quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Cinemas de Rua em Aracaju



Cinema Paradiso.
Por Tatiana Hora.

Alguns alunos que estudavam no Colégio Tobias Barreto matavam aula para ir ao Cinema Palace no centro da cidade de Aracaju. O jornalista e crítico de cinema Ivan Valença era um deles, e conta que os estudantes trocavam de blusa, as meninas viravam as saias pelo avesso, tudo para esconder o símbolo do colégio, pois não era permitida a entrada de alunos fardados segundo determinação do juizado. “Lá dentro era uma algazarra, as pessoas gritavam, mas era divertido”, conta o jornalista. Cerca de 40 anos depois dessa época, em 1997, chegaram as salas multiplex ao Brasil, que se localizam em cidades com mais de 400 mil habitantes e ficam em shoppings centers. Em Sergipe, um exemplo desse tipo de sala são as do Cinemark e do Moviecom.

O Cinemark é uma das três maiores redes de exibição de cinema no mundo, e chegou à Aracaju em 1998, funcionando no Shopping Jardins com nove salas que passam filmes simultaneamente. Menos de um ano depois, as duas salas de cinema que existiam no Shopping Riomar fecham. Quatro anos mais tarde o Moviecom inaugura cinco salas no Riomar. “O domínio das multiplex está ligado ao novo padrão de produção, distribuição e exibição no capitalismo global”, afirma o mestre em Cinema pela Universidade de São Paulo (USP), Caio Amado. Os estúdios de Hollywood vendem seus filmes para as grandes distribuidoras, que, por sua vez, negociam dias e horários com as empresas exibidoras, proprietárias das salas multiplex. Esse é o caminho percorrido por um filme americano até ser exibido no Cinemark, do Shopping Jardins.

Antes das salas multiplex chegarem à Aracaju, havia vários cinemas no centro da cidade, como o Palace, que hoje é uma casa de bingos. O Cinema Palace tinha sessões especiais e era muito freqüentado pela elite sergipana. Havia também várias salas que pertenciam à Igreja Católica, como o Cine Vitória e o Cinema Vera Cruz. “A Igreja estava muito preocupada com o que os fiéis viam. Eles recomendavam quais filmes poderiam ser vistos”, explica Ivan Valença.

A primeira sala de cinema de Sergipe foi o Cine Rio Branco, inaugurado em 1912, um dos primeiros cinemas do país, e que antes era o Teatro São José. “Havia cinemas de bairro como o Cinema Guarani, perto da casa onde eu morava, na Praça da Bandeira. Eu vi filmes extraordinários ali”, lembra Caio Amado.

Nas cidades do interior do estado existiam várias salas de cinema, como Itabaiana, que tinha 3 salas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 92% dos municípios no Brasil não têm nenhuma sala de projeção. A professora Adenildes Carvalho mora num sítio em Boquim e conta da primeira vez em que foi ao cinema, em Aracaju. “Foi incrível. Era uma tela enorme. Eu achava que as cadeiras estavam girando. Pensava: será que vou entrar no filme?”, relata. “Eu não vejo a hora de ir a Aracaju para ir ao cinema”. Para Cristiano Leal, professor da área de Comunicação Social e cinéfilo, o cinema é um ritual. “O cinema é uma experiência coletiva. As pessoas riem junto com o filme, e às vezes aplaudem”, diz.

O fim - Durante a década de 1980, o Cinema Rio Branco passou a exibir filmes pornôs. Segundo o antropólogo José Marcelo Domingos, o que atrai o público desses espaços é a possibilidade de encontrar um parceiro sexual sem prejudicar a imagem construída em sociedade. “No escuro do cinema você se torna anônimo. Há um clima de penumbra em que você não vê o outro e o outro não lhe vê por completo”, diz.

O que antes era o Cine Rio Branco, agora é uma loja de tecidos, a tela do Cine Plaza deu lugar a um altar, e um estacionamento ocupa o espaço onde antigamente os espectadores assistiam a filmes no Cinema Aracaju.

Texto e imagem reproduzidos do site: overmundo.com.br

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