Crédito da foto: Reprodução/YouTube
Publicado originalmente no site da revista ISTOÉ, de 29 de
maio de 2021
Morre, ao 85 anos, o diretor de cinema Maurice Capovilla, o
Capô
Estadão Conteúdo
A nota triste deste sábado (29) é a morte de Maurice
Capovilla, aos 85 anos, em decorrência de uma doença pulmonar. Capô, como todo
mundo carinhosamente o chamava no meio cinematográfico, foi diretor de talento.
Entre seus vários filmes, destacam-se documentários como Subterrâneos do
Futebol (1965) e ficções como Bebel, Garota Propaganda (1967), O Profeta da
Fome (1970) e O Jogo da Vida (1977).
Teve também extensa carreira como produtor, ator e docente
de cinema. Trabalhou no projeto original do Instituto Dragão do Mar, núcleo
cinematográfico criado pelo governo do Ceará, em Fortaleza, uma fugaz fonte de
inspiração para o nosso cinema.
Bebel, Garota Propaganda é adaptado do romance de Ignácio de
Loyola Brandão, e O Jogo da Vida, de Malagueta, Perus e Bacanaço, de João
Antônio. São filmes muito bons.
Talvez seu trabalho mais marcante e original seja o
incisivo, estranho e corrosivo Profeta da Fome, estrelado por ninguém menos que
José Mojica Marins, o Zé do Caixão. O personagem vive de exibir-se como faquir
e acaba, involuntariamente, por criar uma seita, na qual seria o guru e
salvador. Mas o espírito iconoclasta da figura tão bem interpretada por Mojica
impede a seita de prosperar.
Na avaliação da obra de Capô, o crítico hesita em colocar
Profeta da Fome ou Subterrâneos do Futebol como a obra-prima do diretor.
Subterrâneos, com seu corte sociológico, talvez ainda a
melhor radiografia do nosso esporte mais popular. Esporte, por falar nisso, ao
qual Capô sempre esteve muito ligado, tendo passado perto de se tornar atleta
profissional em sua juventude, quando saiu de sua Valinhos natal para treinar
no Fluminense. Vale rever esse filme.
Para quem o conhecia, Capô era uma adorável figura. Animado,
cheio de vida e incansável dançarino, animava as noites alegres dos festivais
de cinema no tempo em que estes aconteciam de maneira presencial e eram pontos
de encontro de amigos, além de lugar de debates e concursos de filmes.
Capô fez ainda um longa de ficção, Harmada (2005), baseado
no romance homônimo de João Gilberto Noll e interpretado por Paulo César
Pereio. Também dirigiu um documentário em homenagem ao compositor Lupicínio
Rodrigues, chamado Nervos de Aço, título de uma das canções de Lupi, um
magistral cultor da dor-de-cotovelo. Grande admirador de Lupicínio, Capô no
entanto tinha a alegria como divisa maior e vocação natural. Foi uma grande
pessoa.
Texto e imagem reproduzidos do site: istoe.com.br
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