Publicado originalmente no site PROIBIDO LER, em 23 de outubro de 2014
Filmes proibidos e suas histórias polêmicas – Parte 1
Quando se trata de história do cinema, muita coisa fica
escondida pela censura. Confira aqui filmes proibidos e suas histórias
polêmicas.
Por Juliane Rodrigues (Exuliane)
Nas revistas, nos jornais, na TV ou no cinema, nada melhor
do que uma polêmica para tornar algo interessante. Os filmes estão cheios
delas! Antigos ou atuais, coloridos ou em preto e branco. Quando se trata de história do cinema muita
coisa fica escondida pela censura. Por isso, resolvi listar filmes proibidos e
suas histórias polêmicas por aqui. Confira agora a primeira parte da matéria
que vai fazer você querer assistir todos
da lista, e quem sabe até procurar saber mais sobre o lado oculto do cinema.
O primeiro filme da lista, é também a primeira polêmica do
cinema. Para seguir uma linha do tempo.
Em 1986, The Kiss foi considerado obsceno demais para o público:
The Kiss (1886) – Thomas Edison & William Heise
Contendo apenas um minuto, com um beijo técnico entre os
atores. Isso mesmo, só um minuto! Claro que hoje em dia ele pode ser
considerados um dos mais puros do cinema – tendo em vista que existem filmes
com sexo explícito nas telonas.
–
Já em 1915, surge O nascimento de uma nação, considerado um
dos filmes mais racistas já criado:
O Nascimento de uma nação (1915) – D.W. Griffith
Dois irmãos da família Stoneman visitam os Cameron em
Piedmont, Carolina do Sul. Esta amizade é afetada pela a Guerra Civil, pois os
Cameron se alistam no exército Confederado enquanto os Stoneman se unem às
forças da União. São retratadas as consequências da guerra na vida destas duas
famílias e as conexões com os principiais acontecimentos históricos, como o
crescimento da Guerra da Secessão, o assassinato de Lincoln e o nascimento da
Ku Klux Klan.
–
Em 1932, a obra original que inspirou um dos remakes mais
queridinhos do cinema, Scarface, foi criticada por tratar de um assunto
delicado demais para a época: o crime organizado.
Scarface – A vergonha
de uma nação (1932) – Howard Hawks
Tony “Scarface” Camonte (Paul Muni) trabalha para Johnny
Lovo (Osgood Perkins), um ambicioso gângster que deseja criar um império do
crime em Chicago. Baseado na vida de Al Capone, “Scarface” revive um dos
maiores e poderosos gângsters de todos os tempos, aplaudido, na época, pelo
próprio Capone.
–
No mesmo ano, o filme Monstros, foi criticado por exibir
pessoas deformadas. Baita preconceito, diga-se de passagem:
Monstros (1932) – Tod Browning
Sob a direção de Tod Browning, “Freaks” é um cult clássico
de 1932 que abalou a sociedade da época, foi rejeitado, trancafiado e somente
após 30 anos, na década de 60, que foi posto a mostra no mundo todo, em
exibições de cinemas sujos e festivais amadores. O motivo de tanta polêmica e
rejeição está na essência da trama, nas críticas e nos personagens incomuns.
–
Em 1935, o filme O Triunfo da vontade, fez apologia ao
nazismo:
O Triunfo da vontade (1935) – Leni Riefenstahl
O congresso Nacional-Socialista alemão de 1934 é documentado
de maneira impressionante pela cineasta Leni Riefenstahl. No início, um bimotor
desce dos céus, Adolf Hitler sai sorridente e é ovacionado pela multidão. Tudo
é gigantesco: são paradas, desfiles monumentais e discursos para um público
vibrando. Um espetáculo cinematográfico hipnótico que retrata, com imagens
fortes, o regime nazista. Leni Riefenstahl – Cineasta oficial do partido
Nazista, ao qual nunca se filiou, e que dispôs de grandes recursos para
realizar este documentário e criar efeitos grandiosos.
