sábado, 1 de fevereiro de 2020

Filmes proibidos e suas histórias polêmicas – Parte 1 e 2


Publicado originalmente no site PROIBIDO LER, em 23 de outubro de 2014

Filmes proibidos e suas histórias polêmicas – Parte 1

Quando se trata de história do cinema, muita coisa fica escondida pela censura. Confira aqui filmes proibidos e suas histórias polêmicas.

Por Juliane Rodrigues (Exuliane)

Nas revistas, nos jornais, na TV ou no cinema, nada melhor do que uma polêmica para tornar algo interessante. Os filmes estão cheios delas! Antigos ou atuais, coloridos ou em preto e branco.  Quando se trata de história do cinema muita coisa fica escondida pela censura. Por isso, resolvi listar filmes proibidos e suas histórias polêmicas por aqui. Confira agora a primeira parte da matéria que vai  fazer você querer assistir todos da lista, e quem sabe até procurar saber mais sobre o lado oculto do cinema.

O primeiro filme da lista, é também a primeira polêmica do cinema. Para seguir uma linha do tempo.

Em 1986, The Kiss foi considerado obsceno demais para o público:

The Kiss (1886) – Thomas Edison & William Heise


Contendo apenas um minuto, com um beijo técnico entre os atores. Isso mesmo, só um minuto! Claro que hoje em dia ele pode ser considerados um dos mais puros do cinema – tendo em vista que existem filmes com sexo explícito nas telonas.
Já em 1915, surge O nascimento de uma nação, considerado um dos filmes mais racistas já criado:

O Nascimento de uma nação (1915) – D.W. Griffith


Dois irmãos da família Stoneman visitam os Cameron em Piedmont, Carolina do Sul. Esta amizade é afetada pela a Guerra Civil, pois os Cameron se alistam no exército Confederado enquanto os Stoneman se unem às forças da União. São retratadas as consequências da guerra na vida destas duas famílias e as conexões com os principiais acontecimentos históricos, como o crescimento da Guerra da Secessão, o assassinato de Lincoln e o nascimento da Ku Klux Klan.
Em 1932, a obra original que inspirou um dos remakes mais queridinhos do cinema, Scarface, foi criticada por tratar de um assunto delicado demais para a época: o crime organizado.

 Scarface – A vergonha de uma nação (1932) – Howard Hawks


Tony “Scarface” Camonte (Paul Muni) trabalha para Johnny Lovo (Osgood Perkins), um ambicioso gângster que deseja criar um império do crime em Chicago. Baseado na vida de Al Capone, “Scarface” revive um dos maiores e poderosos gângsters de todos os tempos, aplaudido, na época, pelo próprio Capone.
No mesmo ano, o filme Monstros, foi criticado por exibir pessoas deformadas. Baita preconceito, diga-se de passagem:

Monstros (1932) – Tod Browning

  
Sob a direção de Tod Browning, “Freaks” é um cult clássico de 1932 que abalou a sociedade da época, foi rejeitado, trancafiado e somente após 30 anos, na década de 60, que foi posto a mostra no mundo todo, em exibições de cinemas sujos e festivais amadores. O motivo de tanta polêmica e rejeição está na essência da trama, nas críticas e nos personagens incomuns.
Em 1935, o filme O Triunfo da vontade, fez apologia ao nazismo:

O Triunfo da vontade (1935) – Leni Riefenstahl


O congresso Nacional-Socialista alemão de 1934 é documentado de maneira impressionante pela cineasta Leni Riefenstahl. No início, um bimotor desce dos céus, Adolf Hitler sai sorridente e é ovacionado pela multidão. Tudo é gigantesco: são paradas, desfiles monumentais e discursos para um público vibrando. Um espetáculo cinematográfico hipnótico que retrata, com imagens fortes, o regime nazista. Leni Riefenstahl – Cineasta oficial do partido Nazista, ao qual nunca se filiou, e que dispôs de grandes recursos para realizar este documentário e criar efeitos grandiosos.

Ela dirigiu também Olimpíadas (Olympia), sobre os jogos Olímpicos de 36, em Berlim, cidade onde nasceu. Uma artista completa, Leni era bailarina, atriz e sabia dirigir, editar, produzir e escrever. Trabalhou com foto-jornalismo durante a Segunda Guerra Mundial e foi presa pelos aliados e acusada de fazer propaganda nazista. Desde 52, quando foi inocentada, tem colocado novamente seu grande talento e criatividade a serviço do jornalismo.
Já em 1956, o filme Baby Doll, conhecido como Boneca de carne, foi criticado pela igreja católica pela cobiça a mulher do próximo:

Boneca de carne (1956) – Elia Kazan


Archie Lee Meighan (Karl Malden) é um homem de meia idade que é proprietário de uma descaroçadeira de algodão. Archie espera ansiosamente o 20º aniversário de sua mulher, pois nesta data poderá, segundo um trato entre o casal, “consumar” o casamento. Entretanto seu rival comercial, que teve sua descaroçadeira destruída em um incêndio, suspeita que Archie é o responsável pelo incêndio e decide conseguir provas que o incriminem, utilizando a jovem mulher dele.
Em 1961, Meu passado me condena, um filme que tratava de homossexualidade e chantagem, foi considerado imoral:

Meu passado me condena (1961) – Basil Dearden


Um dos primeiros filmes a falar abertamente sobre homossexualidade. Com a impressionante característica de que, na época, homossexualidade era crime na Grã-Bretanha, crime que dava cadeia, e era considerado tão grave quanto assalto. E ainda chamado de homossexualismo, caracterizado como doença. No longa, o jovem Jack Barrett (Peter McEnery) é preso pela polícia sob a acusação de ter furtado uma quantia em dinheiro da firma para qual trabalhava. Com ele, as autoridades encontram um álbum de recortes de jornal sobre o advogado Melville Farr (Dirk Bogarde), profissional respeitado no meio jurídico e que está prestes a obter uma indicação para integrar o Conselho da Rainha. A investigação fará com que Farr se envolva numa rede de chantagistas contra homossexuais, prática considerada criminosa pela lei inglesa.
No ano de 1962, Lolita, o clássico de Kubrick, baseado em uma obra considerada apologia à pedofilia, foi motivo de alvoroço pelos conservadores. E para encerrar a primeira parte da matéria com chave de ouro (ou de cadeia) fique agora com a história de Lolita:

Lolita (1962) – Stanley Kubrick


Adaptado do romance lançado em 1955, Lolita causou uma forte impressão desde seu lançamento, pela forma do autor escrever, e pelo desafio à moral e bons costumes da época. Se não fosse o talento de Vladimir Nabokov, o livro poderia se tornar um romance pornográfico e fetichista, ou pior, acabar como um decadente elogio à pedofilia, como muita gente ainda afirma que é.

H.H. é o único narrador da história que não deixou isso explícito, ao menos para todos. Ler seu relato é se colocar na sua pele apaixonada, e até doentia. Inicialmente, o autor tentou publicar sob o pseudônimo de “Vivian Darkbloom”, mas vários editores recusaram o manuscrito, e o livro saiu com o nome real do autor, com cinco mil cópias, que foram vendidas tão rapidamente quanto se espalharam pela Europa.

O jornalista John Gordon escreveu no Sunday Express, jornal londrino, que o livro era “o mais pervertido que já havia lido”, e sua voz encontrou as ruas e a atenção dos conservadores. Um ano após receber o livro sobre a suposta ninfeta, a França o baniu por 2 anos. E a polêmica já tinha ocupado os tabloides por todo mundo. Assim, quando a G.P. Putnam’s Sons publicou o livro nos Estados Unidos (em 18 de agosto de 1958) as vendas foram enormes. Lolita foi o primeiro livro, depois de “E o vento levou” a vender 100 mil cópias nas primeiras 3 semanas. Poucos dias após seu lançamento, já se encontrava na 3ª edição e apesar do livro ocupar o centro dos debates literários, psicológicos e morais no país, nunca foi proibido nos Estados Unidos. Lolita ganhou o mundo. Só em português existem 3  traduções. Dentre as mais atrasadas, a China só liberou Lolita de qualquer censura em 2006.

