante muito tempo, íamos regularmente à antiga garagem da Viação Cometa, na Tijuca, resgatar latas de filmes japoneses que chegavam de ônibus de São Paulo, porque só passavam nas salas do bairro da Liberdade, para a colônia nipônica — lembrou Shatovsky, em entrevista ao GLOBO em 2012.

Texto reproduzido do site: oglobo globo com/cultura

sábado, 20 de abril de 2024

O Último Pôr-do-Sol / The Last Sunset

Artigo compartilhado do site 50 ANOS DE FILMES

O Último Pôr-do-Sol / The Last Sunset

DE: ROBERT ALDRICH, EUA, 1961

Nota: ★★★½

Anotação em 2009: Para mim, O Último Pôr-do-Sol é um dos melhores faroestes da história. Mas é uma opinião muito pessoal, particular e intransferível como dor de dente; aparentemente, não tenho muita companhia.

Não está na lista dos dez melhores westerns do American Film Institute. Não está sequer entre os 51 melhores do livro 501 Must-See Movies, nem no 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer.

Pode não ser um grande filme – quem sabe? –, e o fato de eu gostar demais dele pode se explicar talvez por eu ter visto quando garoto, e ter ficado impressionado demais com ele.

Teoricamente, pode ser isso, sim. Mas, vendo de outra forma, por que então ao revê-lo agora ele continuou me impressionando, me parecendo uma beleza de filme? Tenho revisto muito filme que me impressionou quando eu era bem jovem e chegado à conclusão de que era uma porcaria.

Acho que, na verdade, O Último Pôr-do-Sol não teve o reconhecimento que merece porque ele é um western, mas ao mesmo tempo é um grande melodrama de amor, com um toque de tragédia grega. Acabou então não agradando tanto nem aos fãs do western, nem aos fãs do melodrama, nem aos fãs da tragédia grega.

De qualquer forma, é estranho – penso eu agora, sob o impacto de revê-lo após algumas décadas –, porque é um grande faroeste, um grande melodrama (Douglas Sirk, o rei do melodrama, teria assinado o filme, tenho certeza), uma grande tragédia grega. 

 Bem, minha tese, hoje, é esta: a mistura de gêneros não deu certo. Pelo menos naquela época. 

Outro dia revi O Passado Não Perdoa/The Unforgiven, feito na mesma época – este aqui é de 1961, o filme de John Huston com Burt Lancaster e Audrey Hepburn é de 1960. Ele também não está na lista dos melhores; o próprio John Huston fala mal dele. É outro que misturou gêneros; é mezzo faroeste, mezzo crítica social, estudo sobre o racismo. Não colou.

 Um filme de planos gerais e poucos close-ups

O Último Pôr-do-Sol é um grande filme desde os créditos iniciais. Ao som de uma bela trilha sonora típica de western – assinada por Ernest Gold, e que inclui também uma canção tema de Dimitri Tiomkin, dois grandes compositores –, temos diversos planos gerais, aquele tipo de tomada em que a câmara enquadra vastas paisagens, o que na pintura seria o afresco. Vemos um cavaleiro, pequenininho lá dentro daquela vasta paisagem, cavalgando a toda velocidade possível, enquanto estão sendo mostrados os créditos – um bando de nomes respeitáveis, admiráveis. Depois de algum tempo, vemos, na mesma ordem, as mesmas paisagens que já havíamos visto antes, com outro cavaleiro passando na mesma direção.

O primeiro cavaleiro passa por um vilarejo onde um grupo de gente se reúne em torno de uma briga de galo, e pela primeira vez temos planos que não são gerais, em que a câmara se aproxima mais das pessoas. Num plano americano, aquele em que vemos meio corpo das pessoas, da cintura para cima, identificamos Kirk Douglas. Logo depois veremos que o segundo cavaleiro passa pelo mesmo vilarejo – estamos no México. Outro plano americano mostra que o segundo cavaleiro é Rock Hudson. Terminam os créditos iniciais.

