Texto reproduzido originalmente no site GUIAME, em 13 de maio de 2010
O Cangaceiro comemora 57 anos de prêmio em Cannes
Longa baseado no drama literário de Lima Barreto contou com
Adoniran Barbosa no elenco
Por Heitor Augusto
Em 1953, o Brasil foi marcado pela criação da Volkswagen e
da Petrobras, enquanto o mundo assistia ao descobrimento da estrutura do DNA.
Para nós, porém, o dia 12 de maio foi especial. Nesta data, O Cangaceiro foi
premiado como Melhor Filme de Aventura do Festival de Cannes.
Categoria que, por sinal, nem existe mais. Em 1953,
Henri-Georges Clouzot ganhou o Grande Prêmio (a Palma de Ouro só seria criada
dois anos depois) por Le Salaire de la Peur (O Salário da Dor), que sequer
chegou a estrear por aqui. Além do afago no ego, o que representou o prêmio
para o O Cangaceiro? Qual o papel do filme na cinematografia brasileira?
O drama de Lima Barreto sobre um grupo de cangaceiros que
fica dividido após o surgimento de uma mulher bonita foi o ápice do projeto de
indústria que a Vera Cruz conseguiu alcançar no Brasil. O estúdio foi criado em
1949 pelo produtor italiano Franco Zampari e pelo industrial Francisco
Matarazzo Sobrinho, inspirado na carioca Atlântida, notória produtora de
chanchadas, consideradas "sub-filmes".
O modelo de produção tinha inspiração de Hollywood: apuro
técnico, dramas de qualidade (por vezes dramalhões) e um grupo de estrelas
conhecidas o suficiente para atrair público ao cinema. Os profissionais por de
trás das câmeras vinham importados da Europa, enquanto os equipamentos de Nova
York. O rol de estrelas nacionais contava com nomes extremamente populares à
época, como Mazzaropi, Tônia Carreira, Eliane Lage e Anselmo Duarte.
Na fase de ouro, entre 49 e 54, foram produzidos 18 filmes.
O Cangaceiro trouxe muitas alegrias e outro tanto de tristeza à Vera Cruz. Desde
sua estreia em 20 de janeiro de 1953, no paulistano Art-Palácio, o filme
despontou como um sucesso. Época de ingressos baratos, cinema de rua e público
maciço prestigiando o cinema nacional.
Porém, com o filme ficou evidente o tendão de Aquiles do estúdio:
a distribuição. De bilheteria no Brasil foi R$ 3 milhões na época (R$ 14
milhões hoje) e a população brasileira era de apenas 52
milhões de pessoas. Trocando em miúdos: mesmo com quase um quarto dos brasileiros de hoje, O
Cangaceiro arrecadou o dobro de Alice no País das Maravilhas.
Dessa dinheirama, por causa do contrato de distribuição com
a Columbia, a Vera Cruz recebeu apenas R$ 1 bilhão, insuficientes para cobrir o
orçamento de R$ 1.5 bilhão. O estúdio também não tocou no dinheiro arrecado com
a venda para mais do filme para mais de 80 países e também não teve
participação alguma na bilheteria francesa, apesar de o filme ter ficado em
cartaz por muitos anos.
A Vera Cruz quebrou. O "responsável"? Justamente O
Cangaceiro, premiado em Cannes há exatamente 57 anos como Melhor Filme de
Aventura.
Texto reproduzido do site: guiame.com.br
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