O Cine Palace ficava na Rua João
Pessoa esquina com a Travessa Benjamin Constant e Praça Fausto Cardoso, no
centro da cidade de Aracaju-Sergipe. O ano era 1955, Paulo Dantas constrói o
mais moderno e bonito cinema do estado, sendo o único na época a possuir ar
condicionado e cortina motorizada. Para a festa de inauguração foi escolhido o
filme musical, colorido e em cinemascope, “Sete Noivas Para Sete Irmãos”, uma
produção de 1954. Na frente do prédio, que até hoje ainda existe, diversas
fileiras de néon azuis cobriam a parte inferior da arrebitada marquise. Logo
abaixo da mesma e acima da grande porta de ferro de cor cinza, com algumas
aberturas com vidro - onde os cinéfilos ao passar, paravam para dar uma
olhadinha e ver os cartazes que ficavam lá dentro – havia um suporte luminoso,
onde era colocado em letras de plástico vermelhas e removíveis, o nome do filme
em exibição. Em ambos os lados da porta de entrada, embutidos na parede, tinham
dois suportes de alumínio com portinhas de vidros e fechaduras, com lâmpadas
fosforescentes nas bases, cobertas por um vidro e ao fundo do suporte, um pano
verde aveludado cobria a madeira, onde eram pregadas com percevejos ou
grampeador, as fotos dos filmes. Entre as fotos, tinham papeletas coloridas com
os dizeres “HOJE” e outra abaixo, com escritos, “Sessões contínuas a partir da
15hs.” Mais ao lado pendurado nos dois lados da porta, existiam dois porta
cartazes grandes de madeira, com portas de vidro e fechadura, com uma lâmpada
fosforescente em cada, onde eram colocados os grandes pôsteres do filme. Do
lado direito e acima de um destes cartazes, havia escrito em neon azul, pregado
na parede, os dizeres: “Ambiente Com Ar. Condicionado”. Indo para o lado
esquerdo, na esquina e no alto da parede, podia se ver o nome PALACE, que a
noite acendia com luzes azuis instaladas atrás das grandes letras. Abaixo desse
nome, para facilitar a venda de ingressos, quando de lançamentos de filmes de
grande sucesso, foi feita uma abertura na parede com uma portinhola, para que
servisse de bilheteria. Ao lado, pela Trav. Benjamin Constant, havia no alto da
parede um portal para colocação do nome do filme, que tempos depois foi
desativado. Abaixo dele e de uma marquise com curvas, uma porta servia para
saída das pessoas que assistiam ao filme no balcão, porta esta ladeada por dois
portas cartazes pequenos e mais adiante, mais três portas cartazes, sendo estes
grandes, usados para colocação de pôsteres. Seguindo pelo lado, haviam duas
portas de saída da sala de exibição, tempos depois foi aberta mais uma, ficando
três portas. Mais adiante, mais duas portas, uma dava acesso ao fundo da
tela/palco e outra para a central de ar condicionado. Voltando para a porta de
entrada, na Rua João Pessoa, do lado direito, havia a bilheteria de madeira que
ficava acima do piso, com uns pesinhos em forma de cone, revestida de fórmica
verde, que tinha a sua frente um arco de metal inoxidável, que era pregado no
piso e servia para direcionar a fila de compra de ingressos e encaminhar o
espectador a sala de espera, passando pelo porteiro, que recebia os ingressos,
rasgando os mesmos em pedacinhos e depositando os pedaços em uma urna de vidro.
