James Cameron, acostumado a reinar nas bilheterias
desde 'Titanic' de 1997, segura o Globo de Ouro
de melhor filme por 'Avatar'.
Foto: AP/AP
Publicado originalmente no site G1 Globo, em 7 de fevereiro de 2010
Apesar dos recordes, 'Avatar' está longe de ser o filme mais
visto do mundo
Em bilheterias, ele é o que mais vendeu no mundo e na
América do Norte.
Mas 'E o vento levou', clássico de 39, é líder em número de
espectadores.
Por Diego Assis
Do G1, em São Paulo
Maior bilheteria do cinema mundial, com US$ 2,08 bilhões
acumulados até a última sexta-feira (5), "Avatar" já se consolidou
como o novo marco comercial da indústria para este início de século XXI. Desde
sua estreia, em dezembro de 2009, o épico futurista de James Cameron já coleciona
uma série de recordes de desempenho e, na semana passada, tornou-se
oficialmente o filme que mais arrecadou na América do Norte (EUA e Canadá) em
todos os tempos, com US$ 606,5 milhões em ingressos vendidos na região até
sexta. O recorde teve um gostinho especial para James Cameron: foi marcado em
cima de outro de seus filmes, o gigante "Titanic", que permanecia
intacto no trono desde 1998.
Os números são, de fato, impressionantes. Não é todo dia que
um blockbuster rompe a barreira dos US$ 500 milhões nas bilheterias
norte-americanas, ainda mais quando se trata de uma franquia totalmente inédita
- sucessos mais recentes como "Batman - O cavaleiro das trevas" e
"Shrek 2", por exemplo, tinham a seu favor o fato de já estarem no imaginário
do público. Mas, quando se olha por outro ângulo, o do número de pessoas que
efetivamente compraram seus ingressos e entraram em uma sala de cinema para
assistir ao filme, "Avatar" está ainda a léguas de distância do
campeão absoluto desde 1939, o clássico "E o vento levou".
O principal motivo da distorção é fácil de entender: desde o
início da tabulação do desempenho dos filmes no mercado norte-americano, sempre
se contou os resultados em dólares arrecadados, nunca em tamanho de público,
como se faz no Brasil, por exemplo. De acordo com o site especializado na
indústria cinematográfica da região BoxOfficeMojo.com, simplesmente não há
dados 100% seguros sobre número de espectadores de um filme neste que é
certamente o maior mercado de cinema do mundo. O site, que é o mais confiável
do setor, criou no entanto um método prático para se calcular o número
aproximado de espectadores de um filme, dividindo-se o total arrecadado pelo
preço unitário médio do ingresso na época do lançamento.
Ginástica matemática
Por meio desse cálculo, estima-se que cerca de 202 milhões
de norte-americanos tenham visto "E o vento levou" quando o ingresso
custava em média US$ 0,23. Na outra ponta, "apenas" 61 milhões de
pessoas viram "Avatar" até agora na América do Norte. Justiça seja
feita, o filme de Cameron está em cartaz há oito semanas, enquanto que "E
o vento levou" foi exibido durante anos em sua versão original e teve pelo
menos sete relançamentos. Ainda assim, se atualizarmos os US$ 0,23 do ingresso
de 1939 para os US$ 7,61 de 2010, o clássico estrelado por Clark Gable estaria
com US$1,5 bilhão em bilheterias - só na
América do Norte.
Cartaz original de 'E o vento levou', clássico com Clark
Gable
e Vivian Leigh, que sustenta há 70 anos
o recorde de mais visto nos
cinemas
Foto: Reprodução
Também em valores atualizados, "Avatar" fica atrás de
superproduções como "Star wars" e "E.T.", que ocupam a
segunda e a quarta posições, respectivamente, e do próprio "Titanic",
na sexta colocação.
Por fim, outro fator que contribui para dificultar as
comparações entre o sucesso de
"Avatar" e o de outros blockbusters no passado está ligado a
uma característica peculiar do primeiro: trata-se concretamente do primeiro
grande lançamento a ocupar mais salas 3D e de tecnologia IMAX do que as
tradicionais, e o preço do ingresso nessas instalações mais modernas também
tende a variar para mais.
Segundo relatório do BoxOfficeMojo, 64% da renda de
"Avatar" na América do Norte foi feita em salas 3D, 16% em IMAX e
outros 19% em cinemas convencionais. Com preço médio de US$ 14,58, um ingresso
de sala IMAX equivale a praticamente o dobro de um ingresso normal; o de uma
sala 3D gira em torno de US$ 10.
Com isso, é compreensível que "Avatar" acumule
cifras mais altas que "Titanic", por exemplo, mas que continue na 53ª
posição em público estimado, contra o 6º lugar do drama romântico de Leonardo
DiCaprio e Kate Winslet.
Ducha de água fria?
Apesar de todas as ponderações necessárias, o desempenho
comercial de "Avatar" na América do Norte e no mercado internacional
continua impressionando mesmo os profissionais do setor.
"'Avatar' é um fenômeno. Não há a menor dúvida. Ele
pode estar atrás de 'Titanic' ainda em termos de espectadores, mas 'Titanic'
tinha um público mais amplo, que ia desde as garotas adolescentes até a
terceira idade. 'Avatar' tem um público mais direcionado", opina Pedro
Butcher, editor do Filme B, site brasileiro sobre o mercado de cinema do país.
Mistura de animação, 3D e live action:
Sam Worthington em
frente a seu 'avatar'
Foto: Divulgação
Por aqui, "Avatar" já acumula R$ 77,8 milhões
arrecadados e um público de 7,2 milhões de espectadores, segundo dados de
sexta-feira do Filme B. Para efeito de comparação, "A era do gelo 3",
filme mais visto no país em 2009, rendeu R$ 81 milhões nas bilheterias e foi
assistido por 9 milhões de brasileiros.
Segundo Butcher, talvez o principal feito de
"Avatar" não esteja nos números mas em transformar o hábito dos
cinéfilos no mundo todo. "'Avatar' é realmente um marco do cinema digital
e 3D. O que acontece agora é que o próximo 'Harry Potter' e 'Fúria de titãs'
serão convertidos em 3D. Se o lançamento tiver o mesmo público-alvo de 'Avatar'
vai ficar estranho não sair também em 3D", conclui.
James Cameron, claro, sabe disso tudo há muito tempo e já
promete, para breve, uma versão em 3D de "Titanic". De uma forma ou
de outra, parece que o diretor megalômano vai continuar reinando no mundo do
cinema por um bom tempo.
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com
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