quarta-feira, 24 de setembro de 2025

O Cinema em Sergipe: Uma História de Emoção, Cultura e Resistência

Imagem para simples ilustração do presente artigo

Artigo compartilhado do site ROACONTECE, de 14 de setembro de 2025  

O Cinema em Sergipe: Uma História de Emoção, Cultura e Resistência

Por Emanuel Rocha *

No alvorecer do século XX, o cinema chegou a Sergipe, em sintonia com a crescente paixão nacional pelas imagens em movimento. As primeiras projeções eram itinerantes, realizadas em teatros ou espaços improvisados, e maravilhavam o público com sequências mudas, embaladas por música ao vivo. Um momento crucial foi a inauguração do Cine Teatro Rio Branco, em 1909, em Aracaju, tido como o primeiro cinema fixo do estado. O Rio Branco se firmou como um ponto cultural significativo, exibindo filmes silenciosos com acompanhamento de pianistas e pequenos grupos musicais, e introduziu uma nova forma de lazer na capital sergipana.

Com o sucesso do Cine Rio Branco, outras salas emergiram e democratizaram o acesso ao cinema. Na década de 1930, ganharam destaque o Cine Vitória (1934), o Cine Rex (1935) e o Cine Guarany (1938), situados no coração da cidade. Nos anos 1950, a expansão prosseguiu com o Cine São Francisco (1939), no bairro Santo Antônio, o Cine Tupi (1954), na Rua Simão Dias, o Cinema Aracaju (1955), na Rua Laranjeiras, e o moderno Cine Palace (1956), na Rua João Pessoa, perto da Praça Fausto Cardoso.

Outras salas também marcaram época em bairros mais distantes ou em áreas de expansão urbana da época, a exemplo do Cine Bonfim, no Siqueira Campos, e o Cine Vera Cruz, que levaram o cinema para perto das comunidades populares. O Cine Atalaia, ativo até meados dos anos 1950, ficava na antiga Avenida Beira-Mar e se destacou como uma das salas pioneiras fora da área central. O Cine Rio Negro, localizado na esquina das ruas Simão Sobral com João Ribeiro, no bairro Industrial, virou referência para os moradores da zona norte, oferecendo sessões acessíveis.

Por sua vez, o Cine Star, situado entre a Rua Visconde de Maracaju e a Avenida Sanatório, no bairro Cidade Nova, se sobressaiu nas décadas de 1980 e 1990 como uma das últimas salas de bairro em funcionamento, mantendo viva a tradição do cinema popular. O Cine Plaza, na Rua Santa Catarina, completava esse circuito afetivo e simbólico que por décadas fez parte do dia a dia cultural dos aracajuanos. Ainda na década de 1980, começou a construção do Cine América, na Praça Franklin Roosevelt, no bairro América. A obra despertou expectativas entre os moradores da zona oeste da cidade, mas o cinema nunca foi aberto, tornando-se um símbolo do abandono de projetos culturais na cidade.

Apesar de estarem desativados, aqueles antigos cinemas de rua marcaram época em Aracaju como pontos de encontro, diversão e cultura, fixando-se na lembrança dos moradores. Por muitos anos, essas salas exibiram um charme único. Nesses lugares, a cidade ganhava vida: o centro ficava cheio de pessoas bem-vestidas, a expectativa pelos filmes novos animava a praça, e ir ao cinema era muito mais do que se divertir – era um costume social, cultural e afetivo. Mesmo depois que os cinemas dos shoppings surgiram, muitos aracajuanos ainda se lembram com carinho daquelas salas tradicionais, principalmente as do centro, onde a alma da cidade pulsava. Esses cinemas eram o centro da cultura, um lugar onde as pessoas construíam suas memórias juntas, esperando na fila, comendo pipoca, conversando e prestando atenção no filme.

Atualmente, só existe um cinema de rua aberto na capital sergipana: o Cine Walmir Almeida, que fica no Centro de Cultura de Aracaju. Esse cinema mantém viva a tradição de exibir filmes fora dos shoppings, com uma programação que inclui filmes de arte, produções independentes e eventos culturais.

A partir da década de 1990, a forma como as pessoas viam filmes em Aracaju mudou, com o fechamento aos poucos dos cinemas de rua e o crescimento dos cinemas nos shoppings. A mudança nos costumes e o crescimento rápido da cidade levaram o lazer para os grandes centros comerciais, onde os multiplex se tornaram populares. Salas com ar-condicionado, som digital, cadeiras confortáveis e muitos filmes diferentes mudaram o significado de “ir ao cinema”.

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* Emanuel Rocha é historiador, coautor dos livros Bacias Hidrográficas de Sergipe, Unidades de Conservação de Sergipe e Bairro América: A saga de uma comunidade. Também atua como repórter fotográfico e poeta popular.

Texto reeproduzido do site: roacontece com br

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