O livro também ganhou duas adaptações para o cinema, que conversaram longamente com a censura. A primeira delas, de Stanley Kubrick em 1962, foi a mais prejudicada. O filme sofreu uma repaginada pelos conservadores, e apesar de não ser o maior destaque na filmografia de Kubrick, é um clássico.  A versão de 1997, de Adrian Lyne, foi muito mais livre e deu um ar extra a Lolita, 20 anos após a morte de Nabokov.

A obsessiva e complexa paixão de um homem por uma menina precoce, que ganhou o mundo com óculos em forma de coração, e se enraizou na cultura pop.  É tudo sobre Lolita, como diria H.H em seu relato...

Publicado originalmente no site PROIBIDO LER, em 24 de outubro de 2014

Filmes proibidos e suas histórias polêmicas – Parte 2

Por Juliane Rodrigues (Exuliane)

Na primeira parte desta matéria – que você pode conferir clicando aqui – citei alguns filmes censurados e com histórias polêmicas. Nessa segunda parte, vou dar continuação à linha do tempo mais escandalosa do cinema. Filmes proibidos e/ou censurados costumam ser lembrados mais pelo impacto que causam do que por suas qualidades cinematográficas. O que não é o caso dessa lista, onde a maioria dos filmes tem uma direção e produção impecáveis, e são conhecidos. Começando pelo queridinho de muitos.

Em 1971, o filme Laranja Mecânica, foi censurado em vários países, inclusive aqui no Brasil. E rendeu ao diretor ameaças de morte:

Laranja Mecânica (1971) – Stanley Kubrick


Kubrick queria questionar o sistema com sua obra-prima ultra violenta, o que gerou protestos em quase todos os países onde foi exibido. Por conta dos excessos, foi banido na Irlanda, Malásia, Cingapura, Argentina, Brasil, Chile, Coreia do Sul, entre outros. Mas a proibição mais inusitada veio da Inglaterra. O próprio Kubrick pediu para que o retirassem dos cinemas, porque ele e a família haviam sido ameaçados de morte. Em uma Grã-Bretanha futurista, uma gangue conhecida por “Drugs” passa a noite promovendo espancamento e estupro de vítimas indefesas. Quando finalmente um deles é pego pela polícia, concorda em passar por uma terapia de aversão para encurtar sua sentença.
Em 1972, o filme Pink Flamingos, foi censurado em alguns locais, por conter uma cena de coprofagia (ingestão de fezes):

Pink Flamingos (1972) – John Waters


Pink Flamingos é um longa-metragem americano de baixo orçamento, escrito e dirigido por John Waters, lançado em 1972 no circuito underground, onde alcançou notável sucesso e tornou-se ícone do cinema bizarro. O filme conta a trajetória da drag-queen Divine, e sua família na competição contra o casal Connie e Raymond Marble, pelo título de “pessoas mais sórdidas do mundo”, insensatamente almejado.
Em 1975, Saló – Os 120 dias em Sadoma, foi censurado por fetiches bizarros, tortura, abuso sexual, pedofilia, escatologia e coprofagia:

Saló – Os 120 dias em Sadoma (1975) – Pier Paolo Pasolini


Baseado livremente em histórias do Marquês de Sade (“Círculo de Manias”, “Círculo da Merda” e “Círculo do Sangue”), passa-se na Itália controlada pelos nazistas, onde quatro libertários fascistas sequestram 16 jovens e os aprisionam em uma mansão com guardas. A partir daí, eles passam a ser usados como fonte de prazer, masoquismo e morte.
Já em 1978, o filme Faces da morte, foi criticado pelos conservadores, por exibir mortes reais:

Faces da morte (1978) John Alan Schwartz


Devido as cenas “chocantes” não colocarei imagens do filme.

Primeira parte de uma das séries mais comentadas do cinema, o filme examina a morte bem de perto, de todos os ângulos. Por isso, os espectadores com estômago fraco devem passar bem longe deste lançamento. Este volume apresenta uma sangrenta luta de cães, um jantar com cérebro de macaco, um homem ateando fogo no próprio corpo, uma visita a um quarto de autópsias, entre outras atrocidades mortais.

Em 1979, Calígula foi banido em muitos países, por seu conteúdo pornográfico:

Calígula (1979) – Tinto Brass


Calígula é uma das produções mais polêmicas já lançadas, justamente devido às suas cenas de sexo explícito. O filme mostra as perversões sexuais do louco imperador romano Calígula, interpretado por Malcolm McDowell, que mantém um caso com sua própria irmã e é casado com uma prostituta, além de organizar várias orgias e perversões sexuais em seu império. Ele também é cercado de vários falsos bajuladores que desejam vê-lo longe do poder.
No mesmo ano, o filme O tambor, baseado no livro escrito por Gunter Grass, foi acusado de apologia à pornografia infantil:

O Tambor (1979) – Volker Schlondorff


 Apesar de levar o prêmio palma de ouro em Cannes, como melhor filme estrangeiro, uma cena de sexo oral entre o protagonista e uma menina de 16 anos foi considerada pornografia infantil. O filme acabou sendo censurado em vários países, como Itália, Irlanda, Inglaterra, África do Sul, Singapura, alguns estados conservadores dos EUA, e até no Canadá, onde continua sendo inédito.
Já em 1980, o filme Holocausto Canibal, gerou polêmica devido ao realismo nas cenas de morte, incluindo a cena mais dolorosa do cinema: a morte de uma tartaruga, real.

Holocausto Canibal (1980) Ruggero Deodato


Um professor da Universidade de Nova York sai em expedição à Amazônia em busca de quatro jovens documentaristas que desapareceram durante uma filmagem. Lá chegando, ele descobre que os cineastas foram mortos por canibais, mas consegue recuperar os rolos de filme gravados por eles. De volta aos Estados Unidos, estas filmagens revelam os horrores que os documentaristas passaram nas mãos dos canibais. O realismo deixou o diretor em apuros de tal forma, que quase o prenderam. Isso porque suspeitarem que ele havia matado os protagonistas na vida real, assim como fez com os animais.
Em 1994, o filme Assassinos por Natureza, inspirou assassinos da vida real, em busca dos 15 minutinhos de fama:

Assassinos por Natureza (1994)


Cerca de 12 mortes nos EUA e em outros países foram associadas à obra de Oliver Stone, que acabou processado pelas famílias das vítimas. O longa conta a história de um casal de serial killers que viaja pelos EUA, provocando uma matança desenfreada por diversão, e que acabam se tornando celebridades.
Em 2009, o filme O Anticristo foi alvo de críticas por conter cenas de mutilações:

O Anticristo (2009) – Lars von Trier


Com cenas de sexo explícito e mutilações, chocou a todos no Festival de Cannes, o enredo gira em torno de um casal devastado pela morte do filho que vai passar uma temporada na cabana isolada numa floresta e não consegue se ajustar. As cenas de mutilações em close chocaram a plateia de Cannes e em muitos países elas foram eliminadas ou podadas. Mas no Brasil estão intactas e o filme, exibido pelo Cinema de Arte, foi debatido por psicólogos e filósofos.

No mesmo ano, A centopeia humana, considerado um dos filmes mais chocantes feitos até hoje.

A centopeia humana – (2009) Tom Six


O internacionalmente respeitado cirurgião de gêmeos siameses Dr. Josef Heiter tem uma doentia visão para o futuro da humanidade. Ele quer remover a rótula para que os humanos tenham que andar de 4 e então cirurgicamente costurá-los boca-ao-ânus para formar uma cadeia de centopéia. Quando duas amigas americanas chegam ao seu luxuosa mansão procurando por ajuda, seu plano rapidamente se transforma em ação com uma força chocante. Sequestrando uma terceira pessoa, um turista japonês, ele começa seu jogo de tecidos humanos, removendo dentes e nádegas e moldando-as para criar sua tripla criatura.

Por último, e não menos importante. Em 2010, Serbian Film.

Tortura, estupro, necrofilia, pedofilia e degradação humana, são o prato principal desse longa.

A Serbian Film – Terror Sem Limites (2010) – Srđan Spasojević


Proibido em diversos países, inclusive no Reino Unido, onde foi considerado o filme mais indecente de todos os tempos, precisou passar por 49 cortes para ser lançado com censura de 18 anos. Ou seja, provavelmente você não viu a versão completa desse filme, ou melhor, quase ninguém viu.

Fun fact: esse filme conseguiu ser TÃO polêmico, que em pleno 2011 conseguiu ser censurado no Brasil!

SIM, CENSURADO NO BRASIL!

Em 2011, apenas cinco dias depois da estreia de “A Serbian Film – Terror Sem Limites”, uma ação movida pelo partido DEM fez com que a juíza Katerine Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso determinasse a apreensão da cópia do filme no Rio de Janeiro. Na ação acatada pela juíza, argumentava-se que “A Serbian Film – Terror Sem Limites faz verdadeira apologia a crimes contra criança e é um incentivo para práticas de pedofilia”. Logo, a Petrini Filmes, detentora dos direitos de distribuição no Brasil, entrou com um recurso para recuperar a cópia, que foi negado. Na decisão, a desembargadora Gilda Maria Dias Carrapatoso argumentou que “não se pode admitir e permitir que, em nome da liberdade de expressão, cenas de extrema violência física e moral, inclusive, utilizando recém-natos sejam levadas ao grande público, vez que podem provocar reações adversas, às vezes, em cadeia, em pessoas sem equilíbrio emocional e psíquico adequado para suportar tais evidências de desumanidade”.

O caso foi levado adiante e suscitou muito debate sobre um eventual retorno da censura no país. A Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), a Associação dos Roteiristas (AR), a Associação Brasileira dos Documentaristas (ABD), o Congresso Brasileiro de Cinema (CBC) e o Conselho Nacional de Cineclubes (CNC) repudiaram a interdição, mas a produtora Petrini não tinha sido autorizada a mostrar o filme comercialmente. Um dos argumentos a favor da trama, além da liberdade artística, era o de que nenhuma criança havia realmente sofrido abuso sexual durante a filmagem, e de que mesmo o recém-nascido era de fato um robô.


Passados longos debates, trâmites legais e um ano inteiro de censura, finalmente o juiz federal da 3ª Vara, em Belo Horizonte, Ricardo Machado Rabelo liberou a exibição comercial do filme em todo o território nacional. Leia um trecho da sentença:

“Em atenção ao ofício da referência informamos que a obra audiovisual “A SERBIAN FILM – TERROR SEM LIMITES” não incorre em nenhuma modalidade criminal, uma vez que, s.m.j., as cenas contidas na película não revelam atividades sexuais explícitas (reais ou simuladas) ou a exibição de órgãos genitais das crianças que participam da referida obra, não ferindo a disciplina da Lei nº 8.069/90.” (Fl. 530).

“(…) entendo que não há mais razões de natureza jurídica que impeçam a exibição do filme ” A Serbian Film” em todo o território nacional.

Uma palavra final: vi o filme. Do início ao fim. O filme é realmente muito forte. Verdadeiramente impactante. O enredo é crudelíssimo. Se é arte eu não sei. Pode ser para alguns, para outros não. O que sei, contudo, é que se estivesse no cinema teria me levantado e ido embora. No entanto, como juiz, não posso ser o seu censor no território nacional, como me diz a Constituição Federal. Aliás, o que me garante a Carta Constitucional – não apenas a mim, mas a todo brasileiro – é o direito de me indignar, de recusar a vê-lo ou até mesmo o direito de me levantar e deixar a sala de sessão, levando comigo as minhas conclusões e convicções acerca da natureza humana, suas dimensões, limites e idiossincrasias. Aprendi com o desassossegado Fernando Pessoa “Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura” (Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, Cia das Letras, 2012, p. 82).

Fica, assim, desde já liberada a exibição do filme “A Serbian Film” no Brasil, como permite e autoriza a Constituição Federal.

Nessas razões, afasto a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pela União e quanto ao pedido cautelar, julgo-o procedente, confirmando o provimento liminar. Quanto ao pedido principal, julgo-o improcedente."...

Texto e imagens reproduzidos do site: proibidoler.com

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