quinta-feira, 7 de maio de 2020

Cinema em Hollywood: A história completa


Texto publicado originalmente no site INSTITUTO DE CINEMA 

Cinema em Hollywood: A história completa

Por Mariana R. Marques

Como falar da história do cinema sem citar uma das maiores potências da indústria cinematográfica? Sim, o Cinema Hollywoodiano, um dos de maior visibilidade. Vem cá percorrer sua história com a gente.

Hollywood é uma cidade - distrito de Los Angeles - conhecida por abrigar grandes centros de produções cinematográficas, o que a colocou em destaque cultural, sendo extremamente reconhecida por isso. A economia da cidade é baseada pela sétima arte e o que se pode gerar à partir dela.

Hollywood deixa de ser apenas uma cidade que abriga grandes centros cinematográficos para virar sinônimo das produções estadunidenses; aquela coisa de ouvir a expressão “nossa, que filme mais hollywoodiano”. Mas como tudo isso começou? Bom, vamos traçar a história.

O começo

Thomas Edison, realizador de inúmeras patentes nos EUA, foi creditado pela invenção de diversos dispositivos tecnológicos (como a lâmpada incandescente e o fonógrafo). Teve importância também na evolução do cinetoscópio, uma câmera de filme primária.

Edison realizou, no final do século 19 e início do 20, diversas patentes no que diz respeito a dispositivos para produção de filmes, as quais utilizou como saída para persuadir outros detentores de patentes a formarem uma associação.

A MPPC - Motion Pictures Patents Company, foi formada pelas empresas Biograph, Vitagraph, Essanay, Kalem, Selig, Lubin, Pathé, Star e George Kleine. Sob comando de Edison, a MPPC detinha patentes de filmes, câmeras, projetores e outros equipamentos ligados à uma produção. Tornaram-se extremamente poderosos, e distribuidores e realizadores passaram a ter obrigação de pagar direitos autorais. Edison levava a maior parte. Isso se fortaleceu quando a Eastman Kodak - líder do mercado norte-americano de filmes virgens - concordou em fornecer material apenas para produtores associados à MPPC.

Vamos lá, o que a MPPC controlava então? Tudo. As câmeras de cinema, produção dos rolos de filme, os estúdios que os faziam, além de patentes sobre projetores. Assim, era possível firmar acordos até mesmo com donos de teatros e distribuidores sobre onde o filme seria passado.

Quando fugiam dos direitos autorais, produtores e exibidores eram levados a julgamento. Ou seja, para produzir você era obrigado a pagar Thomas Edison (a MPPC). Edison era ambicioso, e um caso curioso que faz parte dessa história é o de quando ele paga (clandestinamente) apenas 10.000 francos por um dos principais filmes do cinema, “A Viagem à Lua” (1902), faz diversas cópias do filme e as vende sem pagar o diretor, George Méliès. A MPPC distribuiu o filme pelos EUA, ficando com o lucro.


Algumas pessoas que faziam parte da indústria decidiram ir por outro caminho para realizarem suas produções: a fuga. O destino seria a Califórnia, com juízes não tão dispostos a darem atenção às patentes de Edison e a distância da MPPC. Surge daí Hollywood. Produtores viam naquela terra diversas vantagens. Criam-se então oito grandes estúdios, o chamado Big Eight. Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), Paramount, Warner Bros, RKO, Fox, Universal, Columbia e United Artists.

A Era dos Estúdios

Em uma década o método dos pequenos empreendedores que viram Hollywood como saída passou a dominar o cinema. Era realmente um sistema, onde trabalhava-se com custo-benefício e fluxo constante de filmes. Assim, no início dos anos 20 o sistema de estúdios começa a reinar. A “fábrica de sonhos” começa a funcionar e apresenta o cinema como entretenimento e negócio de viés econômico.

Os estúdios estavam presentes em todo o processo, da produção à distribuição e até publicidade e exibição. Controlavam praticamente o mercado internacional, cada qual a seu estilo próprio e com seus próprios criadores e estrelas.

MGM, o mais glamouroso. Paramount, o mais europeu. Warner Bros estava em sintonia com a classe trabalhadora. Universal Pictures ficou associada aos filmes de terror. Columbia cresceu como concorrente graças aos seus diretores criativos. RKO procurava extrair boas rendas com seus astros. Fox tinha apuro técnico e brilho visual. E surge a United Artists, por três grandes estrelas de Hollywood, Douglas Fairbanks, Mary Pickford e Charlie Chaplin, juntos ao diretor D. W. Griffith. A UA começa quando os artistas se sentiram insatisfeitos com a falta de autonomia das produtoras. Não tinham astros e equipe técnica contratada, e atuava como distribuidora de produtores independentes.

