Foto reproduzida do site: veja.abril.com.br e postada
pelo blog para ilustrar o presente artigo
Bruno Barreto
Data de nascimento: 1955
Local de
nascimento: (Brasil/Rio de Janeiro/Rio de Janeiro
Bruno Barreto (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1955).
Diretor e produtor. Reconhecido como cineasta que transita bem no mercado
nacional e estrangeiro. Filho dos produtores, Lucy (1933) e Luiz Carlos Barreto
(1928), fundadores da Produtora LC Barreto, há mais de 40 anos em atividade no
país e uma das mais estáveis no cinema brasileiro. Durante a infância, convive
com figuras importantes do cinema novo, como o cineasta Glauber Rocha
(1939-1981). Com 11 anos, realiza o primeiro curta-metragem, Três Amigos Não se
Separam (1966), com uma câmera antiga dada pela avó, a produtora de cinema
Lucíola Villela (1915-2016). Nos anos seguintes, dirige outros curtas Médico e
o Monstro (1968), A Bolsa e a Vida (1971) e Emboscada (1971). Aos 17 anos,
estreia em longa-metragem com Tati, a Garota (1973), inspirado no conto
homônimo do escritor Aníbal Machado (1894-1964). O filme obtém sucesso de público
e coloca Bruno Barreto como um dos mais jovens cineastas do país. Em 1974,
adapta o romance A Estrela Sobe, do escritor Marques Rebelo (1907-1973). Dois
anos depois, dirige a terceira adaptação literária, Dona Flor e seus Dois
Maridos (1976), de Jorge Amado (1912-2001). O filme bate recorde de bilheteria
brasileira, com mais de 10 milhões de espectadores, marca superada apenas em
2011, com o Tropa de Elite 2 (2010), de José Padilha (1967). Bruno conquista
reconhecimento internacional, além de ganhar o prêmio de melhor diretor no
Festival de Gramado de 1977.O filme consolida a carreira cinematográfica de
Sônia Braga (1950), atriz da telenovela Gabriela, produzida pela TV Globo, em
1975.
Em 1978, o diretor lança Amor Bandido, seu primeiro longa
com argumento original, roteirizado por Leopoldo Serran (1942-2008). Em 1980,
adapta a peça do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980), O Beijo no Asfalto.
Em 1983, adapta outra obra de Jorge Amado, Gabriela, produção internacional
participação do ator italiano Marcello Mastroianni (1924-1996).
Seus filmes seguintes são Além da Paixão (1984) e Romance da
Empregada (1988), ambos com roteiros originais. No início da década de 1990,
muda-se para os Estados Unidos e realiza as produções estrangeiras Assassinato
sob Duas Bandeiras (1990), O Coração da Justiça (1992) e Atos de Amor (1996).
Volta ao Rio de Janeiro em 1996 para dirigir O Que é Isso,
Companheiro? (1997), baseado no livro de Fernando Gabeira (1941). Em 1998,
grava Entre o Dever e a Amizade (1998), quarta produção estadunidense. Em 2000,
realiza Bossa Nova. Em 2003, lança seu maior projeto em Hollywood, Voando Alto,
produzido pelo estúdio Miramax. Dirige O Casamento de Romeu e Julieta (2004) –
uma releitura da obra clássica do dramaturgo inglês William Shakespeare
(1564-1616) – e Caixa 2 (2007). Realiza Última Parada 174 (2008), com roteiro
de Bráulio Mantovani (1963), baseado na história real do sequestro de um
ônibus, ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, no ano 2000.
Análise
Um dos diretores brasileiros com maior inserção no cinema
internacional, Bruno Barreto realiza filmes que buscam aproximar-se do grande
público e adota o estilo narrativo clássico para competir no mercado mundial,
sobretudo o estadunidense. Apesar de crescer em ambiente marcado pela cultura
cinematográfica do cinema novo, a estética do diretor não se vincula a nenhum
movimento e ele experimenta diferentes gêneros, como a comédia, o drama e o
erotismo.
Bruno propõe aproximar obras literárias e cinema, projeto
lançado pela Embrafilme na década de 1970, como umas das mais eficazes soluções
para os conflitos culturais durante a ditadura militar no Brasil. Conquista
fama ao levar para tela três obras da literatura sucessivamente.
Entre elas, Dona Flor e Seus Dois Maridos, um dos maiores
sucessos de público no Brasil. Adaptação do livro de Jorge Amado, é uma comédia
irreverente e sensual que retrata os valores e o comportamento dos brasileiros.