Ela dirigiu também Olimpíadas (Olympia), sobre os jogos
Olímpicos de 36, em Berlim, cidade onde nasceu. Uma artista completa, Leni era
bailarina, atriz e sabia dirigir, editar, produzir e escrever. Trabalhou com
foto-jornalismo durante a Segunda Guerra Mundial e foi presa pelos aliados e
acusada de fazer propaganda nazista. Desde 52, quando foi inocentada, tem
colocado novamente seu grande talento e criatividade a serviço do jornalismo.
–
Já em 1956, o filme Baby Doll, conhecido como Boneca de
carne, foi criticado pela igreja católica pela cobiça a mulher do próximo:
Boneca de carne (1956) – Elia Kazan
Archie Lee Meighan (Karl Malden) é um homem de meia idade
que é proprietário de uma descaroçadeira de algodão. Archie espera ansiosamente
o 20º aniversário de sua mulher, pois nesta data poderá, segundo um trato entre
o casal, “consumar” o casamento. Entretanto seu rival comercial, que teve sua
descaroçadeira destruída em um incêndio, suspeita que Archie é o responsável
pelo incêndio e decide conseguir provas que o incriminem, utilizando a jovem
mulher dele.
–
Em 1961, Meu passado me condena, um filme que tratava de
homossexualidade e chantagem, foi considerado imoral:
Meu passado me condena (1961) – Basil Dearden
Um dos primeiros filmes a falar abertamente sobre
homossexualidade. Com a impressionante característica de que, na época,
homossexualidade era crime na Grã-Bretanha, crime que dava cadeia, e era
considerado tão grave quanto assalto. E ainda chamado de homossexualismo,
caracterizado como doença. No longa, o jovem Jack Barrett (Peter McEnery) é
preso pela polícia sob a acusação de ter furtado uma quantia em dinheiro da
firma para qual trabalhava. Com ele, as autoridades encontram um álbum de
recortes de jornal sobre o advogado Melville Farr (Dirk Bogarde), profissional
respeitado no meio jurídico e que está prestes a obter uma indicação para
integrar o Conselho da Rainha. A investigação fará com que Farr se envolva numa
rede de chantagistas contra homossexuais, prática considerada criminosa pela
lei inglesa.
–
No ano de 1962, Lolita, o clássico de Kubrick, baseado em
uma obra considerada apologia à pedofilia, foi motivo de alvoroço pelos
conservadores. E para encerrar a primeira parte da matéria com chave de ouro
(ou de cadeia) fique agora com a história de Lolita:
Lolita (1962) – Stanley Kubrick
Adaptado do romance lançado em 1955, Lolita causou uma forte
impressão desde seu lançamento, pela forma do autor escrever, e pelo desafio à
moral e bons costumes da época. Se não fosse o talento de Vladimir Nabokov, o
livro poderia se tornar um romance pornográfico e fetichista, ou pior, acabar
como um decadente elogio à pedofilia, como muita gente ainda afirma que é.
H.H. é o único narrador da história que não deixou isso
explícito, ao menos para todos. Ler seu relato é se colocar na sua pele
apaixonada, e até doentia. Inicialmente, o autor tentou publicar sob o
pseudônimo de “Vivian Darkbloom”, mas vários editores recusaram o manuscrito, e
o livro saiu com o nome real do autor, com cinco mil cópias, que foram vendidas
tão rapidamente quanto se espalharam pela Europa.
O jornalista John Gordon escreveu no Sunday Express, jornal
londrino, que o livro era “o mais pervertido que já havia lido”, e sua voz
encontrou as ruas e a atenção dos conservadores. Um ano após receber o livro
sobre a suposta ninfeta, a França o baniu por 2 anos. E a polêmica já tinha
ocupado os tabloides por todo mundo. Assim, quando a G.P. Putnam’s Sons
publicou o livro nos Estados Unidos (em 18 de agosto de 1958) as vendas foram
enormes. Lolita foi o primeiro livro, depois de “E o vento levou” a vender 100
mil cópias nas primeiras 3 semanas. Poucos dias após seu lançamento, já se
encontrava na 3ª edição e apesar do livro ocupar o centro dos debates
literários, psicológicos e morais no país, nunca foi proibido nos Estados
Unidos. Lolita ganhou o mundo. Só em português existem 3 traduções. Dentre as mais atrasadas, a China
só liberou Lolita de qualquer censura em 2006.
O livro também ganhou duas adaptações para o cinema, que
conversaram longamente com a censura. A primeira delas, de Stanley Kubrick em
1962, foi a mais prejudicada. O filme sofreu uma repaginada pelos
conservadores, e apesar de não ser o maior destaque na filmografia de Kubrick,
é um clássico. A versão de 1997, de
Adrian Lyne, foi muito mais livre e deu um ar extra a Lolita, 20 anos após a
morte de Nabokov.
A obsessiva e complexa paixão de um homem por uma menina
precoce, que ganhou o mundo com óculos em forma de coração, e se enraizou na
cultura pop. É tudo sobre Lolita, como
diria H.H em seu relato...
Publicado originalmente no site PROIBIDO LER, em 24 de outubro de 2014
Filmes proibidos e suas histórias polêmicas – Parte 2
Por Juliane Rodrigues (Exuliane)
Na primeira parte desta matéria – que você pode conferir
clicando aqui – citei alguns filmes censurados e com histórias polêmicas. Nessa
segunda parte, vou dar continuação à linha do tempo mais escandalosa do cinema.
Filmes proibidos e/ou censurados costumam ser lembrados mais pelo impacto que
causam do que por suas qualidades cinematográficas. O que não é o caso dessa
lista, onde a maioria dos filmes tem uma direção e produção impecáveis, e são
conhecidos. Começando pelo queridinho de muitos.
Em 1971, o filme Laranja Mecânica, foi censurado em vários
países, inclusive aqui no Brasil. E rendeu ao diretor ameaças de morte:
Laranja Mecânica (1971) – Stanley Kubrick
Kubrick queria questionar o sistema com sua obra-prima ultra
violenta, o que gerou protestos em quase todos os países onde foi exibido. Por
conta dos excessos, foi banido na Irlanda, Malásia, Cingapura, Argentina,
Brasil, Chile, Coreia do Sul, entre outros. Mas a proibição mais inusitada veio
da Inglaterra. O próprio Kubrick pediu para que o retirassem dos cinemas,
porque ele e a família haviam sido ameaçados de morte. Em uma Grã-Bretanha
futurista, uma gangue conhecida por “Drugs” passa a noite promovendo espancamento
e estupro de vítimas indefesas. Quando finalmente um deles é pego pela polícia,
concorda em passar por uma terapia de aversão para encurtar sua sentença.
–
Em 1972, o filme Pink Flamingos, foi censurado em alguns
locais, por conter uma cena de coprofagia (ingestão de fezes):
Pink Flamingos (1972) – John Waters
Pink Flamingos é um longa-metragem americano de baixo
orçamento, escrito e dirigido por John Waters, lançado em 1972 no circuito underground,
onde alcançou notável sucesso e tornou-se ícone do cinema bizarro. O filme
conta a trajetória da drag-queen Divine, e sua família na competição contra o
casal Connie e Raymond Marble, pelo título de “pessoas mais sórdidas do mundo”,
insensatamente almejado.
–
Em 1975, Saló – Os 120 dias em Sadoma, foi censurado por
fetiches bizarros, tortura, abuso sexual, pedofilia, escatologia e coprofagia:
Saló – Os 120 dias em Sadoma (1975) – Pier Paolo Pasolini
Baseado livremente em histórias do Marquês de Sade (“Círculo
de Manias”, “Círculo da Merda” e “Círculo do Sangue”), passa-se na Itália
controlada pelos nazistas, onde quatro libertários fascistas sequestram 16
jovens e os aprisionam em uma mansão com guardas. A partir daí, eles passam a
ser usados como fonte de prazer, masoquismo e morte.
–
Já em 1978, o filme Faces da morte, foi criticado pelos
conservadores, por exibir mortes reais:
Faces da morte (1978) John Alan Schwartz
Devido as cenas “chocantes” não colocarei imagens do filme.
Primeira parte de uma das séries mais comentadas do cinema,
o filme examina a morte bem de perto, de todos os ângulos. Por isso, os
espectadores com estômago fraco devem passar bem longe deste lançamento. Este
volume apresenta uma sangrenta luta de cães, um jantar com cérebro de macaco,
um homem ateando fogo no próprio corpo, uma visita a um quarto de autópsias,
entre outras atrocidades mortais.
Em 1979, Calígula foi banido em muitos países, por seu
conteúdo pornográfico:
Calígula (1979) – Tinto Brass
Calígula é uma das produções mais polêmicas já lançadas,
justamente devido às suas cenas de sexo explícito. O filme mostra as perversões
sexuais do louco imperador romano Calígula, interpretado por Malcolm McDowell,
que mantém um caso com sua própria irmã e é casado com uma prostituta, além de
organizar várias orgias e perversões sexuais em seu império. Ele também é
cercado de vários falsos bajuladores que desejam vê-lo longe do poder.
–
No mesmo ano, o filme O tambor, baseado no livro escrito por
Gunter Grass, foi acusado de apologia à pornografia infantil:
O Tambor (1979) – Volker Schlondorff
Apesar de levar o
prêmio palma de ouro em Cannes, como melhor filme estrangeiro, uma cena de sexo
oral entre o protagonista e uma menina de 16 anos foi considerada pornografia
infantil. O filme acabou sendo censurado em vários países, como Itália,
Irlanda, Inglaterra, África do Sul, Singapura, alguns estados conservadores dos
EUA, e até no Canadá, onde continua sendo inédito.
–
Já em 1980, o filme Holocausto Canibal, gerou polêmica
devido ao realismo nas cenas de morte, incluindo a cena mais dolorosa do
cinema: a morte de uma tartaruga, real.
Holocausto Canibal (1980) Ruggero Deodato
Um professor da Universidade de Nova York sai em expedição à
Amazônia em busca de quatro jovens documentaristas que desapareceram durante
uma filmagem. Lá chegando, ele descobre que os cineastas foram mortos por
canibais, mas consegue recuperar os rolos de filme gravados por eles. De volta
aos Estados Unidos, estas filmagens revelam os horrores que os documentaristas
passaram nas mãos dos canibais. O realismo deixou o diretor em apuros de tal
forma, que quase o prenderam. Isso porque suspeitarem que ele havia matado os
protagonistas na vida real, assim como fez com os animais.
–
Em 1994, o filme Assassinos por Natureza, inspirou
assassinos da vida real, em busca dos 15 minutinhos de fama:
Assassinos por Natureza (1994)
Cerca de 12 mortes nos EUA e em outros países foram associadas
à obra de Oliver Stone, que acabou processado pelas famílias das vítimas. O
longa conta a história de um casal de serial killers que viaja pelos EUA,
provocando uma matança desenfreada por diversão, e que acabam se tornando
celebridades.
–
Em 2009, o filme O Anticristo foi alvo de críticas por
conter cenas de mutilações:
Com cenas de sexo explícito e mutilações, chocou a todos no
Festival de Cannes, o enredo gira em torno de um casal devastado pela morte do
filho que vai passar uma temporada na cabana isolada numa floresta e não
consegue se ajustar. As cenas de mutilações em close chocaram a plateia de
Cannes e em muitos países elas foram eliminadas ou podadas. Mas no Brasil estão
intactas e o filme, exibido pelo Cinema de Arte, foi debatido por psicólogos e
filósofos.
No mesmo ano, A centopeia humana, considerado um dos filmes
mais chocantes feitos até hoje.
A centopeia humana – (2009) Tom Six
O internacionalmente respeitado cirurgião de gêmeos siameses
Dr. Josef Heiter tem uma doentia visão para o futuro da humanidade. Ele quer
remover a rótula para que os humanos tenham que andar de 4 e então cirurgicamente
costurá-los boca-ao-ânus para formar uma cadeia de centopéia. Quando duas
amigas americanas chegam ao seu luxuosa mansão procurando por ajuda, seu plano
rapidamente se transforma em ação com uma força chocante. Sequestrando uma
terceira pessoa, um turista japonês, ele começa seu jogo de tecidos humanos,
removendo dentes e nádegas e moldando-as para criar sua tripla criatura.
Por último, e não menos importante. Em 2010, Serbian Film.
Tortura, estupro, necrofilia, pedofilia e degradação humana,
são o prato principal desse longa.
Proibido em diversos países, inclusive no Reino Unido, onde
foi considerado o filme mais indecente de todos os tempos, precisou passar por
49 cortes para ser lançado com censura de 18 anos. Ou seja, provavelmente você
não viu a versão completa desse filme, ou melhor, quase ninguém viu.
Fun fact: esse filme conseguiu ser TÃO polêmico, que em pleno
2011 conseguiu ser censurado no Brasil!
SIM, CENSURADO NO BRASIL!
Em 2011, apenas cinco dias depois da estreia de “A Serbian
Film – Terror Sem Limites”, uma ação movida pelo partido DEM fez com que a
juíza Katerine Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso
determinasse a apreensão da cópia do filme no Rio de Janeiro. Na ação acatada
pela juíza, argumentava-se que “A Serbian Film – Terror Sem Limites faz
verdadeira apologia a crimes contra criança e é um incentivo para práticas de pedofilia”.
Logo, a Petrini Filmes, detentora dos direitos de distribuição no Brasil,
entrou com um recurso para recuperar a cópia, que foi negado. Na decisão, a
desembargadora Gilda Maria Dias Carrapatoso argumentou que “não se pode admitir
e permitir que, em nome da liberdade de expressão, cenas de extrema violência
física e moral, inclusive, utilizando recém-natos sejam levadas ao grande
público, vez que podem provocar reações adversas, às vezes, em cadeia, em
pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico adequado para suportar tais
evidências de desumanidade”.
O caso foi levado adiante e suscitou muito debate sobre um
eventual retorno da censura no país. A Associação Brasileira de Críticos de
Cinema (Abraccine), a Associação dos Roteiristas (AR), a Associação Brasileira
dos Documentaristas (ABD), o Congresso Brasileiro de Cinema (CBC) e o Conselho
Nacional de Cineclubes (CNC) repudiaram a interdição, mas a produtora Petrini
não tinha sido autorizada a mostrar o filme comercialmente. Um dos argumentos a
favor da trama, além da liberdade artística, era o de que nenhuma criança havia
realmente sofrido abuso sexual durante a filmagem, e de que mesmo o
recém-nascido era de fato um robô.
Passados longos debates, trâmites legais e um ano inteiro de
censura, finalmente o juiz federal da 3ª Vara, em Belo Horizonte, Ricardo
Machado Rabelo liberou a exibição comercial do filme em todo o território
nacional. Leia um trecho da sentença:
“Em atenção ao ofício da referência informamos que a obra
audiovisual “A SERBIAN FILM – TERROR SEM LIMITES” não incorre em nenhuma
modalidade criminal, uma vez que, s.m.j., as cenas contidas na película não
revelam atividades sexuais explícitas (reais ou simuladas) ou a exibição de
órgãos genitais das crianças que participam da referida obra, não ferindo a
disciplina da Lei nº 8.069/90.” (Fl. 530).
“(…) entendo que não há mais razões de natureza jurídica que
impeçam a exibição do filme ” A Serbian Film” em todo o território nacional.
Uma palavra final: vi o filme. Do início ao fim. O filme é
realmente muito forte. Verdadeiramente impactante. O enredo é crudelíssimo. Se
é arte eu não sei. Pode ser para alguns, para outros não. O que sei, contudo, é
que se estivesse no cinema teria me levantado e ido embora. No entanto, como
juiz, não posso ser o seu censor no território nacional, como me diz a
Constituição Federal. Aliás, o que me garante a Carta Constitucional – não
apenas a mim, mas a todo brasileiro – é o direito de me indignar, de recusar a
vê-lo ou até mesmo o direito de me levantar e deixar a sala de sessão, levando
comigo as minhas conclusões e convicções acerca da natureza humana, suas
dimensões, limites e idiossincrasias. Aprendi com o desassossegado Fernando
Pessoa “Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura”
(Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, Cia das Letras, 2012, p. 82).
Fica, assim, desde já liberada a exibição do filme “A
Serbian Film” no Brasil, como permite e autoriza a Constituição Federal.
Nessas razões, afasto a preliminar de ilegitimidade passiva
suscitada pela União e quanto ao pedido cautelar, julgo-o procedente,
confirmando o provimento liminar. Quanto ao pedido principal, julgo-o
improcedente."...
Texto e imagens reproduzidos do site: proibidoler.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário