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Texto publicado originalmente no site do jornal Tribuna do Paraná, em 10/11/2006
O que O diabo veste Prada pode ensinar
Maria Bernadete Pupo
Recém-formada em jornalismo, Andrea Sachs muda-se para Nova
York em busca de um emprego como articulista em alguma revista da cidade. Acaba
conseguindo trabalho na revista de moda Runway, como assistente de Miranda Priestly,
a poderosa chefe de redação do periódico. A divertida história do filme O diabo
veste Prada é, também, uma aula de recursos humanos. Há situações que envolvem
desde o momento da seleção, as dificuldades no ambiente de trabalho, como lidar
com os grupos informais, até a gestão de pessoas e estilos de liderança.
A postura da personagem Andrea durante a entrevista de
emprego é inadequada ao perfil da vaga e ao ambiente. Ela sequer pesquisou com
antecedência a organização para a qual se candidatara. Fica, pois,
desconcertada quando Miranda lhe pergunta se conhecia a revista Runway. O caso
fictício serve de alerta: a busca por emprego requer planejamento e foco. No
início da entrevista, Andrea diz: Enviei currículo para todo mundo e fui
chamada por vocês?, ou seja, atirou para todos os lados. O planejamento pode
evitar a exposição desnecessária e mais dissabores.
No final da entrevista, num golpe de sorte, a candidata
acaba conseguindo a vaga – totalmente diferente do seu emprego dos sonhos. A
função tem atrativos fabulosos (pelos quais um milhão de fashionistas? era
capaz de dar a vida) e dificuldades imensas.
Passada a surpresa inicial, Andrea demonstra qualidades
indispensáveis para qualquer profissional que deseja sucesso no mundo
corporativo: equilíbrio emocional para aceitar os ataques da colega Emily, além
de maleabilidade e flexibilidade dentro de universo com o qual não se
identificava (divas da moda magérrimas, batendo seus saltos altos pelos
corredores da redação). É um exemplo de que as pessoas são adaptáveis e, quando
querem, conseguem superar os próprios limites. Depois que Andrea foi colocada
frente ao desafio, recusou-se a fracassar, um ponto fundamental para quem
deseja vencer.
No entanto, como assistente pessoal de Miranda, Andrea vê-se
forçada a suportar toda uma série de abusos, realizando tarefas como
encomendar-lhe o almoço, tratar-lhe da roupa suja, fazer-se de motorista para a
cadelinha, preparar-lhe as viagens… A funcionária é obrigada a estar disponível
à chefe nas 24 horas do dia, sem jamais receber um elogio. Para piorar, a
arrogante e insegura assistente Emily, que enxerga em Andrea uma ameaça ao seu
emprego, lhe atribui críticas e menospreza suas habilidades – problemas a que
todos estamos sujeitos, principalmente no início do emprego. Ao final Andrea
consegue conquistá-la (outra habilidade necessária para manter o bom
relacionamento interpessoal no dia-a-dia).
Diante do abuso de poder praticado por Miranda (motivo que,
no mundo real, tem rendido uma série de processos para as organizações por
assédio moral), Andrea acaba anulando sua vida pessoal na medida em que os
pedidos da chefe, sempre emergenciais, tornam-se cada vez mais absurdos, a
qualquer hora do dia ou da noite. Ela se adapta de tal forma que vive uma
mudança radical, tanto física quanto comportamental.
Nota-se que a jovem personagem tinha obsessão pela sua
carreira. Quando percebe que poderia transformar todos aqueles desafios em
oportunidades, doa-se de corpo e alma. Talvez ainda não tivesse entendido que
para isso tudo tinha um preço a pagar. A pergunta é: será que um ano de
sacrifício ao serviço de um diabo que veste Prada não é um preço demasiadamente
alto? Este é um drama presente na vida de muitas pessoas.
O filme ensina, além da importância da preparação na busca
de um emprego, que nem tudo vale a pena para mantê-lo. Perseverança, dedicação,
humildade, seriedade e honestidade são fatores muito relevados no mundo
corporativo, mas nada deve ultrapassar o limite de nossa dignidade e
integridade.
Maria Bernadete Pupo é gerente de RH do Centro Universitário
Fieo (Unifieo), em Osasco (SP).
Texto reproduzido do site: tribunapr.com.br
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