sábado, 11 de junho de 2016

Jota Soares, um sergipano no cinema


Infonet > Blog Luíz A. Barreto > 08/01/2010.

Jota Soares, um sergipano no cinema.
(contribuição de Sergipe à história da 7ª arte)
Por Luíz Antônio Barreto.

A história do cinema guarda, no tempo, o fascínio da imagem em movimento, do som, da representação artística, cenários e figurinos, atraindo público para as salas dos espetáculos, a começar com os “cinematógrafos”, aparelhos que permitiam a instalação dos “Kinemas”, pelas cidades do mundo. São mais de 100 anos de glamour, talento, genialidade, evoluindo técnica e arte, cada vez mais atraentes. Sergipe esteve presente no começo da chamada 7ª arte, com as diversas salas criadas para demonstrações cinematográficas, como através do laranjeirense Cândido Aragonez de Faria, que viveu e morreu em Paris e que foi contratado pela Casa Pathé para desenhar os cartazes dos filmes, mais de 300, produzidos pelos irmãos Pathé, que estão entre os pioneiros do cinema, na França. Faria, que foi caricaturista e professor de desenho no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, em Buenos Aires, antes de chegar a Paris.

As primeiras imagens em movimento feitas em Sergipe em 1923, são do filme Brasil Pitoresco, de Cornélio Pires e Flamínio de Campos Gatti, que focalizou aspectos sergipanos. As imagens de Aracaju, de julho de 1923, durante o raid Rio-Aracaju, estão no filme Deêm Asas ao Brasil, de 1924, da Botelho Filmes, dirigidas por Alberto Botelho.

Muitos anos mais tarde, a atriz Vera Amado, filha do embaixador brasileiro na França, o sergipano de Itaporanga da Ajuda Gilberto Amado, nascida em Paris mas registrada em Estância, casada com o diretor francês Henry Georges Clouzot, atuou em diversos filmes franceses, como Salário do medo, que se tornou um dos clássicos do cinema. E já na década de 1960, o pianista e compositor sergipano Ubirajara Cabral Quaranta assinou trilhas sonoras de diversos filmes franceses, já no tempo da novele vague. Wilson Silva, nascido em Maroim, foi diretor de filmes como Nordeste sangrento, rodado em Sergipe, explorando a temática do cangaço, e Eles não voltaram, sobre a II Guerra Mundial, e de outros títulos que contribuíram para a história do cinema nacional. José Carlos Monteiro, professor, jornalista e crítico de cinema é autor de uma história do cinema brasileiro, editado pela FUNARTE para fixar o registro evolutivo das películas nacionais. A lista de sergipanos é acrescida do nome de Waldemar Lima, om fotógrafo de Glauber Rocha, na filmagem de Deus e o Diabo na terra do sol.

José da Silva Soares, conhecido artisticamente como Jota Soares, nasceu em 1906, em Propriá, filho de José da Silva Soares, proprietário de um cinema naquela cidade ribeirinha. Enquanto viveu em Propriá, Jota Soares aprendeu a tocar cavaquinho e piano, mantendo o cinema como seu trabalho. Fechado o cinema do pai, Jota Soares foi viver no Recife, em 1924, com 18 anos, tocando cavaquinho nos blocos carnavalescos do Recife e tocando piano nos cabarés da cidade, até meter-se na turma que iniciava o chamado Ciclo do Recife, produzindo filmes de longa metragem, mudos, com temáticas locais, como Retribuição, Aitaré da Praia, A filha do advogado, Sangue de irmão, e outros da Aurora Filmes, fundada em 1925 para dar organização ao trabalho dos jovens cineastas, como Gentil Roiz, Augusto Severo e Jota Soares, que mantiveram o mais longo dos ciclos cinematográficos do Brasil, produzindo filmes de ficção.

Jota Soares era ator, produtor e diretor de alguns dos filmes do Ciclo do Recife, produzidos entre 1923 e 1931, destacando-se como um dos pioneiros do cinema brasileiro. Os filmes Aitaré da praia e A filha do advogado, que têm sua participação como ator, produtor e diretor, foram exibidos em Aracaju, no Cine-teatro Rio Branco, perante grande público. Com o fim do Ciclo do Recife, Jota Soares acompanhou o pai para a Bahia, na década de 1930, voltando à capital pernambucana somente em 1950, assumindo empregos que mais uma vez destacaram a sua biografia, como o de Chefe do Departamento Comercial do Jornal Pequeno, comentarista da Rádio Clube Capibaribe, e colaborador do Diário de Pernambuco, onde deixou registro do Ciclo de cinema do Recife, em artigos que publicou, em 1964, por 59 semanas seguidas. Jota Soares foi, ainda, comentarista esportivo, e documentarista, organizando precioso acervo sobre o cinema, no mundo, no Brasil e no Recife, material adquirido pela Fundação Joaquim Nabuco, onde pode ser consultado, na Cinemateca da instituição. Chama atenção a coleção da Revista Cena Muda e outros periódicos sobre cinema, revelando o interesse do colecionador.

Jota Soares que saiu da beira do rio São Francisco para entrar na história do cinema, morreu no Recife, em 1988, aos 82 anos, cercado do respeito, da admiração e do carinho dos pernambucanos.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

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