Ambientado na cidade de Salvador nos anos de 1940, conta a história de Flor
(Sônia Braga), esposa bonita e fiel, de classe média, casada com Vadinho [José
Wilker (1946-2014)], um malandro típico – mulherengo, jogador e bom de cama –
que falece no meio da trama. Um ano depois, a viúva casa-se com o farmacêutico
metódico Teodoro Madureira [Mauro Mendonça (1931)]. Após alguns anos de um
casamento monótono, Vadinho reaparece para Flor. Ela começa a viver com os dois
maridos, um vivo, que dá segurança a ela e o outro, morto (sempre nu), com quem
tem uma relação amorosa intensa.
Rigoroso na forma de filmar e detalhista na construção de
cenografia e fotografia, Bruno invade o mundo das convicções burguesas com a
excentricidade dos personagens, sobretudo de Vadinho. Ressalta-se também a
canção-tema, “O Que Será?”, do músico Chico Buarque, que adquire o mesmo valor
cinematográfico para a composição dessa crítica de costumes. Unido a esses
elementos, o diretor procura ajustar à realidade brasileira o estilo
hollywoodiano, por meio de produção – realizada com seu pai, o produtor Luiz
Carlos Barreto – capaz de dar ao filme gabarito e reconhecimento internacional.
Após a repercussão do filme, Bruno grava roteiros originais
e outras adaptações para o cinema. Entre essas, Gabriela, outra obra de Jorge
Amado. O filme não conquista o mesmo sucesso do longa anterior. Produzido por
empresas estadunidenses, não se preocupa com a ambientação da cidade de Ilhéus
de 1925 e prefere enfocar a beleza e a sensualidade de Gabriela, interpretada
novamente por Sônia Braga, e sua relação com Nacib (Marcello Mastroianni).
Com o fim do regime militar, a volta da liberdade de
expressão indica novos caminhos para Bruno e o cinema brasileiro. Essa
perspectiva, porém, é interrompida em 1990, com a extinção da Embrafilme, da
Concine e de outros organismos de apoio ao cinema nacional pelo ex-presidente
Fernando Collor de Mello (1949). O diretor muda-se para os Estados Unidos e
realiza diversas produções estrangeiras. Em 1996, com o surgimento de um
período de novas produções cinematográficas devido a um novo apoio
governamental para o mercado – mais conhecido como a retomada do cinema
brasileiro –, Bruno regressa ao Brasil para filmar O Que É Isso Companheiro?
Baseado na obra homônima do político Fernando Gabeira, conta
a história do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, em 1969,
por jovens de classe média, pertencentes ao Movimento Revolucionário 8 de
Outubro (MR8). O filme causa intenso debate por mesclar ficção e realidade e
por abrandar, no entender de parte da esquerda brasileira, as atrocidades
praticadas pelos militares. Segundo o diretor, esse trabalho não é um
documentário, mas uma interpretação ficcional da realidade. Com o longa, o
diretor ganha destaque internacional com a indicação ao Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro de 1997.
Apesar de morar nos Estados Unidos, Bruno filma no Brasil e
usa o país como pano de fundo para diversas obras, como na comédia romântica O
Casamento de Romeu e Julieta. O filme mostra as encrencas em que se metem o
corintiano viciado pelo time, Romeu [Marco Ricca (1962)], e a palmeirense Julieta
[Luana Piovani (1976)]. A partir de um elemento tipicamente brasileiro, o
futebol, Bruno inspira-se nos personagens Capuletto e Montecchio da peça de
Shakespeare, para contar a história das duas famílias dos jovens apaixonados
que não podem sequer pensar num casamento "misto", isto é, entre
palmeirenses e corintianos.
Em Última Parada 174, narra a trajetória de vida de Sandro
Nascimento (1978-2000), conhecido pelo sequestro de um ônibus no Rio de
Janeiro, em 2000. A ideia do filme parte de inquietações geradas pelo
documentário Ônibus 174 (2002), do diretor José Padilha. No filme de Bruno, o
sequestro serve de ponto de partida para contar a história de Sandro e
desenvolver o mote da perda da inocência. O diretor apropria-se da estética de
Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007), utilizando-se de câmeras que
acompanham os personagens, diálogos enxutos e planos ousados, sobretudo na
primeira parte da trama. Última Parada 174 é selecionado para representar o
Brasil na disputa pela indicação de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2008.
Com esse filme, Bruno Barreto reafirma a aceitação de suas
obras no mercado brasileiro e internacional, com apropriação do jeito
hollywoodiano de fazer cinema, alinhado à realidade brasileira. Esse estilo
eficiente de fazer filmes garante suporte financeiro e técnico para gerir
diversas produções e possibilita a produção de gêneros diversos.
Texto reproduzido do site enciclopedia.itaucultural.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário