sábado, 30 de setembro de 2017

Registro: Cena audiovisual sergipana se movimenta

 Making of do filme Seu Euclides, de Marcelo Roque.
Foto: Moema Costa.

 Cena dois do filme de Marcelo Roque (Foto: Moema Costa).

 Marcelo Roque em ação (Foto: arquivo pessoal).

 Rafael Heleno e Tia Mary no curta 'Thank U Dona Marlene'.
Foto: arquivo pessoal.

 Público prestigia exibição de curtas produzidos em Sergipe.
Foto: divulgação.

 Curta-SE ajuda a movimentar a cena local.
Foto: divulgação.

 Exibição de curtas no NPD Orlando Vieira.
Foto: divulgação.

 Sessão de cinema do Curta-SE tem público cativo.
Foto: divulgação.

 Aula de edição no NPD Orlando Vieira.
Foto: divulgação.

 Externa da oficina de filmagem do NPD Orlando Vieira.
Foto: divulgação.

 Filmagens realizadas pelos alunos do NPD (Foto: Divulgação).

 Rosânsela Rocha (Foto: Silvio Rocha).

Anderson Bruno (Foto: arquivo pessoal)

Gabriela Caldas registra apresentação de grupos folclóricos de Sergipe 
Foto: arquivo pessoal.

Publicado originalmente no site da PMA, em 30/08/2010.

Cena audiovisual sergipana se movimenta

Por Aline Braga

Curta-metragem é a palavra-chave dessa história. É de 15 em 15 minutos - tempo médio dos filmes carinhosamente apelidados de ‘curtas'- que a cena audiovisual sergipana se movimenta. Entre produções de 35, 16 e 8mm, Super 8 e digital, a trajetória audiovisual ‘serigy' é de consumir longas e produzir curtas. No ano em que o Festival Iberoamerico de Cinema de Sergipe (Curta-SE) completa uma década há de se fazer uma reflexão. Algumas ações andam incrementando o cenário audiovisual com opções em vários pontos da cidade.

Hoje, além das salas de cinema comercial, o aracajuano pode ver produções sergipanas e nacionais na Rua da Cultura, no Sesc Centro, no Palácio-Museu Olímpio Campos, na Casa Curta-SE, no Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira, no Cine CUT (Central Única dos Trabalhadores) e no Espaço Cultural Imbuaça.

Isso sem contar a vazão de inúmeros trabalhos pela TV Aperipê, em programas como o semanal ‘Olha Aí'. No entanto, apesar da expansão dos espaços de exibição, atualmente o ritmo de produção e a manutenção do acervo daquilo que já foi produzido geram algumas lacunas.

A durabilidade do Curta-SE fez surgir, ou ao menos incentivou, a realização de vários trabalhos - diga-se que têm cumprido seu papel. Talvez não com a excelência do Festival Nacional de Cinema (Fenaca), protagonizado pela Universidade Federal de Sergipe e pelo Clube de Cinema Sergipano de 1972 a 1981. Sem dúvida o período de maior ebulição da cena.

De acordo com videomaker e cinéfilo Djaldino Mota Moreno, o movimento superoitentista no estado, que surgiu na década de 70, gerou cerca de 60 filmes, mas de lá para cá muita coisa mudou. "São momentos distintos. Antes o pessoal fazia em Super 8 e, à época, o Fenaca aqui levou o pessoal a produzir todo ano, mas falta visibilidade, as coisas aqui acontecem e somem, não há memória", critica Djaldino.

Mão na massa

Parte da memória mais recente encontra-se na Casa Curta-SE que, à sua maneira, serviu de termômetro, catavento e asilo para o que se produziu nessa última década. Exemplo concreto é a viodemaker Gabriela Caldas, que hoje coordena o Núcleo de Produção Especial da TV Aperipê e começou indiretamente por causa do festival.

"Sou da geração que não tinha videocassete. Cresci vendo Super 8, brincava na moviola e tinha verdadeira fascinação por cinema. Fui para o Curta-SE 2 e tinha um filme, ‘Pretensão de Cú é Rola', feito por um amigo meu, Vinícius Leite. Aí vi que não era uma coisa muito distante", conta Gabriela. Formada em Artes Visuais, em 2003 ela fez ‘Elipse', que ganhou prêmio de um festival na internet e menção honrosa na Curta-SE na categoria vídeo.

Aí veio ‘A morrer', uma produção maior que mereceu o prêmio de júri popular e melhor filme sergipano no mesmo festival. "Depois desse não fiz mais curtas tão produzidos. As pessoas ficaram falando: ‘Você fez uma coisa pretensa a profissional, com equipe grande. Acho que o profissional tem que ser uma coisa mais artesanal'. Aí comecei a caminhar no sentido inverso", conta.

Com ritmo desacelerado, vieram depois em 2007 ‘Epifani' e, em 2009, ‘Resfriado'. Gabriela sem querer se tornou uma referência de produção para quem veio depois disso, como Marcelo Andrade, 20 anos. Ele é estudante do 4º período do curso de Audiovisual da UFS, que, à parte de ter inaugurado o curso em 2009, desde o final do Fenaca, em 1981, renunciou o protagonismo na cena audiovisual.

