sábado, 12 de julho de 2025

Morre Jean-Claude Bernardet, crítico e referência do cinema brasileiro


Publicação compartilhada do site ITAÚ CULTURAL, de 12 de julho de 2025

Morre Jean-Claude Bernardet, crítico e referência do cinema brasileiro, aos 88 anos

Belga naturalizado brasileiro, Bernardet foi professor da USP, autor de obras essenciais sobre o cinema nacional e atuou em filmes nos últimos anos

Jean-Claude Bernardet morreu na manhã deste sábado, 12 de julho, aos 88 anos. A informação foi confirmada pela Cinemateca Brasileira, onde será realizado o velório. Figura central no pensamento sobre o cinema do Brasil, ele teve atuação marcante como ensaísta, docente, roteirista e ator, com uma trajetória que atravessou diferentes momentos da produção audiovisual no país.

Embora a causa da morte ainda não tenha sido oficialmente divulgada, Bernardet enfrentava problemas de saúde há algum tempo. Portador do vírus HIV, convivia também com um câncer de próstata reincidente, optando por não se submeter a tratamentos agressivos como quimioterapia, além de lidar com uma degeneração ocular que afetava sua visão. 

Mesmo afastado das atividades públicas nos últimos anos por razões de saúde, manteve-se ativo em projetos culturais, atuou em filmes, escreveu livros e participou de debates sobre cinema. 

Contribuição para o cinema brasileiro

Nascido em Charleroi, Bélgica, em 1936, Jean-Claude Bernardet chegou ao Brasil em 1949. Naturalizou-se brasileiro e fez de São Paulo seu principal território de atuação intelectual. Na juventude, participou ativamente do movimento cineclubista e logo se destacou como crítico de cinema,com textos no suplemento literário do Estadão, sob a orientação de Paulo Emílio Salles Gomes.

Sua primeira grande contribuição teórica veio em 1967, com o livro Brasil em tempo de cinema, no qual analisava o Cinema Novo a partir de uma perspectiva crítica e inovadora. Ao longo da carreira, publicou cerca de 25 livros, entre ensaios e obras de ficção, como Cineastas e imagens do povo, O que é cinema e Autoficções. Atuou também como roteirista e ator, colaborando com cineastas como Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Reichenbach, Andrea Tonacci e Adirley Queirós.

Nos anos 1990 e 2000, passou a dirigir e atuar com mais frequência. Destacam-se São Paulo, sinfonia e cacofonia (1994) e, especialmente, FilmeFobia (2008), de Kiko Goifman, em que ele desconstrói a própria imagem de intelectual. Essa virada o aproximou de uma nova geração do cinema independente, que passou a vê-lo como referência. 

Professor da UnB e, mais tarde, da USP, onde se aposentou em 2004, Bernardet teve papel importante na formação de críticos e cineastas. Sua obra, marcada tanto pela consistência quanto pela disposição à mudança, transitou entre gêneros, formatos e abordagens. Seu envolvimento com o cinema brasileiro foi ao mesmo tempo reflexivo e prático, atravessando diferentes funções ao longo de mais de seis décadas.

Texto e imagem reproduzidos do site: www itaucultural org br

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