Texto publicado originalmente no site INSTITUTO DE CINEMA
Cinema em Hollywood: A história completa
Por Mariana R. Marques
Como falar da história do cinema sem citar uma das maiores
potências da indústria cinematográfica? Sim, o Cinema Hollywoodiano, um dos de
maior visibilidade. Vem cá percorrer sua história com a gente.
Hollywood é uma cidade - distrito de Los Angeles - conhecida
por abrigar grandes centros de produções cinematográficas, o que a colocou em
destaque cultural, sendo extremamente reconhecida por isso. A economia da
cidade é baseada pela sétima arte e o que se pode gerar à partir dela.
Hollywood deixa de ser apenas uma cidade que abriga grandes
centros cinematográficos para virar sinônimo das produções estadunidenses;
aquela coisa de ouvir a expressão “nossa, que filme mais hollywoodiano”. Mas
como tudo isso começou? Bom, vamos traçar a história.
O começo
Thomas Edison, realizador de inúmeras patentes nos EUA, foi
creditado pela invenção de diversos dispositivos tecnológicos (como a lâmpada
incandescente e o fonógrafo). Teve importância também na evolução do
cinetoscópio, uma câmera de filme primária.
Edison realizou, no final do século 19 e início do 20,
diversas patentes no que diz respeito a dispositivos para produção de filmes,
as quais utilizou como saída para persuadir outros detentores de patentes a
formarem uma associação.
A MPPC - Motion Pictures Patents Company, foi formada pelas
empresas Biograph, Vitagraph, Essanay, Kalem, Selig, Lubin, Pathé, Star e
George Kleine. Sob comando de Edison, a MPPC detinha patentes de filmes,
câmeras, projetores e outros equipamentos ligados à uma produção. Tornaram-se
extremamente poderosos, e distribuidores e realizadores passaram a ter
obrigação de pagar direitos autorais. Edison levava a maior parte. Isso se
fortaleceu quando a Eastman Kodak - líder do mercado norte-americano de filmes
virgens - concordou em fornecer material apenas para produtores associados à
MPPC.
Vamos lá, o que a MPPC controlava então? Tudo. As câmeras de
cinema, produção dos rolos de filme, os estúdios que os faziam, além de
patentes sobre projetores. Assim, era possível firmar acordos até mesmo com
donos de teatros e distribuidores sobre onde o filme seria passado.
Quando fugiam dos direitos autorais, produtores e exibidores
eram levados a julgamento. Ou seja, para produzir você era obrigado a pagar
Thomas Edison (a MPPC). Edison era ambicioso, e um caso curioso que faz parte
dessa história é o de quando ele paga (clandestinamente) apenas 10.000 francos
por um dos principais filmes do cinema, “A Viagem à Lua” (1902), faz diversas
cópias do filme e as vende sem pagar o diretor, George Méliès. A MPPC
distribuiu o filme pelos EUA, ficando com o lucro.
Algumas pessoas que faziam parte da indústria decidiram ir
por outro caminho para realizarem suas produções: a fuga. O destino seria a Califórnia,
com juízes não tão dispostos a darem atenção às patentes de Edison e a
distância da MPPC. Surge daí Hollywood. Produtores viam naquela terra diversas
vantagens. Criam-se então oito grandes estúdios, o chamado Big Eight.
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), Paramount, Warner Bros, RKO, Fox, Universal,
Columbia e United Artists.
A Era dos Estúdios
Em uma década o método dos pequenos empreendedores que viram
Hollywood como saída passou a dominar o cinema. Era realmente um sistema, onde
trabalhava-se com custo-benefício e fluxo constante de filmes. Assim, no início
dos anos 20 o sistema de estúdios começa a reinar. A “fábrica de sonhos” começa
a funcionar e apresenta o cinema como entretenimento e negócio de viés
econômico.
Os estúdios estavam presentes em todo o processo, da
produção à distribuição e até publicidade e exibição. Controlavam praticamente
o mercado internacional, cada qual a seu estilo próprio e com seus próprios
criadores e estrelas.
MGM, o mais glamouroso. Paramount, o mais europeu. Warner
Bros estava em sintonia com a classe trabalhadora. Universal Pictures ficou
associada aos filmes de terror. Columbia cresceu como concorrente graças aos
seus diretores criativos. RKO procurava extrair boas rendas com seus astros.
Fox tinha apuro técnico e brilho visual. E surge a United Artists, por três
grandes estrelas de Hollywood, Douglas Fairbanks, Mary Pickford e Charlie
Chaplin, juntos ao diretor D. W. Griffith. A UA começa quando os artistas se
sentiram insatisfeitos com a falta de autonomia das produtoras. Não tinham
astros e equipe técnica contratada, e atuava como distribuidora de produtores
independentes.
Filmes como “Grande Hotel” (1932), “Crepúsculo dos Deuses”
(1950), “Drácula” (1931), “Casablanca” (1943), “Cantando na Chuva” (1952) e
“Como Agarrar um Milionário” (1953) representam bem o que era esse tempo para o
cinema hollywoodiano.
Era de Ouro
Uma longa Era, datada entre 1917 e 1960. Para melhor
entendimento, vamos passear pelas décadas que a constituíram.
Década de 20
Início do cinema falado, que muda a experiência
cinematográfica tanto no fazer quanto no assistir. Surge o “jeitinho
americano”, que viria a ser grande influência. Charlie Chaplin e a MGM também
aparecem aí. É interessante citar que o cinema de animação ganha espaço aqui
também. Em 1928, Walt Disney lançou o curta-metragem “Steamboat Willie”, dando
início à época em que a animação começa a ganhar reconhecimento.
É nessa década que funda-se a Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas, responsável por entregar anualmente a estatueta do Oscar aos
melhores filmes escolhidos. Prática que, como sabemos, permanece até hoje.
Década de 30
Surge a empresa Technicolor, responsável por uma película
que filmava em 3 cores. Sistema que permitiu “Branca de Neves e os 7 anões”
(1937) tornar-se a primeira animação colorizada no sistema. O primeiro filme
foi “Vaidade e Beleza” (1935).
Após a Depressão, Hollywood se restabelece e superproduções
como “... E o Vento Levou” (1939) e “O Mágico de Oz” (1939) são lançadas.
Década de 40
Em uma época complexa, os EUA se preparavam para a Segunda
Guerra Mundial. Os estúdios investem em comédias musicais, com canções que
conquistaram o público. Cada estúdio produzia à sua maneira.
O presidente era Franklin Roosevelt, e com sua Política da
Boa Vizinhança ocorreu aproximação cultural a outros países. Nota-se a criação
do personagem Zé Carioca por Walt Disney, um exemplo de homenagem ao Brasil.
Carmen Miranda inicia sua carreira norte-americana, tornando-se uma das
principais estrelas da época. Com a guerra em andamento, o sentimento que as
comédias procuravam passar era o de escape. Um respiro contra tudo o que
acontecia.
É nessa década, mais precisamente em 1941, que um dos
principais filmes do cinema é lançado. “Cidadão Kane” tornaria-se um dos
maiores exemplos de evolução das técnicas, e seu diretor, Orson Welles, se
consagraria.
São muitos filmes reconhecidos nessa época, como por exemplo
“O Grande Ditador” (1940) de Charlie Chaplin e “Rebecca” (1940), do também
consagrado diretor Alfred Hitchcock.
Década de 50
Os musicais chegam a seu ápice, com o lançamento de um dos
principais e mais comentados filmes da era clássica, “Cantando na Chuva”
(1952), considerado a grande obra prima do gênero.
É também nessa década que uma das mais notáveis figuras do
cinema se consolida. Marilyn Monroe tem seu primeiro papel de destaque no filme
“O Segredo das Viúvas” (1951), quando se torna muito popular entre o público.
Outra atriz importante da época é Audrey Hepburn, também
símbolo da era clássica. “Sabrina” (1954), dirigido por um dos grandes
diretores da época, Billy Wilder, é um de seus filmes lançados na década.
Outras personalidades são Brigitte Bardot, Grace Kelly e Elvis Presley. Sabe-se
da influência dessas personalidades quando você vai bater um papo com as
pessoas que assistiam os filmes da época. Essas celebridades são sempre
citadas.
Ao final da década, os grandes estúdios despediram a maioria
de seus empregados, entre estrelas, escritores e diretores. É aqui também que o
cinema de Hollywood passa por uma reestruturação por conta da popularidade que
ganhava a televisão.
Década de 60
Lançamento de outros diversos clássicos, como o maior de
Hitchcock, “Psicose” (1960), “Amor, Sublime Amor” (1961), o épico “Cleopatra”
(1963) e o filme que quebra a inocência jovem do American way of life, “A
Primeira Noite de um Homem” (1967). O último, por sua vez, fecha o sentimento
da era dourada para dar lugar ao novo estilo que envolveria Hollywood.
Bem, aqui passamos por diversas décadas que representam cada
época do cinema hollywoodiano, que ganhava cada vez mais brilho e prestígio.
Travou-se, de fato, um estilo próprio. O “estilo do cinema de estúdio
estadunidense”, lembrado principalmente por seus musicais. Vamos entrar agora
na era que procederia tudo isso.