Alguns cinéfilos usavam o visor da urna para avaliar a lotação da sala e a
aceitação do filme. Do lado esquerdo tinha um painel de madeira grande, com
pés, onde eram afixados fotos e cartazes do filme que seria exibido “A seguir”
ou “Em breve”. Atrás desse painel estava a bombonière, que em dias de grande
movimento servia também de bilheteria auxiliar. Em frente à escada que levava a
uma varandinha, com proteção de ferro, continuação do corrimão da escada, na
parede um pequeno espaço para colocar fotos de filmes a serem exibidos e logo
adiante a porta do escritório da gerência. Voltando a varandinha, mais um lance
de escada para se chegar à cabine de projeção, que ficava do lado direito e no
mesmo piso, do lado esquerdo um sanitário. Finalmente a porta vai e vem que
dava acesso ao balcão, onde havia uma boa quantidade de cadeiras, com um
corredor no meio, com um piso em forma
de grandes degraus, prenúncio do piso das
salas stadium, terminando numa balaustrada larga de alvenaria e coberta
de madeira. No lugar mais alto desse espaço, existiam somente duas cadeiras,
que eram as preferidas dos casais de namorados. Voltando ao térreo, encontramos
a sala de espera, rodeada de porta cartazes de filmes que iam ser exibidos
brevemente, iluminados ao redor com filetes de luz néon coloridas. Na parede,
que era toda revestida de madeira, um relógio sem números, abaixo dois sofás e
quatro poltronas. No teto da sala havia um alto-falante, que trazia o som da
tela, com músicas orquestradas, que tocavam antes de iniciar-se a sessão. O
mesmo era desligado, quando do início do filme, só voltando a funcionar, quando
o mesmo já ia terminar, se ouvindo da sala de espera a trilha sonora da
apresentação dos créditos finais, fazendo com que o espectador que estava na
espera da próxima sessão, ficasse sabendo do término do filme, pois a sala era
esvaziada pelas portas laterais. Embaixo da escada ficava o bebedouro, daí
vinha próximo alguns lances de escada, para se chegar a uma grande porta verde
de napa acolchoada, dividida em duas bandas e separada por quatro canos pretos,
ficando uma banda sempre entreaberta para dar acesso aos espectadores. Daí saia
um forte vento frio do ar condicionado e um cheirinho característico que
alcançava a calçada da Rua João Pessoa. De volta à porta de entrada da sala de
exibição, logo se via uma cortina de pano verde sempre esvoaçante, onde ao se
entrar, ficava-se com as mãos a procurar a abertura da junção das duas bandas,
para poder ter acesso a sala de exibição, o templo dos cinéfilos. Ao entrar,
deparava-se com uma balaustre tipo balcão, feita de blocos de vidros, com luzes
vermelhas dentro e para-peito acolchoado de napa verde, onde várias pessoas
ficavam encostadas em pé e dalí mesmo assistiam ao filme. Do lado direito o
sanitário masculino e do lado esquerdo o feminino. À frente centenas de
cadeiras de madeiras com acolchoados em napa de cor azul, somente no assento,
ladeado por dois corredores encostados nas paredes laterais, até chegar ao
pequeno palco/tela. Antes, do lado direito, o corredor era afastado da parede
por uma fileira de quatro cadeiras, que depois foi desfeita. As paredes até
certa altura eram forradas de madeiras, encimadas com abatjus em seqüência e
mais acima dos dois lados, adornadas com pinturas de galinhas, jarros,
burrinhos e carrancas iguais e enfileiradas e em seqüência, ilustrações até
hoje preservadas, feitas pelo artista plástico sergipano Jenner Augusto ( 1924
– 2003). No teto ondulações em forma de escadas, com lâmpadas embutidas e nas
bordas uma sequência de grades redondas, de onde saia o ar condicionado. Ao pé
da parede luzinhas vermelhas que serviam de guias iluminando o piso do
corredor. No fim da sala um pequeno palco curvo com iluminação na frente,
composta de uma fileira de lâmpadas brancas intercaladas por vermelhas e
em cada lado do palco três fachos de
lâmpadas nas cores verde, azul e vermelha, que serviam para acompanhar o gongo,
fazendo o jogo de luz, no ritual do início das sessões, acompanhado do prefixo
musical “Maré Baixa”. Em cima do pequeno palco a grande tela cinemascope, que
ia de um lado a outro da parede, coberta pela cortina motorizada de cor
alaranjada e estampada. Logo atrás os grandes alto falantes e o motor da
cortina e separado por uma parede, em outro compartimento, toda a aparelhagem
do ar condicionado, que por jogar água na casa que ficava vizinha, aos fundos,
teve que ser providenciado uma proteção de madeira, que foi colocada no telhado
do prédio. Esta é a memória do espaço físico do CINEMA PALACE, onde na década
de 60, os jovens não tinham dúvidas do que iam fazer aos domingos à tarde, pois
a primeira sessão do Cine Palace era coisa ‘sagrada’.
Armando Maynard
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