Filmes como “Grande Hotel” (1932), “Crepúsculo dos Deuses” (1950), “Drácula” (1931), “Casablanca” (1943), “Cantando na Chuva” (1952) e “Como Agarrar um Milionário” (1953) representam bem o que era esse tempo para o cinema hollywoodiano.

Era de Ouro

Uma longa Era, datada entre 1917 e 1960. Para melhor entendimento, vamos passear pelas décadas que a constituíram.

Década de 20

Início do cinema falado, que muda a experiência cinematográfica tanto no fazer quanto no assistir. Surge o “jeitinho americano”, que viria a ser grande influência. Charlie Chaplin e a MGM também aparecem aí. É interessante citar que o cinema de animação ganha espaço aqui também. Em 1928, Walt Disney lançou o curta-metragem “Steamboat Willie”, dando início à época em que a animação começa a ganhar reconhecimento.

É nessa década que funda-se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável por entregar anualmente a estatueta do Oscar aos melhores filmes escolhidos. Prática que, como sabemos, permanece até hoje.

Década de 30

Surge a empresa Technicolor, responsável por uma película que filmava em 3 cores. Sistema que permitiu “Branca de Neves e os 7 anões” (1937) tornar-se a primeira animação colorizada no sistema. O primeiro filme foi “Vaidade e Beleza” (1935).

Após a Depressão, Hollywood se restabelece e superproduções como “... E o Vento Levou” (1939) e “O Mágico de Oz” (1939) são lançadas.

Década de 40

Em uma época complexa, os EUA se preparavam para a Segunda Guerra Mundial. Os estúdios investem em comédias musicais, com canções que conquistaram o público. Cada estúdio produzia à sua maneira.

O presidente era Franklin Roosevelt, e com sua Política da Boa Vizinhança ocorreu aproximação cultural a outros países. Nota-se a criação do personagem Zé Carioca por Walt Disney, um exemplo de homenagem ao Brasil. Carmen Miranda inicia sua carreira norte-americana, tornando-se uma das principais estrelas da época. Com a guerra em andamento, o sentimento que as comédias procuravam passar era o de escape. Um respiro contra tudo o que acontecia.

É nessa década, mais precisamente em 1941, que um dos principais filmes do cinema é lançado. “Cidadão Kane” tornaria-se um dos maiores exemplos de evolução das técnicas, e seu diretor, Orson Welles, se consagraria.

São muitos filmes reconhecidos nessa época, como por exemplo “O Grande Ditador” (1940) de Charlie Chaplin e “Rebecca” (1940), do também consagrado diretor Alfred Hitchcock.

Década de 50

Os musicais chegam a seu ápice, com o lançamento de um dos principais e mais comentados filmes da era clássica, “Cantando na Chuva” (1952), considerado a grande obra prima do gênero.

É também nessa década que uma das mais notáveis figuras do cinema se consolida. Marilyn Monroe tem seu primeiro papel de destaque no filme “O Segredo das Viúvas” (1951), quando se torna muito popular entre o público.

Outra atriz importante da época é Audrey Hepburn, também símbolo da era clássica. “Sabrina” (1954), dirigido por um dos grandes diretores da época, Billy Wilder, é um de seus filmes lançados na década. Outras personalidades são Brigitte Bardot, Grace Kelly e Elvis Presley. Sabe-se da influência dessas personalidades quando você vai bater um papo com as pessoas que assistiam os filmes da época. Essas celebridades são sempre citadas.

Ao final da década, os grandes estúdios despediram a maioria de seus empregados, entre estrelas, escritores e diretores. É aqui também que o cinema de Hollywood passa por uma reestruturação por conta da popularidade que ganhava a televisão.

Década de 60

Lançamento de outros diversos clássicos, como o maior de Hitchcock, “Psicose” (1960), “Amor, Sublime Amor” (1961), o épico “Cleopatra” (1963) e o filme que quebra a inocência jovem do American way of life, “A Primeira Noite de um Homem” (1967). O último, por sua vez, fecha o sentimento da era dourada para dar lugar ao novo estilo que envolveria Hollywood.

Bem, aqui passamos por diversas décadas que representam cada época do cinema hollywoodiano, que ganhava cada vez mais brilho e prestígio. Travou-se, de fato, um estilo próprio. O “estilo do cinema de estúdio estadunidense”, lembrado principalmente por seus musicais. Vamos entrar agora na era que procederia tudo isso.

Nova Hollywood

Essa foi uma época onde desejava-se começar a contar histórias de maneiras diferentes, com novas formas de abordar a caracterização e construção dos personagens. Procurava-se aqui uma nova linguagem.

É um momento em que começam a surgir cineastas que estudaram o cinema e suas técnicas em universidades. Existem alguns filmes, como “Easy Rider” (1969), que marcaram essa virada para a Nova Hollywood. Nova no sentimento, na linguagem, na técnica e na forma como chegava ao público.

É a casa de alguns dos diretores que mais conhecemos, como Francis Ford Coppola, Steven Spielberg, George Lucas, Brian De Palma, Stanley Kubrick e Martin Scorsese. Como bem sabemos, alguns desses continuam a produzir até hoje. Seus filmes passaram a fazer sucesso com críticos e com o público.

É quando estúdios começam a trabalhar com produtores independentes para a realização de filmes de baixo orçamento. Dava-se valor à figura do diretor enquanto pessoa criativa.

O sentimento era de contracultura, os assuntos eram outros. Mas não foi uma fase de longa duração, indo apenas até o começo dos anos 80.  É conhecida também como a época em que a liberdade acabou mexendo com a cabeça dos diretores e os levou a perder o poder, que estava novamente na mão dos estúdios.

Existe um importante livro que retrata os acontecimentos dessa fase, “Como a geração sexo-drogas-e-rock n’ roll salvou Hollywood”, de Peter Biskand. O livro é cheio de detalhes que vão além do que se vê na tela, para falar dos aspectos sociais e culturais que envolviam a época.

Filmes como “2001: Uma Odisséia no Espaço” (1968), “O Poderoso Chefão” (1972), “Tubarão” (1975), “Taxi Driver” (1976), “Star Wars” (1977) e “Apocalypse Now” (1979) tornaram-se grandes clássicos da Nova Hollywood.

Hollywood Atual

O que temos de atual em Hollywood começa pela década de 80. Os adventos da tecnologia influenciavam a forma como os espectadores passariam a experienciar o cinema e também como ele passaria a ser feito.

Falamos aqui das fitas e do home video, que agora permitiam que o cinema fosse levado para dentro de casa. Nota-se uma queda de bilheteria nos cinemas, mas ainda assim a nova onda era vista como oportunidade para diferentes negócios.

Os filmes de baixíssimo custo - os chamados “caseiros” - começavam a aparecer. O acesso a câmeras de vídeo e fitas VHS davam liberdade para que as pessoas mostrassem sua criatividade. Houve grande demanda de filmes independentes. O cinema começa a ser percebido cada vez mais como produto, e a produção e venda em massa de fitas começa a ganhar força.

Os nomes dessa época são frescos em nossa memória, como por exemplo Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, Paul Thomas Anderson, Spike Lee, Steven Soderbergh e Kevin Smith. Todos diretores consagrados da época.

Seus filmes possuem diversas referências de outras obras, como os clássicos. Tem estilo inovador e cheio de cultura pop, com linguagem diferenciada e muitas vezes influenciada pelos videoclipes lançados nos canais de música jovem, principalmente no que diz respeito à montagem.

Com o desenvolvimento e crescimento dos DVDs no início do século 21, o mercado começa a enxergar a possibilidade de novas maneiras de aproximação com os espectadores. É aí que cenas extras, vídeos de bastidores e de conversa com equipe começam a integrar o material.

Em paralelo com sucesso do cinema independente, temos o crescimento dos blockbusters, filmes de grande proporção, principalmente de ação, que tendem a sempre ter um herói na narrativa, o que começou a agradar muito o público. Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Steven Seagal, Sylvester Stallone, e Jean-Claude Van Damme são exemplos de figuras que marcaram o início dessa leva. Hoje talvez o melhor exemplo de blockbusters sejam os filmes de heróis, como os da Marvel e DC.

A linha do tempo que traçamos aqui nos mostra como o cinema hollywoodiano evoluiu e mudou com o passar do tempo e à partir das diferentes necessidades de cada época. Nota-se isso em nossa sociedade atual, na qual há anos cresce o gosto por filmes grandiosos e de fantasia - muito envoltos pela cultura pop -, como os do universo Marvel e as sagas Harry Potter e O Senhor dos Anéis.

É inegável que esse cinema é um dos principais quando trata-se de Indústria Cinematográfica. Esperamos que aqui você possa ter entendido um pouco de sua grande história e como chegamos ao que vemos hoje.

Texto reproduzido do site: institutodecinema.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário