“Cine Aracaju, a melhor programação da cidade”, era esse o
slogan, deste que era o menor cinema do centro da cidade, situado à Rua
Laranjeiras, Aracaju/Sergipe, onde hoje existe um estacionamento. Quando foi
adquirido pelo empresário José Queiroz, teve modificada toda a fachada e a sala
de espera, sem que fosse preciso interromper o seu funcionamento. Ao sair da
sala de espera, subindo pequenos degraus havia um grande espelho, onde as
garotas gostavam de ficar se arrumando. Do lado esquerdo havia uma cigarra que
servia para o porteiro avisar ao projecionista a hora de iniciar a sessão. Na
sala de exibição foram trocadas também as cadeiras de madeira por pequenas
poltronas com estofados no assento, encosto e braços, novidade nos cinemas da
cidade. Foi trocada também a tela que era de formato acadêmico (quadrada) para
cinemascope (retangular). Possuía dois projetores Philips Holandês, mono, que
foram adaptados, depois, para som estereofônico. Dos filmes polêmicos que foram
exibidos pelo Aracaju, três se destacaram: Laranja Mecânica (1971) com Malcolm
McDowell , que por ter cenas de nudez explícita, só foi liberado depois que a
companhia colocou na cópia, com recursos de laboratório, bolinhas pretas
cobrindo os órgãos sexuais dos protagonistas. Isto provocava risos na platéia
quando da sua exibição, pois viam-se as bolinhas correndo de um lado para o outro,
na frente dos atores, a fim de cobrir os órgãos sexuais dos mesmos; O Último Tango em Paris (1972) com Marlon Brando, filme que por muitos anos, ficou proibido, pela
censura, de ser exibido no Brasil; Platoon (1986), ganhador
de quatro Oscars, um dos relatos mais emocionantes dos horrores da Guerra do
Vietnã, dirigido pelo ex-combatente Oliver Stone; outro filme que a censura
teve uma recaída, por causa das cenas de violência foi Cobra (1986) com Sylvester Stallone. Os cortes foram feitos na cabine do cinema, pelo
próprio projecionista, seguindo orientações vindas de Brasília, descrevendo as
cenas que deveriam ser excluídas. Na Semana Santa era sempre reprisado o filme
sobre a morte de Cristo, nos Cinemas Aracaju e também Rio Branco (que era
arrendado à Zé Queiroz), com uma única cópia para ambos. Por isso, era
necessário que os cinemas começassem as sessões em horários diferentes, dando
tempo para que um funcionário da empresa ficasse transportando, a pé e por
partes, as latas do filme de um cinema para o outro (na época jovens comentavam
que algum dia iam fazer com que os dois cinemas parassem, segurando o
funcionário no percurso entre um cinema e outro). Dos épicos, lembro-me do
filme A Bíblia... no Início
(1966), de John Houston, assistido com grande
desconforto, pois havia um grilo dentro do cinema. Bons tempos! Hoje o
desconforto é o barulho do toque do celular.
Armando Maynard
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