Texto compartilhado do site PLANO CRÍTICO, de 20 de dezembro
de 2016
Crítica | Minha Mãe é uma Peça
Por Leonardo Campos
Paulo Gustavo é um comediante talentoso. O seu magnetismo
com este segmento artístico o tornou um dos atores de maior sucesso dos últimos
anos. O seu humor debochado e as irônicas investidas fazem rir até mesmo
aqueles que não admiram o seu trabalho tal como o grande público. Coloco-me,
desde já, nesta poltrona: apesar de reconhecer o seu talento, o carisma diante
do público que lota os seus espetáculos e a sua capacidade de criar algumas
piadas divertidas, acredito que as suas apostas humorísticas têm alcançado
esvaziamento.
O filme nos apresenta D. Hermínia (Paulo Gustavo), uma
caricata mãe típica que reclama o tempo todo, pega no pé dos filhos, constrange
com a língua afiada e desenfreada e protege a sua prole com requintes de
histeria. Divorciada, a mulher de meia-idade vive com os seus filhos Juliano
(Rodrigo Pandolfo) e Marcelina (Mariana Xavier). Certo dia, cansados dos
exageros da mãe, os meninos cometem um ato falho que a faz sair de casa sem dar
satisfações.
O seu retiro está na casa de uma tia (Suely Franco), espaço
que será o ambiente para a história ser contada no ritmo de flashback. Para
preencher o enredo temos Herson Capri interpretando o ex-marido, Ingrid
Guimarães, atual esposa, óbvio desafeto da matriarca. Além destes personagens
coadjuvantes que em muitos casos, pouco acrescentam ao enredo, temos histórias
tentaculares que abusam do bom senso e ganham desfecho rápido no epílogo, o que
demonstra falta de tato no que tange aos cuidados com o roteiro.
Adaptação do monólogo teatral que foi sucesso de público e
crítica, Minha Mãe é Uma Peça vem na esteira do apelo comercial para as
comédias no Brasil, tais como Se eu Fosse Você e De Pernas pro Ar. Com direção
de André Pellenz, roteiro de Felipe Braz, em parceria com Paulo Gustavo, o
filme segue o padrão global de estética audiovisual, o que nos remete em muitos
momentos ao clima de novela das oito.
Paulo Gustavo, como dito anteriormente, é talentoso, talvez
mais do que isso, é esperto, pois reconhece os seus dotes. Faz stand-up,
controlou com segurança o programa de TV 220 volts, esparramou sucesso com Vai
Que Cola, mas na versão cinematográfica de D. Hermínia, excedeu-se e caiu nas
garras da caricatura. Problema? Só para os mais exigentes, haja vista o
interesse do público por seus materiais, principalmente para o terrível,
tenebroso e depreciativo Vai Que Cola – O Filme, uma das piores produções do
cinema brasileiro contemporâneo.
O problema da comédia no Brasil (talvez no mundo todo) é
gastar energia com momentos pouco inteligentes em prol do humor embasado em
piadas preconceituosas e chulas. A filha de D. Hermínia, por exemplo, é alvo de
piadas esdrúxulas por conta do seu peso e da sua ansiedade, o que lhe faz comer
além do dito normal e, por isso, ser alvo constante, talvez uma muleta, para
fazer rir quando D. Hermínia não consegue dar conta do momento.
Com parcos 84 minutos, Minha Mãe é Uma Peça peca em alguns
aspectos, entretanto, consegue dar conta do recado, caso você não assista com
muitas exigências. A inevitável sequência pretende explorar novos momentos
desta família histriônica e caricata. Será que Paulo Gustavo e seus
companheiros de cena conseguem se superar?
Minha Mãe é uma Peça – Brasil, 2013
Direção: André Pellenz
Roteiro: Felipe Braz, Paulo Gustavo
Elenco: Alexandra Richter, Herson Capri, Ingrid Guimarães,
Mariana Xavier, Mônica Martelli, Paulo Gustavo, Rodrigo Pandolfo, Samantha
Schmütz, Suely Franco
Duração: 84 min
Texto reproduzido do site: planocritico.com
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