Kirk Douglas, em novembro de 2001
Publicado originalmente no site EL PAÍS BRASIL, em 5 de
fevereiro de 2020
Morre Kirk Douglas, a última grande estrela da velha
Hollywood, aos 103 anos
O lendário ator que encarnou Spartacus só ganhou um Oscar,
honorário, por sua trajetória, apesar de ter sido indicado três vezes
EL PAÍS
Kirk Douglas, uma das últimas grandes estrelas da velha
Hollywood, morreu nesta quarta-feira aos 103 anos, segundo informam vários
meios de comunicação dos Estados Unidos e confirmou seu filho, o também ator
Michael Douglas, à revista People. “Com tremenda tristeza, meus irmãos e eu
anunciamos que Kirk Douglas nos deixou hoje aos 103 anos”, diz o comunicado
enviado pelo ator à revista.
Douglas, como Spartacus, em 1960
“Para o mundo, era
uma lenda, um ator da era de ouro do cinema que viveu até a sua idade de ouro,
um ser humano cujo compromisso com a justiça e com as causas nas quais ele
acreditava marcaram um padrão ao qual todos nós aspiramos. Mas, para mim e meus
irmãos Joel e Peter, era apenas um pai”, segue a nota do filho do lendário
ator, o homem que personificou Spartacus para a história.
Qual era a ideia? Rodar uma imensa epopeia que transformaria
seu protagonista e produtor, Kirk Douglas, em um mito de Hollywood. O que deu
errado? Depois de algumas semanas, Kirk Douglas achou que o diretor Anthony
Mann não estava à altura dessa produção com cenas de até 8.000 figurantes. Então
pagou seu salário e o demitiu. Precisava de um diretor que se deixasse
manipular pelo estúdio e, sabe Deus por que, achou que essa pessoa era Stanley
Kubrick. O “galinho do Bronx”, como Douglas definiria Kubrick, substituiu
Sabine Bethmann por Jean Simmons e tentou eliminar a hoje icônica cena do “Eu
sou Spartacus”. Simmons teve de ser operada com urgência no meio da filmagem,
Tony Curtis foi engessado e Charles Laughton ameaçava diariamente processar
Douglas. Quando contrataram 8.500 soldados espanhóis (a cada um dos quais
Kubrick dava indicações concretas) para as cenas de batalha filmadas em
Colmenar Viejo (Madri), Francisco Franco exigiu um pagamento em dinheiro para a
organização caritativa de sua esposa. Como a coisa acabou? Kubrick renegaria o
filme, o único de sua carreira em que não teve controle total sobre a montagem.
Issur Danielovitch
Demsky, conhecido como Kirk Douglas, nasceu em Amsterdã, uma cidade no estado
de Nova York, nos Estados Unidos, em 9 de dezembro de 1916. Sua família era de
origem russa judaica, que emigrou em 1908. Seu pai, um trapaceiro, abandonou a
casa da família quando Douglas tinha só cinco anos. Ele tinha seis irmãs mais
velhas. Ele teve que trabalhar desde cedo para ajudar sua família
financeiramente, combinando os vários empregos com seus estudos na Universidade
de Saint Lawrence, onde se formou em Letras. Posteriormente, estudou na
Academia Americana de Artes Dramáticas, em Nova York.
Em 1941 foi mobilizado, ingressando na Marinha durante a
Segunda Guerra Mundial. Foi oficial de comunicações em uma unidade
antissubmarinos. Retornou a Nova York com ferimentos de guerra e lá começou a
atuar em peças teatrais graças ao apoio da atriz Lauren Bacall.
Em 1946 estreou em Hollywood com O Tempo Não Apaga, de Lewis
Milestone. Trabalhou em mais de 90 filmes e dirigiu dois filmes. Rodou sob as
ordens dos diretores mais famosos, como Vincente Minelli, Jacques Tourneur,
King Vidor, John Huston, Billy Wilder, Otto Preminger, Elia Kazan, Howard Hawks
e William Wyler. Com Stanley Kubrick estrelou Glória Feita de Sangue em 1957 e
Spartacus em 1960, filme emblemático de sua carreira, produzido pelo ator e que
reabilitou —graças ao empenho pessoal de Douglas— o roteirista Dalton Trumbo,
retaliado pelo macartismo, permitindo que aparecesse nos créditos. Douglas
rodou sete filmes na companhia do ator Burt Lancaster.
Kirk Douglas foi indicado ao Oscar em três ocasiões: em 1950
por O Invencível, de Mark Robson; em 1953 por Assim estava Escrito e em 1957
por Sede de Viver, ambos de Vincente Minelli. Finalmente, a Academia de
Hollywood concedeu-lhe o Oscar honorário em 1996. Em 1981 recebeu a medalha
presidencial da liberdade, a mais alta condecoração de seu país; em 1990, a
Legião de Honra francesa e o Urso de Ouro honorário do Festival de Berlim, em
2001.
Casou-se com Diana Hill em 1943 e tiveram dois filhos:
Michael e Joel Andre. Em 1954 casou-se novamente com Anne Buydens, com quem foi
pai de dois filhos: Peter e Eric Anthony, já falecido. Em 1991 ficou ferido
quando o helicóptero em que viajava colidiu com um pequeno avião no aeroporto
particular de Santa Paula (Califórnia). Em 1996 sofreu uma embolia que lhe
afetou gravemente a fala. Como escritor, em 1988 publicou The Ragman’s Son (O
Filho do Trapeiro), sua autobiografia. Em 2009, com 92 anos, subiu aos palcos,
dos quais estava aposentado havia cinco anos, com Before I Forget (Antes que Eu
Esqueça), um monólogo de 90 minutos que ele mesmo escreveu sobre sua vida.
Em 2012 escreveu I Am Spartacus (Eu Sou Spartacus), um livro
em que contou as vicissitudes da rodagem do filme de Kubrick. A partir de 2008
publicou um blog, primeiro no MySpace e mais tarde no The Huffington Post, que
teve grande sucesso. Douglas era membro do Partido Democrata e filantropo
convencido, doando desde 1990 mais de 40 milhões de dólares (cerca de 169
milhões de reais) a uma clínica para o tratamento de pacientes com Alzheimer.
Texto e imagens reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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