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para ilustrar o presente artigo
Texto publicado originalmente no site do Cine Players, em
05/05/2005
O Iluminado (Shining, The, 1980)
Por Rodrigo Cunha (Avaliação:
9.0)
Uma obra-prima do horror moderno, na melhor adaptação de uma
história de terror do renomado escritor Stephen King.
Stanley Kubrick disse, certa vez, que adorava adaptar livros
medíocres, porque sempre resultavam em bons filmes. Essa foi uma indireta
bastante direta para Stephen King e seus fãs, que bateram o pé e até hoje se
contorcem para sua adaptação de O Iluminado, que alguns dizem ser o livro mais
assustador de King. Muitos consideram este o trabalho mais fraco do diretor.
Opinião que, obviamente, já devem ter percebido que não compartilho. Acho este
filme, do início ao fim, uma obra-prima do horror, e não é difícil entender o
porquê.
É fato que as histórias de King funcionam nos livros, pois
instigam nossa imaginação, mas na tela tudo fica mais trash. Ao invés de dar
medo, acabamos rindo, por mais bem feitos que sejam seus monstros. Não é de se
espantar que os melhores filmes baseados em suas obras, além deste, sejam Um
Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre - justamente dramas, que não
utilizam do artifício "monstros de borracha somados à efeitos
especiais" para funcionar. E é justamente esse o ponto crucial para o
filme de Kubrick ser tão bom, e, ao mesmo tempo, tão odiado pelos adoradores da
obra de origem.
Ele retirou todos os monstros e tudo mais que têm no livro e
manteve apenas o climão e as atitudes de Jack. Com isso, tudo ficou mais
sugestivo, misterioso. Apenas alguns monstrinhos, no final do filme, servem de
aperitivo aos fãs e dizer, para nós, que estamos assistindo ao filme, que existia
algo muito mais macabro do que poderíamos imaginar. Kubrick preferiu se
concentrar na degradação dos personagens no sentido psicológico pelo ambiente,
e não totalmente pela sobrenaturalidade. Esse ponto é importante, porque para
os personagens, Jack apenas enlouqueceu devido a solidão, mas para nós, que
estamos assistindo, sabemos melhor tudo o que está acontecendo.
No filme, conhecemos a história de Jack Torrance (Jack
Nicholson), que aceita o trabalho de zelador de um imenso hotel durante a baixa
temporada do local - um inverno bastante denso e torturoso. Durante esse
período, ele tenta escrever o seu livro, mas um passado sombrio do hotel começa
a aterrorizar a família e afetar diretamente a sanidade de Jack. Sua mulher se
torna passiva a tudo o que está acontecendo, enquanto seu filho tem poderes
paranormais de comunicação com as forças ocultas do lugar.
Um dos melhores aspectos do filme é sua parte técnica. Tudo
contribui para reforçar o clima de solidão do local - algo extremamente
necessário, uma vez que a transição do Jack pai exemplar para o psicopata tinha
de ser convincente (uma das grandes críticas ao filme é justamente que ela foi
rápida demais). Os cenários, amplos e espaçosos, construídos todos em locação,
utilizando apenas a fachada de um grande hotel para as externas, reforçam a
teoria da solidão e do isolamento.
A arte é grandiosa... E vazia. As salas são grandes, com
muito espaço, o que deixa o local altamente pertubador. Some isso ao pesado
clima, construído minuciosamente por Kubrick, e já dá para perceber o quão
aterrorizante é a experiência. A fotografia é realista e não deixa que a
diferença entre estúdio e locação sobressaia, além de um excepcional uso do
inovador Steady Cam*, principalmente na cena do labirinto. (*um equipamento que
evita a trepidação da câmera, enquanto
corremos com ela em mãos)
O Iluminado não é um filme explícito de sustos. É construído
para nos deixar mal, com medo de uma pessoa que, teoricamente, nos ama e só
quer o nosso bem. Algumas seqüências são de gelar a espinha, como a aparição
das gêmeas no corredor, ou então o elevador que derrama uma enorme quantidade
de sangue. O melhor é que, assim como diversos outros filmes de Kubrick, nada é
mastigado demais na história. Sempre há uma brecha para a interpretação, para
que cheguemos a uma conclusão por conta própria, sem necessidade de que o filme
diga para nós sua intenção.
A cena mais marcante é quando Jack coloca seu rosto entre
uma abertura feita na porta com machadadas e diz a imortal frase "Here's
Johnny!". Jack Nicholson, um dos maiores atores de todos os tempos,
improvisou tal fala, e fez um trabalho absolutamente brilhante em cena. Sua
preparação sempre especial lhe concedeu alguns momentos únicos, como a
seqüência do bar. Já Shelley Duvall, só faltou a coitada ser agredida por
Kubrick, tamanho o número de broncas que levou do diretor, mas pelo menos o
resultado final conseguiu ser convincente. Em determinada cena, ela chegou a
filmar mais de 100 takes para que Kubrick conseguisse o que queria. Não descarto
a possibilidade de algumas pessoas torcerem para que Jack consiga matar a
esposa, de tão chata que ela é.
Fiel ou não ao livro, Kubrick construiu um filme
extremamente cativante, que consegue mexer com nossos medos interiores - e
ainda muito melhor que a refilmagem de 1997, que se dizia a versão definitiva e
fiel à obra de origem. O Iluminado é uma obra-prima do horror, que não
necessita apelar para sustos fáceis para assustar, como a grande maioria dos
títulos faz. Seja no drama, na guerra ou na ficção, esta é apenas mais uma
prova da versatilidade do gênio por trás das câmeras. Um grande presente para
aqueles que gostam de ser atormentados por uma história verdadeiramente
macabra.
Texto reproduzido do site: cineplayers.com
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