Rock Hudson faz uma parada no vilarejo da briga de galo. Pergunta a um ferreiro se viu passar um por ali um homem chamado O’Malley – e dá a descrição do sujeito que vimos algumas tomadas atrás, na pele de Kirk Douglas, que agora sabemos chama-se O’Malley: calça preta, camisa preta, lenço colorido no pescoço, uma pistola pequena, Derringer, um buraco no queixo – e aponta para o lugar onde Kirk Douglas, ou seja, O’Malley, tem a covinha no queixo. Oferece dinheiro para quem der uma informação. Os mexicanos em volta do ferreiro bem que gostariam do dinheirinho, mas não têm informação a dar.

Um rancho com uma bela mulher e sua jovem filha

E aí vemos O’Malley chegar a um rancho perdido no meio do nada mexicano.

Toda a seqüência é esplendida.

Vemos tomadas da casa principal do rancho. A casa não é rica, não é bonita, não é limpinha – mais um sinal de que estamos vendo uma produção A, caprichada, bem feita, bem cuidada. Quando mais B, C ou Z o western, mais bonitinhas são as casas, mais bem pintadas são as paredes. As paredes da casa são do tipo pau-a-pique, sem pintura.

Diante da casa estão uma mulher de uns 30 e alguns anos, bonita, figura muito vistosa, saia comprida, lenço ao redor do pescoço, cabelos louros, cheios (a atriz é Dorothy Malone; não por coincidência, ela trabalhou em melodramas de Douglas Sirk; aliás, Rock Hudson também); uma garotinha loura bem jovem, de uns 16 anos, com um rosto bonitinho, redondinho, e límpidos olhos azuis (Carol Lynley); um velho com jeitão de empregado de confiança da família, e uns três mexicanos, empregados, tipo para fazer figuração na cena (o filme é ótimo, mas não é perfeito; tem uma porção de clichês, como quase tudo na vida); eles estavam até tocando ao violão uma lânguida cançãozinha mexicana quando ouviram o assobio do forasteiro que chegava, e aí pararam de cantar e tocar.

Ao ouvir a canção assobiada ao longe – Pretty Little Girl in a Yellow Dress –, a dona da casa dá uma suave demonstração de um sobressalto; é bem suave; ninguém em torno dela percebe; o espectador talvez esperasse um sobressalto maior, porque o espectador não é bobo, e sabe, ou no mínimo imagina, que ali tem coisa. E aí chega o forasteiro todo vestido de preto, revolverzinho pequeno prateado diretamente na cintura, entre a calça e a camisa colocada para dentro da calça, sem aquele cinturãozão tradicional dos bangue-bangues.   

A câmara de Robert Aldrich faz pequenos, suaves travellings nesta seqüência. Tudo em plano de conjunto – o segundo tipo de tomada na ordem decrescente do plano geral, o mais amplo campo, até os close-ups -, ou no máximo em plano americano. Não há close-up algum. Vemos o forasteiro que chega em seu cavalo, e adiante dele a dona do rancho, a mulher bonita, vistosa; um pouco atrás dela está sua filha, a garotinha bonita de rosto redondo, Melissa; atrás da garotinha estão os empregados.

– “Boa noite”, diz o forasteiro, embora o céu ainda esteja claro.

– “Boa noite”, responde a proprietária.

– “Meu nome é O’Malley.”

– “Como vai, Sr. O’Malley?” (a polidez é tanta que parece que estamos num filme sobre a vida no campo inglês daquela época, os anos 1860). “Sou a Sra. John Breckenbridge. Meu marido está em Calvillo, a trabalho.”

– “Que pena. Esperava pedir a ele hospedagem por uma noite.”

– “O Sr. Breckenbridge sempre recebe bem os forasteiros.”

– “Sou grato ao Sr. Breckenbridge”, diz o forasteiro, já apeando do cavalo. 

Daí a uns cinco minutos de ação, o espectador vai confirmar o que já suspeitava: sim, claro, Bren O’Malley e Belle, agora Sra. John Breckenbridge, já se conheciam, e muito bem. Conheceram-se num baile em que ela, muito jovem, na idade em que agora está sua filha, usava o vestido amarelo de que fala a canção que O’Malley assobia.

No dia seguinte, o Sr. Breckenbridge chega de Calvillo, onde tinha ido a) beber e b) procurar gente disposta a trabalhar para ele, levando suas mais de mil cabeças de gado daquele lugar perdido no meio do nada mexicano até Crazy Horse, no Texas, onde pretende vender tudo aquilo e refazer a vida nos Estados Unidos. Depois que sua mulher o apresenta ao forasteiro, os dois conversam, e Breckenbridge pergunta a O’Malley se ele não quer também trabalhar no transporte do rebanho até o Texas.

Breckenbridge é interpretado por Joseph Cotten, esse veterano ator que havia trabalhado, só para citar dois nomes, com Orson Welles (em Cidadão Kane, Soberba) e Alfred Hitchcock (Sob o Signo de Capricórnio, A Sombra de uma Dúvida). Joseph Cotten dá um show como o orgulhoso ex-rico sulista de Virgínia que lutou com o Exército Confederado contra os ianques na recém terminada Guerra da Secessão, perdeu a guerra, as terras, boa parte da dignidade e quase toda a sobriedade ao se exilar no México. É absolutamente impressionante a expressão de bêbado que ele faz. Joseph Cotten conseguiu fazer os olhos de bêbado como não me lembro ter visto ator algum fazer – nem Ray Milland em Farrapo Humano/The Lost Weekend, de Billy Wilder, um dos filmes mais impressionantes já feitos sobre o alcoolismo.

Uma longa e perigosa viagem tocando o rebanho

Para resumir, ou ao menos tentar resumir, uma história longa, já que me entusiasmei e estou me estendendo demais (tudo o que relatei até aqui acontece nos primeiros 15 minutos do filme), é o seguinte: O’Malley aceita trabalhar para Breckenbridge, e já adianta para ele que está para chegar ali um homem que sabe muito bem lidar com gado, e que pode ser seu principal auxiliar na tarefa de conduzir o rebanho até o Texas. Seu perseguidor implacável, que já havíamos visto antes, Dana Stribling – o personagem interpretado, e bem interpretado, por Rock Hudson – vai de fato chegar no dia seguinte. Stribling e O’Malley entrarão em acordo: vão juntos levar a família Breckenbridge e o gado deles até o Texas – uma vez no Texas, resolverão a questão que existe entre eles, e que fez Stribling atravessar meio mundo atrás de O’Malley.

No caminho entre o rancho mexicano dos Breckenbridge e o outro lado do Rio Grande, vai haver de tudo – encontro com outros ex-soldados confederados, tiroteios, tempestade de areia, queda em areia movediça, bandidos que se oferecem para trabalhar com eles mas na verdade têm as piores intenções possíveis (um deles dirá que mulheres como aquelas, a mãe e a filha, valem US$ 1.500 em Vera Cruz, mais do que todo o rebanho), enfrentamento com índios, e um duelo marcado ao pôr-do-sol. Tudo, absolutamente tudo de que precisa um western.

E mais um melodramão, e uma tragédia grega.

E ainda, de quebra, de sobra, para tornar a mistura de gêneros ainda mais doida, teremos também a execução de Cucurucucu Paloma por um trio de mexicanos, os empregados dos Breckenbridges, com solo vocal de Kirk Douglas. Temos então que Cucurucucu Paloma conseguiu chegar ao cinema na interpretação de Kirk Douglas e de Caetano Veloso, este aqui um cantor um tanto mais competente que aquele, conforme podemos verificar ao ver Fale Com Ela, de Pedro Almodóvar.

Um brilhante diálogo de melodrama

Lá pela metade do filme, há um diálogo maravilhoso – é a face melodrama que está aflorando no momento, uma pausa entre momentos western – entre Belle e Bren O’Malley, os personagens de Dorothy Malone e Kirk Douglas. Conversam à noite, numa das paradas para descanso na caminhada entre o meio do nada mexicano e o outro lado da fronteira-abismo de culturas; pela primeira vez, Belle dá um sorriso, depois que O’Malley faz uma frase-para-encantar-mulher.

É das pouquíssimas seqüências em que há close-ups – embora não sejam propriamente close-ups, sejam quase planos americanos. Dorothy Malone está sensacional, e linda. 

Douglas Sirk seguramente gostaria de botar este diálogo num dos dramalhões dele.

O’Malley: – “Vamos navegar na calmaria daqui pra frente.”

Belle: – “Na verdade, você não quer calmaria, Bren. Você carrega sua tempestade para todos os lugares onde vai.

O’Malley: – “Só quando viajo sozinho.” E, depois de algum tempo: “Belle, olhe para mim. Estou tentando dizer o quanto te amo.”

Belle: – “Não, Bren. Você amava uma garota de 16 anos. Em outro país. Em outro mundo, quase. E você pensa que eu sou aquela garota.”

O’Malley: – “Você é.”

Belle – “Não sou. A garota de quem você lembra morreu há muito tempo.”

Há momentos na vida em que os homens falam asneira demais, exacerbam na asneirice. É uma característica dos homens a falta de tato, de sensibilidade, de timing, de não perceber o que as mulheres querem, o que as mulheres gostariam de ouvir, a forma como elas vêem o mundo, tão diferente da forma com que nós vemos o mundo. É exatamente o caso do pobre Bren O’Malley no meio deste diálogo aqui, diante de uma Belle de 32 anos (Dorothy Malone estava com 46), a vida se demonstrando em seu belo rosto.

O’Malley: – “Mas na hora que olho para você ela volta à vida. Não vê isso, Belle? Você não sabe o que eu fiz por você? Algo que só se faz por amor. Eu impedi que o tempo tocasse em você. Aprisionei-a no meu coração, na primeira vez que a vi, e não a deixei mudar. Daqui a cem anos eu olharia para você e veria uma garotinha linda de vestido amarelo.”

O imbecil consegue colocar em palavras tudo o que não era para pensar, sentir, dizer; ao falar o que acha que é um elogio, um cumprimento, acaba de queimar todas as pontes, jogar fora toda e qualquer possibilidade de futuro. A resposta de Belle é a pá de cal:

– “Você disse tudo. Não vê, Bren? Não quero ser amada como se fosse uma garotinha assustada, trêmula e inocente. Quero ser amada pelo que eu sou. Sou uma mulher. Com o coração, a mente e a carne de uma mulher. Não sou jovem e não sou inocente. Há muito mais em mim para amar do que só isso. Mas você não vê. Porque não quer.”

Dalton Trumbo e Robert Aldrich, grandes figuras

O autor do texto é Dalton Trumbo (1905-1976), um grande roteirista. Começou a trabalhar em 1936; foi uma das vítimas da caça às bruxas do macarthismo, acusado de ter ligações com o Partido Comunista, e proibido de trabalhar; assim, a partir de 1950 seus roteiros passaram a ser assinados por outras pessoas. Em 1956, o filme Arenas Sangrentas/The Brave One ganhou o Oscar de melhor roteiro; o trabalho era assinado por Robert Rich, um front, um testa de ferro, e seu autor era Dalton Trumbo. Mesmo assim, ele ainda ficaria mais alguns anos sem poder assinar seus trabalhos; o primeiro roteiro com seu nome depois de ter sido banido pelo macarthismo foi o de Spartacus, o belíssimo épico de Stanley Kubrick de 1960, de que o astro Kirk Douglas foi também o produtor executivo.

São dele também os roteiros de Êxodus, Adeus às Ilusões, O Homem de Kiev e Papillon. Em 1971, fez seu único filme como diretor, Johnny Vai à Guerra/Johnny Got His Gun, baseado num livro de sua própria autoria, que havia sido publicado em 1939, o ano do início da Segunda Guerra; é um dos maiores panfletos anti-guerra do cinema, chocante, apavorante.

O diretor Robert Aldrich (1918-1983) fez de tudo: filmes de guerra (Os Doze Condenados/The Dirty Dozen, Morte Sem Glória/Attack!, A Dez Segundos do Inferno/Ten Seconds to Hell), filmes noirs (A Morte num Beijo/Kiss me Deadly, A Grande Chantagem/The Big Knife), thrillers beirando o terror (O que Aconteceu com Baby Jane?/Whatever Happenned to Baby Jane?, Com a Maldade na Alma/Hush, Hush, Sweet Charlotte), e westerns (Vera Cruz). A crítica francesa o endeusava; Jean Tulard faz rasgados elogios a ele no seu Dicionário de Cinema – Os Diretores; diz que ele rompeu com as tradições de vários dos gêneros mais caros ao cinema de Hollywood.

Para evitar o spoiler

Não falei nada da parte tragédia grega; não dá para falar; seria um spoiler, estragar/entregar para quem não viu o filme.  

O Último Pôr-do-Sol/The Last Sunset

De Robert Aldrich, EUA, 1961.

Com Rock Hudson, Kirk Douglas, Dorothy Malone, Joseph Cotton, Carol Lynley, Neville Brand, Regis Toomey

Roteiro Dalton Trumbo

Basedo na novela Sundown at Crazy Horse, de Howard Rigsby

Fotografia Ernest Laszlo

Música Ernest Gold, canção Pretty Little Girl in a Yellow Dress por Dimitri Tiomkim-Ned Washington

Produção Universal, Brynaprod

Cor, 112 min

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> COMENTÁRIOS:

Telmo Jorge Eberle J

26 OUTUBRO 2009 

Concordo com você grande western, sou grande fã de Western inclusive faço coleção, tenho mais de 180 titulos. Concordo tambem que Vera Cruz poderia ser melhor vale pelos atores.

Roberto Rezende

31 AGOSTO 2010 

Assisti hoje com minha mãe. Dica dela. Tragédia grega mesmo. Legal. Divertido. Gostei de sua crítica.

Arlindo

15 FEVEREIRO 2011 

Finalmente alguém dá a esse filme a importância que ele merece. “O Ultimo Por-do-Sol” é subestimado, mesmo sendo um dos melhores filmes de todos os tempos. A “mágica” funcionou, tudo deu certo. Também vi quando moleque e é um dos poucos que resistiu à passagem do tempo. “Vera Cruz” é bom, mas não se compara a essa obra-prima.

carlos hermano

29 JULHO 2011 

O melhor filme que eu já vi, é extraordinário, um grande elenco, um enredo de arrepiar.

Mirian

15 OUTUBRO 2012 

Nunca esqueci esse filme. Também quando era bem jovem. Impressionou-me tanto que nunca esqueci os os atores, o cenário e a música Cucuru cucu Paloma. Esta música na voz de Caetano Veloso está belíssima. A tragédia eu já sei. Obrigada por reavivar em minha memória este extraordinário filme.

Alexandre Francelino

13 JULHO 2021

Um filme que assisti com meu pai e meu tio-avô. Sempre quis assisti-lo novamente. Nunca esqueci do nome do filme e do momento que o assisti. Estou a procura de assisti-lo mais uma vez.

Sérgio Vaz

13 JULHO 2021 

Caro Alexandre,

Sinto muito não poder ajudar. Verifiquei aqui nas anotações? quando revi o filme para escrever esta anotação, em 2009, foi em um DVD, naquele tempo em que havia locadoras de vídeo. Não sei se o DVD ainda está em catálogo, se você pode encontrá-lo nas grandes livrarias brasileiras. Na Amazon certamente você encontraria, mas na versão original, sem legendas em Português… Talvez se você fizer uma boa busca na internet…

Um abraço. Sérgio

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Artigo, imagem e comentários reproduzidos do site: 50anosdefilmes com br

Filme: "O Último Pôr do Sol (1961), de Robert Aldrich.






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Publicado originalmente no site Western Cinemania, em 26 de março de 2011

"O Último Pôr do Sol" - Poético Título Arduamente Escolhido

A escolha de títulos de filmes nem sempre é tarefa fácil. Um bom exemplo dessa dificuldade foi o título de um faroeste que a Bryna Productions procurou para um western rodado em 1960 e que se baseou no livro “Sundown at Crazy Horse”, de autoria de Howard Rigsby e que teve roteiro de Dalton Trumbo. O filme foi dirigido por Robert Aldrich e Kirk Douglas e Rock Hudson encabeçam o elenco. Eis a tradução de alguns dos títulos cogitados para esse belo western: “Dois Homens Magníficos”, “Brutos e Majestosos”, “Brutos e Trágicos”, “Revólveres Flamejantes”, “Rajada de Trovões”, “Dois para Odiar”, “Conversa de Gatilho”, “Morte é meu Nome do Meio”, Encontro com um Sol Morto”, “Emoção ao Pôr-do-Sol”, “Longo Dia, Rápido Poente”, “Todas as Garotas Usam Vestidos Amarelos”, “Minha Arma, Minha Vida”, “Flores de O’Malley”, “O Combustível e o Fogo”, “Um Leão no meu Caminho”. Ainda bem que a Universal Pictures, que dava a última palavra em relação ao título, optou por “The Last Sunset”, poeticamente traduzido para “O Último Pôr-do-Sol”. E curiosamente nenhum spaghetti-western utilizou os pouco inspirados demais títulos desse atrevido faroeste. Na foto acima vemos Dorothy Malone (Belle Breckenridge), esbanjando sensualidade como poucas vezes se viu num western.

Texto e imagem reproduzidos do blog: westerncinemania blogspot com

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O ÚLTIMO PÔR DO SOL (THE LAST SUNSET)

BY NADAL ON 9 DE JUNHO DE 2017 IN FILMES MAIS ANTIGOS

Este é um faroeste de 1961 repleto de referências. Interessante que por alguns é considerado clássico e por outros apenas um filme razoável ou bom, com várias falhas. Seja como for, é um filme marcante e muito importante dentro do gênero. Primeiro, porque interpretado por dois ícones do cinema: Kirk Douglas (ótimo) e Rock Hudson, este último em atuação que poderia ser melhor (junto com a de Dorothy Malone) –  e o filme ainda tem Carol Lynley e Joseph Cotten. Segundo, porque dirigido por Robert Aldrich (Vera Cruz, O que terá acontecido com Baby Jane?, Os doze condenados…). Terceiro, porque o roteiro foi assinado por um personagem famoso na época da perseguição americana aos comunistas (a famosa lista negra do senador McCarthy) e que ganhou o muito corajoso apoio de Kirk Douglas na ocasião: Dalton Trumbo, que teve até um filme a seu respeito, estrelado por Bryan Cranston. Quarto, porque é um filme que reúne todos os elementos dos grandes westerns: paisagens amplas, aventuras, ação, drama, suspense, romance, gado sendo transportado a grandes distâncias, a aridez das terras e dos homens…e tem algo a mais além disso, pois o roteiro acaba explorando bem o íntimo dos personagens e faz com que dramas do passado venham à tona e encontrem seu desate justamente no momento que dá título ao filme. Poderia nesse instante ter uma fotografia melhor, é certo…enaltecendo as cores do pôr do sol…Talvez uma música mais marcante na trilha (se bem que o filme tem vários números musicais e até Kirk cantando), uma atuação mais convincente de parte do elenco…Mas pelo conjunto de suas virtudes, é sem dúvidas um belo e emocionante filme.  8,5

Texto reproduzido do site: dicasdecinema.net

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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Cine Theatro Rio Branco, em Aracaju-SE.

Cine Theatro Rio Branco, de Aracaju-SE. 

O Teatro Carlos Gomes foi criado e inaugurado por intermédio do comerciante italiano Nicolau Pungitori. Foi batizado em homenagem ao compositor paulista Antônio Carlos Gomes, representando não apenas a construção de um prédio destinado a espetáculos teatrais, realizados por diversas companhias dramáticas de origem estrangeira e nacional, mas também como local para um seleto grupo de empresas de cinematógrafos que locavam o espaço para a exibição de filmes. A inauguração desse teatro representou um importante avanço para o entretenimento da população de Aracaju, oferecendo um local dedicado às produções cinematográficas.

Em 1909, começou a funcionar regularmente um cinema em Aracaju, com os proprietários Anísio Dantas e João Rocha, instalando assim o “Cinema Sergipe,” que teve cerca de um ano de vida. Ainda no “Carlos Gomes,” funcionou o “Kinema Ideal” de João Firpo e Flávio Quintella. No dia 16 de agosto de 1911, a Companhia Francisco Santos representou mais uma peça de autoria brasileira, “O Guarany,” escrita pelo romancista e dramaturgo brasileiro José de Alencar.

Em 1912, o teatro foi vendido a Alcino Barros e Luiz França, passando posteriormente às mãos de Juca Barreto e Hermindo Menezes. O local recebeu o nome de “Cinema Rio Branco” emhomenagem ao Barão do Rio Branco. Juca Barreto era conhecido por ficar sentado no local de acesso dos frequentadores, onde era cumprimentado.

Durante sua era dourada, o Cine Theatro Rio Branco contou com a presença de grandes artistas como Procópio Ferreira, Bidu Sayão, Tito Shipa, Renato Vianna, Ítala Fausta, e muitos outros que se apresentaram em seu palco. Além disso, figurava entre outros cinemas do estado, como o Cinema Guarany, o Cinema Rex e o Cinema Palace, sendo este também palco de produções da antiga Hollywood, trazendo filmes das principais produtoras como Fox e Columbia Pictures e grandes atores.

Em 1961, com a morte de Juca Barreto, seu principal incentivador, bem como problemas administrativos, o Cine Teatro que viveu anos de glória e a transição do cinema preto e branco para o colorido através de grandes obras, passou a decair em qualidade e deu lugar à exibição de filmes pornográficos até o seu fim em 2002. Após uma tentativa de tombamento para tentar salvar sua memória e história, o prédio do antigo Cine Theatro Rio Branco transformou-se em ponto comercial, encerrando de maneira melancólica a história de um dos lugares importantes da nossa história cinematográfica.

Texto reproduzido do site: memorialdesergipe com br

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

O Segredo dos Efeitos Especiais de TITANIC


O SEGREDO DOS EFEITOS ESPECIAIS DE TITANIC

Como foi feito o clássico com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.

Canal do YouTube/Painel Nerd

Hoje é dia de conhecer os segredos dos efeitos de um dos maiores filmes de todos os tempos, o clássico Titanic - esse é clássico mesmo. Uma produção que usou todo tipo de truque: miniaturas incrivelmente detalhadas, imensos cenários realistas, mais de uma centena de dublês, um gigantesco tanque de água, computação gráfica inovadora pra época, efeitos de maquiagem… enfim… um verdadeiro show de tudo que a tecnologia e os efeitos práticos podiam oferecer quando o filme foi feito. Quer conhecer todos os detalhes? Então vem comigo nessa viagem.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Oscar 2024 - Análise dos Indicados, por Waldemar Dalenogare Neto


Comentários sobre os indicados ao Oscar 2024!

00:00 - Introdução
01:15 - Filme internacional

03:23 - Curta animação
04:22 - Curta live action

05:01 - Curta documentário
05:44 - Animação

06:24 - Documentário
07:18 - Efeitos visuais

08:16 - Canção original
09:19 - Trilha

09:47 - Maquiagem e penteado
10:21 - Som

11:00 - Figurino
11:36 - Design de produção

12:23 - Montagem
13:29 - Fotografia

14:10 - Roteiro adaptado
15:55 - Roteiro original

16:52 - Direção
18:08 - Atriz coadjuvante

19:30 - Ator coadjuvante
20:31 - Atriz

22:18 - Ator
23:27 - Filme