Nova Hollywood
Essa foi uma época onde desejava-se começar a contar
histórias de maneiras diferentes, com novas formas de abordar a caracterização
e construção dos personagens. Procurava-se aqui uma nova linguagem.
É um momento em que começam a surgir cineastas que estudaram
o cinema e suas técnicas em universidades. Existem alguns filmes, como “Easy
Rider” (1969), que marcaram essa virada para a Nova Hollywood. Nova no
sentimento, na linguagem, na técnica e na forma como chegava ao público.
É a casa de alguns dos diretores que mais conhecemos, como
Francis Ford Coppola, Steven Spielberg, George Lucas, Brian De Palma, Stanley
Kubrick e Martin Scorsese. Como bem sabemos, alguns desses continuam a produzir
até hoje. Seus filmes passaram a fazer sucesso com críticos e com o público.
É quando estúdios começam a trabalhar com produtores
independentes para a realização de filmes de baixo orçamento. Dava-se valor à
figura do diretor enquanto pessoa criativa.
O sentimento era de contracultura, os assuntos eram outros.
Mas não foi uma fase de longa duração, indo apenas até o começo dos anos
80. É conhecida também como a época em
que a liberdade acabou mexendo com a cabeça dos diretores e os levou a perder o
poder, que estava novamente na mão dos estúdios.
Existe um importante livro que retrata os acontecimentos
dessa fase, “Como a geração sexo-drogas-e-rock n’ roll salvou Hollywood”, de
Peter Biskand. O livro é cheio de detalhes que vão além do que se vê na tela,
para falar dos aspectos sociais e culturais que envolviam a época.
Filmes como “2001: Uma Odisséia no Espaço” (1968), “O
Poderoso Chefão” (1972), “Tubarão” (1975), “Taxi Driver” (1976), “Star Wars”
(1977) e “Apocalypse Now” (1979) tornaram-se grandes clássicos da Nova
Hollywood.
Hollywood Atual
O que temos de atual em Hollywood começa pela década de 80.
Os adventos da tecnologia influenciavam a forma como os espectadores passariam
a experienciar o cinema e também como ele passaria a ser feito.
Falamos aqui das fitas e do home video, que agora permitiam
que o cinema fosse levado para dentro de casa. Nota-se uma queda de bilheteria
nos cinemas, mas ainda assim a nova onda era vista como oportunidade para
diferentes negócios.
Os filmes de baixíssimo custo - os chamados “caseiros” -
começavam a aparecer. O acesso a câmeras de vídeo e fitas VHS davam liberdade
para que as pessoas mostrassem sua criatividade. Houve grande demanda de filmes
independentes. O cinema começa a ser percebido cada vez mais como produto, e a
produção e venda em massa de fitas começa a ganhar força.
Os nomes dessa época são frescos em nossa memória, como por
exemplo Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, Paul Thomas Anderson, Spike Lee,
Steven Soderbergh e Kevin Smith. Todos diretores consagrados da época.
Seus filmes possuem diversas referências de outras obras,
como os clássicos. Tem estilo inovador e cheio de cultura pop, com linguagem
diferenciada e muitas vezes influenciada pelos videoclipes lançados nos canais
de música jovem, principalmente no que diz respeito à montagem.
Com o desenvolvimento e crescimento dos DVDs no início do
século 21, o mercado começa a enxergar a possibilidade de novas maneiras de
aproximação com os espectadores. É aí que cenas extras, vídeos de bastidores e
de conversa com equipe começam a integrar o material.
Em paralelo com sucesso do cinema independente, temos o
crescimento dos blockbusters, filmes de grande proporção, principalmente de
ação, que tendem a sempre ter um herói na narrativa, o que começou a agradar
muito o público. Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Steven Seagal, Sylvester
Stallone, e Jean-Claude Van Damme são exemplos de figuras que marcaram o início
dessa leva. Hoje talvez o melhor exemplo de blockbusters sejam os filmes de
heróis, como os da Marvel e DC.
A linha do tempo que traçamos aqui nos mostra como o cinema
hollywoodiano evoluiu e mudou com o passar do tempo e à partir das diferentes
necessidades de cada época. Nota-se isso em nossa sociedade atual, na qual há
anos cresce o gosto por filmes grandiosos e de fantasia - muito envoltos pela
cultura pop -, como os do universo Marvel e as sagas Harry Potter e O Senhor
dos Anéis.
É inegável que esse cinema é um dos principais quando
trata-se de Indústria Cinematográfica. Esperamos que aqui você possa ter entendido
um pouco de sua grande história e como chegamos ao que vemos hoje.
Texto reproduzido do site: institutodecinema.com.br
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