Zé do Caixão morre aos 83 anos em São Paulo
Publicado originalmente no site da revista VEJA, em 19 de fevereiro de 2020
O cineasta que fundou o gênero 'terrir' no cinema nacional
estava há dias internado e não resistiu a uma broncopneumonia, segundo a
família
Por Redação
Morreu em São Paulo nesta quarta-feira 19 o cineasta José
Mojica Marins, aos 83 anos, famoso por encarnar o Zé do Caixão, personagem que
fundou e deu rosto ao gênero “terrir” – o terror escrachado que faz rir – no
cinema brasileiro. A morte de Zé do caixão foi confirmada a VEJA pela sua
filha, Liz Marins. Ele estava internado no hospital Sancta Maggiore, com
broncopneumonia.
Marins nasceu no ano de 1936 em uma antiga fazenda
pertencente a uma fábrica de cigarros, localizada onde hoje fica o bairro de
Vila Mariana, em São Paulo. Aos 3 anos , a família mudou da fazenda para uma
casa nos fundos de um cinema no bairro da Vila Anastácio, que passou a ser
gerenciado pelo pai, Antônio André Marins, antes artista de circo. Por causa
disso, Marins passou a infância lendo seus gibis e brincando de teatro de
bonecos em salas de cinema vazias e salas de projeção, enquanto acompanhava o
trabalho do pai.
Aos 12 anos, familiarizado com a produção cinematográfica,
ganhou sua primeira câmera V-8. Aos 17, autodidata e determinado a trabalhar
como diretor, já havia fundado uma escolinha de atuação para seus amigos do
bairro. Nesta época, Marins produziu alguns curtas amadores até ter a ideia de
fundar a Companhia Cinematográfica Atlas. Seu interesse por temas escatológicos
e desconfortáveis também data deste período: os testes para atores eram feitos
com insetos, para verificar a “coragem” de cada um. As autoras americanas
Stephanie Dennison e Lisa Shaw contam todos estes detalhes no livro Popular Cinema
in Brazil, de 2004.
O personagem Zé do Caixão foi criado em 1963, após um
pesadelo que atormentou Marins por algumas noites. “Vi num sonho um vulto me
arrastando para um cemitério. Logo ele me deixou em frente a uma lápide, lá
havia duas datas, a do meu nascimento e a da minha morte. As pessoas em casa
ficaram bastante assustadas, chamaram até um pai-de-santo por achar que eu
estava com o diabo no corpo”, afirmou em entrevista para o Portal Brasileiro de
Cinema. A partir daí nasceu a personagem originalmente batizada de Josefel
Zanatas, o Zé do Caixão.
Mojica é considerado um dos mentores do movimento marginal
no Brasil dos anos 60 e 70. Os títulos de seus filmes são, por si só, clássicos
da filmografia B nacional: Encarnação do Demônio, À Meia-Noite Levarei Sua
Alma, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver e O Estranho Mundo de Zé do Caixão
são alguns deles.
Texto e imagem reproduzidos do site: veja.abril.com.br
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