A atriz Sue Lyon, que encarnou a Lolita no
filme de Stanley Kubrick de 1962
filme de Stanley Kubrick de 1962
Publicado originalmente no site do jornal EL PAÍS BRASIL, em 28/12/2019
Morre Sue Lyon, a Lolita de Stanley Kubrick
O autor do romance, Vladimir Nabokov, considerava que a
atriz, falecida na última quinta-feira aos 73 anos, era a única que podia
interpretar a personagem na telona
Por Gregorio Belinchón
Sue Lyon, que aos 14 anos deu vida a Lolita no filme
homônimo de 1962 de Stanley Kubrick, morreu na noite da última quinta-feira aos
73 anos em Los Angeles (Estados Unidos). A causa da morte não foi divulgada,
mas a saúde da atriz vinha piorando nos últimos anos, como revelou seu amigo
Phil Syracopoulos. Embora seu papel mais conhecido seja o de Lolita, ela esteve
na ativa desde 1959, quando estreou na série The Loretta Young Show (na qual
Kubrick a descobriu), até 1980, com Alligator – O Jacaré Gigante.
Não demorou para que aquela imagem de uma adolescente de
biquíni com óculos escuros em forma de corações, na beira de uma piscina e
chupando pirulito (o cartaz do filme, de Bert Stern, imagem que não aparecia no
longa), ou deixando-se pintar as unhas dos pés por um transtornado Humbert
Humbert —encarnado por James Mason—, marcasse o inconsciente de uma geração de
cinéfilos, que se lembrarão de como o pedófilo Humbert pronunciava com pausas
seu nome: “Lo-Li-Ta”. Seu grande papel veio após um casting exaustivo, do qual
mais de 800 atrizes participaram. O autor do romance original, Vladimir Nabokov,
considerava que ela era a única que podia interpretar a jovem na telona. “A
ninfa perfeita”, foi o apelativo que o escritor usou para se referir a ela,
embora dizendo que também teria gostado se a personagem fosse interpretada pela
francesa Catherine Demongeot. Stanley Kubrick evitou problemas com a censura ao
escolher uma atriz com mais idade (14 anos, embora na tela fosse dito que
Lolita tinha 15) que a da ninfeta do livro (12).
Para Suellyn Lyon, foi o princípio e o fim, a virtude de
encontrar um papel que a lançaria ao estrelato e interpretá-lo à perfeição, e a
condenação de que nenhum espectador a esqueceria, por mais que crescesse na
frente e atrás das câmeras. Nascida em Davenport (Iowa), Lyon começou a atuar
ainda criança. Caçula de cinco filhos, seu pai morreu quando ela tinha apenas
10 meses. Com a mudança da família para Los Angeles, Lyon trabalhou como modelo
para catálogos da rede de lojas J. C. Penney e apareceu em alguns comerciais na
TV. Antes de Lolita, só tinha participado de produções para a telinha, como a
série Dennis the Menace e a citada The Loretta Young Show.
Depois de sua primeira incursão no cinema, que lhe valeu o
Globo de Ouro de 1963 na categoria “Atriz revelação”, trabalhou em The Night of
The Iguana (1964), sob a direção de John Houston. Naquele mesmo ano se casou,
numa breve união, com o roteirista Hampton Fancher III. No cinema ela não se
deu muito melhor, com trabalhos em Sete Mulheres (1966), de Ford; Um Magnífico
Farsante (1967), de Irvin Kershner; e o Tony Rome (1967), com Frank Sinatra.
Warren Beatty quase a escolheu para estrelar com ele Bonnie e Clyde, mas se
decidiu por Faye Dunaway, enquanto Lyon se casava com o fotógrafo
afro-americano Roland Harrison em 1971. Desse casamento nasceu sua filha, Nona,
em Los Angeles, antes do divórcio do casal, em 1972. Lyon atribuía alguns de
seus comportamentos mais erráticos ao fato de ser maníaco-depressiva, condição
tratada com lítio.
Um bom exemplo é seu terceiro casamento, que em 1973 a uniu
com um detento de uma prisão de Denver, Gary Adamson, condenado por roubo e
assassinato. Lyon conseguiu que a pena dele fosse reduzida, trabalhou como
garçonete perto da penitenciária e se divorciou em 1974, quando Adamson voltou
a roubar. Ela se casaria outras duas vezes.
Lyon não conseguiu melhores papéis no cinema nem na TV. Sua
carreira artística acabou em 1980 com Alligator – O Jacaré Gigante, com Robert
Forster, e ela tornou pública a sua retirada em 1986. Durante muito tempo, a
atriz renegou Lolita. Em 1997, quando estreou a nova versão de Adrian Lynne,
ela disse à Reuters: “Estou horrorizada com a ideia de que querem ressuscitar o
filme que causou minha destruição como pessoa”.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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