Sendo assim, o estudante Marcelo encontrou refúgio em outro lugar. Seu curta ‘Bloody Jack', feito em grupo, foi exibido no Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira - unidade mantida pela Prefeitura de Aracaju - Rede Olhar Brasil / Ministério da Cultura - como resultado de uma das oficinas que já fez por lá. Estimulado pela quantidade de lugares para exibição, ele pretende seguir produzindo por conta própria.

Capacitação

Inaugurado em novembro 2006, o NPD teve em sua primeira gestão Indira Amaral, Paulo Rogério e a videomaker Gabriela Caldas. Hoje quem coordena é Graziele Ferreira, 31 anos, também videomaker. Além do trabalho de formação de público com os projetos ‘Mergulho no Cinema' e a ‘Paralela Infantil', o núcleo capacita futuros videomakers. Foi por meio dessa lógica ‘vê e produz' que Marcelo exibiu seu ‘Bloody Jack'.

Parte do grupo de jovens de 20 e poucos anos que engrossou o caldo do audiovisual em Sergipe na última década, Graziele filmou em 2007 o curta-metragem ‘A Parede', baseado em uma história factual. Em 2008, com roteiro da artista plástica Hortência Barreto, o curta ‘Caju em cachos de crochê', que retrata uma instalação de Hortência.

"As mostras do núcleo estimulam o consumo dessas imagens e a formar um pensamento crítico. Essa é a diferença principal entre o perfil cineclube e a sala de exibição comercial. O cineclube é a janela do produtor independente", afirma Graziele. O cine da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas (ABD) reivindica esse papel.

Cineclube

Formado por realizadores, inclusive por Graziele, a ABD faz atualmente a exibição de filmes da Rua da Cultura, com curadoria de Anderson Bruno, videomaker desde 2003 e atual presidente da associação no estado. Produziu ‘A cadeira, os créditos e o específico fílmico' e ‘Thank You Dona Marlene', ambos com direção e roteiro próprio. O primeiro, carinhosamente apelidado de ‘A Cadeira', ganhou como melhor vídeo sergipano no Curta-SE. Em 2005 veio ‘Negro Amor'.

"Para fazer os outros filmes, precisei vender algumas coisas e pedir dinheiro aos meus pais. Vi que é difícil conseguir patrocínio, mas aprendi que o patrocinador precisa estar consciente do que é o curta-metragem, que não vai ter a amplitude dada pelo cinema comercial", comenta Anderson.

Por essas dificuldades, muitos dos realizadores apontam para a necessidade de editais que incentivem a produção, a capacitação e a distribuição das obras audiovisuais. O realizador sergipano Marcelo Roque, 42 anos, sabe dos benefícios de ser contemplado por um.

Por meio do Banco do Nordeste, ele produziu em 2007 o filme ‘Seu Euclides: Parafuso' e, em 2009, a continuação, ‘Seu Euclides: Chegança', que já participou de 10 festivais pelo Brasil, inclusive do Curta-SE. Com 12 documentários no currículo, mais os vídeos ‘O Perfeito', ‘Quebra-Cabeça' e a ‘A Paquera', de 2000, Marcelo vem movimentando a cena cultural de Aracaju. Ele é um dos que, como Rosângela Rocha, idealizadora do Curta-SE, participou do Cineclube Fantomas e das oficinas que reacenderam o movimento há 10 anos.

Marcelo vem buscando aos poucos deixar seus filmes para vender em alguns lugares da cidade. Paralelamente produz outros filmes e espera o resultado do BNB para a produção do terceiro filme da série ‘Seu Euclides', com a história do festejo folclórico Lambe Sujo, de Laranjeiras. Ele é do tipo que segue andando, às vezes em grupo, às vezes sozinho, talvez pelo diagnóstico que faz do movimento da classe na cidade.

"Ainda vejo ações isoladas, que precisam de uma firmeza. As que existem hoje a qualquer momento podem sumir. O clássico 'boom' que a gente viu foi com a Embrafilme, depois ressurgiu pela Lei de Cultura. Em Aracaju a gente nunca retomou totalmente", analisa Marcelo.

Possibilidades

Quem talvez tenha condições de dar novo fôlego para isso seja o Pontão Avenida Brasil. Ele é hoje a entidade que realiza o Curta-SE e é quem vai instalar na rua 24 horas uma nova sala comercial para exibir filmes ‘lado B'. Assim que voltar a funcionar, o antigo Cine Vitória, transformado em Sala Avenida Brasil, será também um dos pontos de exibição da capital.

Com a proposta de ser independente e fugir do cinemão, de acordo com Rosângela Rocha, o cine servirá para trazer novos diretores a Aracaju, lançar filmes e continuar com a capacitação. Sobre a área, ela afirma: "Há de ser pensar coletivamente".

Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário