quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Celso Marconi faz parte da formação de quem ama o cinema

Post compartilhado do Facebook/Kleber Mendonça Filho, de 3 de janeiro de 2024

Celso Marconi faz parte da formação de quem ama o cinema. Escreveu durante anos para o Jornal do Commercio, no Recife, para onde mais tarde eu escrevi, na mesma função dele. O Jornal do Commercio nos anos 80 era mal impresso e sujava os dedos de tinta. Mas meu pai era fiel leitor e eu gostava de ler Celso Marconi, que no cenário nacional de opiniões sobre filmes, as dele eram as de maior ruptura, as mais distantes do consenso, muitas que eu não entendi ou concordava, outras que eu totalmente sincronizava. Por default, ele não gostava (ou questionava de forma constante) o cinema americano e defendia o brasileiro, era comunista retinto, e esse caldo e tempero era realmente único em sabor e em ângulo, gostando ou não. E o humor ácido, na escrita ou ao vivo. Celso era cronista cético, o melhor tipo, e sua visão de mundo também foi expressa como programador de cinema, no Cinema Coliseu em Casa Amarela (hoje um pavoroso Moura Dubeux), no Cinema do Parque, no Cinema Ribeira, nos anos 90, para onde levou Seu Alexandre Moura, que havia perdido o emprego de projecionista com o fechamento do Art Palácio em 1992. Quantas vidas são impactadas ou moldadas por alguém como Celso Marconi, que escreveu e fez escolhas a partir de artefatos de cultura? 

Como resulta uma cidade a partir da soma de gente assim? Numa nota pessoal Celso também foi quem me convidou para ir pela primeira vez a um festival de cultura (o Festival de Inverno de Garanhuns) e a um festival de cinema, a Jornada de Cinema da Bahia (“por um mundo melhor”), depois de falar para seu amigo Guido Araújo sobre Casa de Imagem, documentário de fim de curso de jornalismo que fiz co realizado por Elissama Cantalice. Aos poucos, as pessoas vão fazendo parte de uma trajetória. Hoje, já devo ter ido a 300 festivais em 30 países, mas o primeiro com um filme meu, foi por causa de Celso Marconi. Um grande abraço para a família e especialmente para Trudy Keusen, uma grande presença na vida de Celso e nos trabalhos que fizeram juntos. 

Essas fotos de Celso com camisa amarela foram tiradas em agosto 2023, ano passado. Eu queria que ele tivesse ido ver Retratos Fantasmas no Parque. Ele viu em casa, com Trudy ajudando a preencher as lacunas do que ele já não conseguia enxergar.

Texto e imagem reprodzidos do Facebook/Kleber Mendonça Filho.

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