"O horror, o horror: Marlon Brando foi apenas
um dos fatores para transformar 'Apocalypse Now'
em um clássico e a vida do diretor Francis Ford Coppola
em um verdadeiro inferno."
Publicado originalmente no site HUFFPOST BRASIL, em 30 de junho de 2020
Versão definitiva do clássico 'Apocalypse Now' estreia no
Brasil em streaming
"Era como a loucura da Guerra do Vietnã sem a contagem
de corpos", conta o fotógrafo Chas Gerretsen sobre as filmagens.
By Rafael Argemon
Nesta quarta-feira (1º) estreia no Brasil a versão
definitiva de um dos maiores filmes de todos os tempos: o clássico Apocalypse Now.
Lançada em 1979, a produção já teve algumas versões diferentes, como a Redux
(que adicionou gigantescos 49 minutos à original), mas segundo seu próprio
diretor, o americano Francis Ford Coppola, a Final Cut ― agora disponível no
catálogo do Belas Artes À La Carte ― é a melhor delas.
Além de ser mais concisa que a Redux sem deixar de lado
algumas cenas importantes cortadas da original de 79, a versão Final Cut foi
restaurada do negativo original, um trabalho que deu ao filme uma qualidade de
imagem e som muito superior às anteriores. O público, enfim, “vai ver, ouvir e
sentir o filme como sempre sonhei”, disse Coppola.
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes naquele ano,
Apocalypse Now teve sua versão original indicada ao Oscar em 8 categorias,
vencendo as de Melhor Fotografia (para o italiano Vittorio Storaro) e Melhor
Som. Ganhou ainda 3 Globos de Ouro, entre eles o de Melhor Diretor.
Mas essa história de sucesso veio apenas depois do
lançamento do filme. Até aquele momento, o projeto foi um verdadeiro inferno
para Coppola, que financiou boa parte da produção do próprio bolso. Orçado em
US$ 13 milhões, ele terminou custando o dobro e teve seu lançamento adiado
enquanto Coppola reeditava o material infinitas vezes, levando o filme a
esperar por 3 anos até chegar aos cinemas.
As filmagens começaram em 20 de março de 1976 e se
estenderam até 21 de maio de 1977, nas Filipinas. Livre adaptação do romance O
Coração das Trevas, de Joseph Conrad, o filme teve um cronograma inicial de
algumas semanas que acabaram se prolongando por 238 dias e se tornou uma das
produções mais tumultuadas de todos os tempos.
Robert Duvall como o coronel Bill Kilgore,
o comandante que
curtia Wagner e surfe,
na famosa cena do "adoro cheiro de napalm pela
manhã".
Os incidentes incluem a substituição do protagonista (o ator
Harvey Keitel após duas semanas de filmagem nas Filipinas); o infarto de seu
substituto, o ator Martin Sheen, na metade da produção, que, ainda aos 36 anos,
ficou afastado por semanas; a passagem do tufão Olga pelas Filipinas, que
destruiu cenários e equipamentos; e até helicópteros alugados do governo local
usados nas gravações que tiveram de deixar o set sem aviso prévio para lutar de
verdade contra uma insurreição no sul do país.
“Era uma loucura semi-controlada. Durante as filmagens,
Francis lutou contra inundações, funcionários corruptos do governo filipino,
atores amuados ou com crises de estrelismo, publicidade negativa... Passei três
anos fotografando as guerras no Vietnã e Camboja. Eu testemunhei a pura loucura
do Vietnã. Apocalypse Now foi a guerra sem a contagem de corpos”, conta o
holandês Chas Gerretsen, fotógrafo contratado para retratar as filmagens em
entrevista exclusiva ao HuffPost.
Gerretsen aliás, é o protagonista de um dos dois filmes
extras lançados no À La Carte junto com Apocalypse Now: Final Cut: os
documentários Apocalipse de Um Cineasta (1991) e Dutch Angle: Fotografando
Apocalypse Now. Este último, um média-metragem que conta a história de
Gerretsen, que depois de se tornar mundialmente famoso por seu trabalho como
fotógrafo de guerra, foi convidado para registrar as filmagens de Apocalypse
Now para serem usadas no marketing do filme.
O fotógrafo holandês Chas Gerretsen.
“Eu gostava daquele caos organizado. O Vietnã era uma
loucura e trabalhar em Apocalypse Now era só um pouco menos louco. Durante o primeiro
mês, as folhas de chamada exibiam ‘Cenas: Desconhecidas’. Após a chegada de
Marlon Brando [que chegou às Filipinas muito acima do peso e sem nenhuma fala
decorada], os produtores decidiram que parecia melhor escrever: ‘Cenas:
Diversas’. Havia membros da equipe tendo colapsos nervosos o tempo todo, mas
aprendi muito sobre cinema assistindo Francis no comando e sobre iluminação com
Vittorio [Storaro]”, relembra Gerretsen.
“Mesmo agora, 30 anos depois que eu parei de fotografar e
saí de Hollywood para velejar pelo mundo (coisa que ainda estou fazendo hoje),
as pessoas ainda me perguntam sobre minhas experiências no melhor e mais
interessante filme em que trabalhei nos meus 14 anos de carreira como
fotógrafo”, completa.
O ator Sam Bottoms capturado pela câmera de
Chas Gerretsen na mítica sequência do esconderijo
do coronel Kutz (Marlon Brando).
Essas e outras histórias estão em Apocalipse de Um Cineasta,
que completa o pacote do Belas Artes À La Carte. O incrível making of de
Apocalypse Now conta com registros preciosos feitos por Eleanor Coppola, esposa
do diretor. Há áudios em que o próprio Coppola não sabia que estava sendo
gravado. Neles, o diretor fala o quanto estava enlouquecendo com o caótico
processo de filmagem.
Posteriormente, ela entregou suas imagens e áudios aos
cineastas Fax Bahr e George Hickenlooper, que fizeram novas entrevistas com os
membros do elenco e da produção para transformar tudo em um documentário coeso.
A obra é considerada por muitos críticos como o melhor making of de um filme já
feito até hoje...
Texto e imagens reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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