quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Bilheteria do filme 'Avatar', em 2010

James Cameron, acostumado a reinar nas bilheterias 
desde 'Titanic' de 1997, segura o Globo de Ouro
de melhor filme por 'Avatar'.  
Foto: AP/AP

Publicado originalmente no site G1 Globo, em 7 de fevereiro de 2010

Apesar dos recordes, 'Avatar' está longe de ser o filme mais visto do mundo

Em bilheterias, ele é o que mais vendeu no mundo e na América do Norte.

Mas 'E o vento levou', clássico de 39, é líder em número de espectadores.

Por Diego Assis
Do G1, em São Paulo

Maior bilheteria do cinema mundial, com US$ 2,08 bilhões acumulados até a última sexta-feira (5), "Avatar" já se consolidou como o novo marco comercial da indústria para este início de século XXI. Desde sua estreia, em dezembro de 2009, o épico futurista de James Cameron já coleciona uma série de recordes de desempenho e, na semana passada, tornou-se oficialmente o filme que mais arrecadou na América do Norte (EUA e Canadá) em todos os tempos, com US$ 606,5 milhões em ingressos vendidos na região até sexta. O recorde teve um gostinho especial para James Cameron: foi marcado em cima de outro de seus filmes, o gigante "Titanic", que permanecia intacto no trono desde 1998.

Os números são, de fato, impressionantes. Não é todo dia que um blockbuster rompe a barreira dos US$ 500 milhões nas bilheterias norte-americanas, ainda mais quando se trata de uma franquia totalmente inédita - sucessos mais recentes como "Batman - O cavaleiro das trevas" e "Shrek 2", por exemplo, tinham a seu favor o fato de já estarem no imaginário do público. Mas, quando se olha por outro ângulo, o do número de pessoas que efetivamente compraram seus ingressos e entraram em uma sala de cinema para assistir ao filme, "Avatar" está ainda a léguas de distância do campeão absoluto desde 1939, o clássico "E o vento levou". 

O principal motivo da distorção é fácil de entender: desde o início da tabulação do desempenho dos filmes no mercado norte-americano, sempre se contou os resultados em dólares arrecadados, nunca em tamanho de público, como se faz no Brasil, por exemplo. De acordo com o site especializado na indústria cinematográfica da região BoxOfficeMojo.com, simplesmente não há dados 100% seguros sobre número de espectadores de um filme neste que é certamente o maior mercado de cinema do mundo. O site, que é o mais confiável do setor, criou no entanto um método prático para se calcular o número aproximado de espectadores de um filme, dividindo-se o total arrecadado pelo preço unitário médio do ingresso na época do lançamento.

Ginástica matemática

Por meio desse cálculo, estima-se que cerca de 202 milhões de norte-americanos tenham visto "E o vento levou" quando o ingresso custava em média US$ 0,23. Na outra ponta, "apenas" 61 milhões de pessoas viram "Avatar" até agora na América do Norte. Justiça seja feita, o filme de Cameron está em cartaz há oito semanas, enquanto que "E o vento levou" foi exibido durante anos em sua versão original e teve pelo menos sete relançamentos. Ainda assim, se atualizarmos os US$ 0,23 do ingresso de 1939 para os US$ 7,61 de 2010, o clássico estrelado por Clark Gable estaria com  US$1,5 bilhão em bilheterias - só na América do Norte.

Cartaz original de 'E o vento levou', clássico com Clark Gable 
e Vivian Leigh, que sustenta há 70 anos 
o recorde de mais visto nos cinemas
Foto: Reprodução

Também em valores atualizados,  "Avatar" fica atrás de superproduções como "Star wars" e "E.T.", que ocupam a segunda e a quarta posições, respectivamente, e do próprio "Titanic", na sexta colocação.

Por fim, outro fator que contribui para dificultar as comparações entre o sucesso de  "Avatar" e o de outros blockbusters no passado está ligado a uma característica peculiar do primeiro: trata-se concretamente do primeiro grande lançamento a ocupar mais salas 3D e de tecnologia IMAX do que as tradicionais, e o preço do ingresso nessas instalações mais modernas também tende a variar para mais.

Segundo relatório do BoxOfficeMojo, 64% da renda de "Avatar" na América do Norte foi feita em salas 3D, 16% em IMAX e outros 19% em cinemas convencionais. Com preço médio de US$ 14,58, um ingresso de sala IMAX equivale a praticamente o dobro de um ingresso normal; o de uma sala 3D gira em torno de US$ 10.

Com isso, é compreensível que "Avatar" acumule cifras mais altas que "Titanic", por exemplo, mas que continue na 53ª posição em público estimado, contra o 6º lugar do drama romântico de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.

Ducha de água fria?

Apesar de todas as ponderações necessárias, o desempenho comercial de "Avatar" na América do Norte e no mercado internacional continua impressionando mesmo os profissionais do setor.

"'Avatar' é um fenômeno. Não há a menor dúvida. Ele pode estar atrás de 'Titanic' ainda em termos de espectadores, mas 'Titanic' tinha um público mais amplo, que ia desde as garotas adolescentes até a terceira idade. 'Avatar' tem um público mais direcionado", opina Pedro Butcher, editor do Filme B, site brasileiro sobre o mercado de cinema do país.

Mistura de animação, 3D e live action: 
Sam Worthington em frente a seu 'avatar'
Foto: Divulgação

Por aqui, "Avatar" já acumula R$ 77,8 milhões arrecadados e um público de 7,2 milhões de espectadores, segundo dados de sexta-feira do Filme B. Para efeito de comparação, "A era do gelo 3", filme mais visto no país em 2009, rendeu R$ 81 milhões nas bilheterias e foi assistido por 9 milhões de brasileiros.

Segundo Butcher, talvez o principal feito de "Avatar" não esteja nos números mas em transformar o hábito dos cinéfilos no mundo todo. "'Avatar' é realmente um marco do cinema digital e 3D. O que acontece agora é que o próximo 'Harry Potter' e 'Fúria de titãs' serão convertidos em 3D. Se o lançamento tiver o mesmo público-alvo de 'Avatar' vai ficar estranho não sair também em 3D", conclui.

James Cameron, claro, sabe disso tudo há muito tempo e já promete, para breve, uma versão em 3D de "Titanic". De uma forma ou de outra, parece que o diretor megalômano vai continuar reinando no mundo do cinema por um bom tempo.

Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com

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