A cabine de projeção do Cine
Palace era bem espaçosa e aclimatada e, na porta, o tradicional aviso “Proibida
a Entrada”. Tinha uma escadinha e logo se via os dois projetores RCA-100, atrás
dos quais havia a enroladeira, onde o operador rebobinava o carretel da parte
que acabara de ser projetada. Ali mesmo, também, era feita a revisão dos filmes
quando estes chegavam da transportadora, vindo de outro estado em sacos de
pano, que traziam as latas de filmes, cartazes, fotos, certificado de censura e
orientação para o projecionista. Em Aracaju, os filmes eram exibidos com algum
atraso, muito arranhados, às vezes, cortados, com as perfurações estragadas, o
que gerava muitas emendas, que se não fossem bem feitas, poderiam partir-se ou
enganchar durante a projeção, ocasionando até a queima do filme. Quando isso
acontecia, via-se na tela o fotograma se queimando. Nesta época as lâmpadas
eram de carvão. Duas varetas opostas, que funcionavam como pólos positivo e
negativo, iam se queimando à medida que as duas pontas se juntavam. Quando as
mesmas se afastavam, a luminosidade enfraquecia e o filme que estava sendo
projetado escurecia na tela, causando grande protesto da platéia, que batia
palmas e assobiava. Outra reclamação mais comum era quando a fita tinha uma
emenda mal sincronizada nas perfurações e o quadro saía do lugar, subindo e
cobrindo a legenda. No Palace, antes de ser feita uma adaptação na janela de
projeção, uma mesma lente servia para o formato de tela standard (pequena e
quadrada) e a cinemascope (retangular, tomando toda a tela), dando um efeito
bastante interessante de abertura de formato de tela, quando da passagem do
cine jornal para o filme principal em cinemascope. No chão, próximo de cada um
dos projetores, ficavam as latas de filmes com os rolos, ordenadas em partes,
distribuídas em certa quantidade para cada projetor. Os filmes, normalmente,
vinham com seis a oito rolos (partes). Outros, como Os Dez Mandamentos (1956),
com Charlton Heston e Yul Brynner, com duração de três horas e quarenta e dois
minutos, chegavam a ter mais de treze latas de filme (partes). Quando estava
para acabar um dos rolos, o outro já era colocado e começava o trabalho de
sincronização. Duas marcas no fotograma do filme, aqueles círculos nos cantos
da tela espaçados por trinta segundos, eram a deixa para os operadores saberem
a hora de acionar o pedal, que no caso dos projetores do Palace, ficavam na sua
base, que fechava o foco do que estava encerrando a parte e abria o que iria
iniciar-se, fazendo com que a sincronização fosse perfeita, não se notando a
mudança de parte. Uma vez, aconteceu de um projetor quebrar e demorou a ser
consertado, mesmo assim o cinema não interrompeu as sessões, só que ficava
parando o filme toda vez que o rolo acabava, para mudar a parte em um só projetor.
A pensar que hoje nos cinemarks da vida, além de ser um só projetor, não se usa
mais carretéis, e sim grandes pratos onde se coloca todo o filme, funcionando
automaticamente, só precisando do projecionista para colocá-lo, isto por
enquanto, porque quando a projeção for digital e depois via satélite, aí nem
projecionista terá. Cada vez mais o cinema perde a magia e o romantismo de uma
época que não volta mais, deixando os cinéfilos sem seus fetiches.
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