Artigo publicado originalmente no site VITAMINA NERD, em 11 de janeiro de 2023
Os Fabelmans
Por Paulo Martins
Foi em 1993 que eu me apaixonei de verdade pela sétima arte, graças a um diretor que decidiu provar que dinossauros poderiam ser reais e trouxe às telas a (até hoje, na minha opinião) melhor aventura que o cinema já viu. Desde então eu sou fissurado por Spielberg e mesmo seus filmes mais fracos me encantam. Por isso eu estava ansioso para assistir “Os Fabelmans“, um filme semi-autobiográfico, mas uma visão extremamente acurada da infância do diretor.
Eu já esperava que fosse gostar do filme, porém tentei segurar a expectativa. Não seria preciso: ele é totalmente diferente do que eu esperava – e muito melhor.
“Semi”-autobiográfico
Para começo de conversa: o filme é completamente auto-biográfico. Ele é muito mais acurado do que a maioria dos dramas históricos; e o site historyvshollywood teve até dificuldades em achar elementos na história que não fossem fatos reais da vida de Spielberg.
Na realidade, a única parte ficcional da história toda são os nomes dos personagens. Steven é Sammy. Seus pais, originalmente Leah e Arnold, são chamados no filme de Mitzi e Burt. E “Spielberg” virou “Fableman“. As mudanças óbvias não escondem os spoilers de qualquer pessoa que saiba um pouco da vida do diretor. E qualquer um que já tenha visto algum de seus filmes (um grupo que acredito que seja abrangente o suficiente para incluir 99% das pessoas do planeta) vai ver na sua infância marcas que Steven levou para sempre em seus filmes, em especial aos problemas familiares e à sua habilidade em dirigir crianças, que começou com o diretor produzindo filmes estrelados por suas irmãs mais novas. Assim, o filme parece até prolongar demais o inevitável: todo mundo sabe o que vai acontecer, mas demora para chegar lá.
No fim, o próprio Steven confessa que o “semi” está aí para diminuir um pouco da pedância que é dirigir um filme sobre si mesmo. Não adiantou: o filme é 100% a vida do cara.
Os Fabelmans: Projeto de uma vida
Na longa lista de 35 filmes dirigidos por Spielberg, é muito difícil encontrar um filme que seja ruim. Talvez “Indiana Jones e a Caveira de Cristal” seja o mais controverso e o mais fraco, mas nem esse eu considero ruim. Porém é inegável e óbvio que há algo especial nos projetos que o diretor se apaixona. Seja no drama “A Lista de Schindler“, que passou décadas em produção ou em E.T., que claramente reflete muito da tempestuosa relação familiar que o diretor passou na infância.
Pela natureza extremamente pessoal do projeto, é possível ver essa paixão em cada cena do filme. Com um roteiro emocionante e sem vilões, Steven faz uma auto-reflexão da sua própria infância – e assistir a isso deve ajudar demais sua psicóloga durante as sessões de terapia.
Só vai
O resultado de tanto amor é um filme brilhante. “Os Fabelmans” tem seus momentos cômicos, alternando com um drama meio piegas, mas sem nunca perder a ternura. Paul Dano segue foda como sempre. Michelle Williams brilha muito interpretando Mitzi. O protagonista Gabriel LaBelle abraçou demais a oportunidade que a vida lhe deu e não desapontou.
O filme vem forte para a temporada de premiações: ganhou o Globo de Ouro de melhor filme de drama e melhor diretor e com certeza vai concorrer nessas categorias no Oscar.
É raro ver um filme biográfico tão fiel à sua história real, e mais difícil ainda quando esse projeto é auto-biográfico. Há sim o medo de parecer arrogante e petulante, mas o diretor não deixa esse medo estragar um filme tão fantástico.
E se tem alguém que pode ser pedante, é Steven Spielberg; tá completamente perdoado.
Nome Original: The Fabelmans
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Michelle Williams, Gabriel LaBelle, Paul Dano, Judd Hirsch, Seth Rogen
Gênero: Drama
Produtora: Amblin Entertainment
Distribuidora: Universal Pictures
Ano de Lançamento: 2022
Tags Drama
Texto reproduzido do site: vitaminanerd com br
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