sexta-feira, 14 de setembro de 2018

As perspectivas do Cinema de arte em Aracaju

Entrada do Cine Vitória, localizado na Rua do Turista, 
no centro de Aracaju. Créditos: Geilson Gomes

Publicado originalmente no site Contexto UFS Comunicacao, em 29/01/2014 

As perspectivas do Cinema de arte em Aracaju

Joel Crea, Myriam Hopkins, Brian Donlew e Edward Robinson. É bem provável que o caro leitor não reconheça estes astros que faziam sucesso nas telonas do Cinema Vitória, na década de 40, em Aracaju. O Cinema Vitória – inaugurado em outubro de 1934 – foi contemporâneo de vários cinemas na capital sergipana em décadas passadas, mas hoje ele o único cinema de rua que resistiu ao tempo e continua aberto ao público. Localizado na Rua do Turista, no centro comercial, o cinema enfrenta hoje dias difíceis com a baixa frequência dos apreciadores da sétima arte.

O Cinema Vitória pertenceu ao mesmo momento histórico de vários cinemas na capital sergipana, entre eles: o Cinema Guarany, Cine Rio Branco e o Cinema Universal Palace.

O Cinema Vitória foi revitalizado no mês de maio de 2013, após passar onze anos fechado. Segundo a coordenadora do cinema, Dayse Rocha, este tempo inativo favoreceu para o afastamento gradativo do público. “Pode ter sido isso que o deixou no esquecimento, estamos tentando revitalizar o hábito do público sergipano de visitar o cinema sergipano”, analisa.

A gestão atual do cinema fica por conta da Casa Curta-SE, uma organização não-governamental que atua na área do audiovisual. “Para a revitalização do Cine Vitória firmamos um convênio, em julho de 2013, com o governo estadual, através da Secretaria de Cultura do Estado, e com o governo federal, através do Ministério da Cultura”, disse Dayse Rocha. Ela acrescenta que o valor do convênio foi de R$ 272.573,17.

Além disso, ela acrescenta que o cinema, pós revitalização, tem características diferenciadas dos cinemas do shopping. “A proposta é de um cinema numa sala popular, concentrada no centro histórico da cidade. Reproduzimos filmes com conteúdos mais restritos, filmes culturais e curtas. O único cinema em Sergipe com esse foco. Esses são os diferenciais do Cinema Vitória”, avalia.

Contudo, a coordenadora é enfática em afirmar que um cinema não se faz sem o público. “Nós da Casa Curta-SE assumimos todos os custos de manutenção e sustentabilidade do cinema. Cobramos preços populares, no meio da semana o preço é R$ 4,00 (meia ENTRADA) e R$ 8,00 (inteira), nos fins de semana o preço é de R$ 5,00 e R$10,00, respectivamente. Os convênios vieram somente para montagem da sala. Precisamos de verba para manter a sala ativa, e é através do ingresso que a gente possibilita esse cumprimento do custo mensal”, garante.

Pontos de vista

Para a cinéfila e jornalista Suyene Correia, há um público em Aracaju que assiste e gosta de cinema alternativo, porém, este público não vem comparecendo às sessões do Cine Vitória. “Há muitas pessoas que criticam os filmes que são ofertados nos cinemas comerciais da cidade, mas não prestigiam os filmes exibidos no cinema independente de Aracaju”.

Ela afirma que os principais frequentadores deveriam ser os estudantes de audiovisual. “A porcentagem de alunos de audiovisual que vai ao cinema é muito reduzida. O que os estudantes estão assistindo?”, indaga a crítica de cinema.

Suyene ressalta a importância da realização dos festivais e mostras no sentido de movimentar e trazer bons públicos. “Para mim, o grande exemplo foi o Festival Varilux de Cinema Francês. As sessões estavam, em sua maioria, cheias de apreciadores”, diz.

Quem reforça a relevância dos festivais e mostras no cinema é a realizadora sergipana, Everlane Moraes, que teve um filme exibido no cinema. “Estes eventos servem com um atrativo a mais para que novas pessoas frequentem o local. É interessante buscar realizadores de outros estados para fazerem exibição de seus filmes”. Para ela, incentivos à produção local também é um fator a ser discutido. “Meu filme foi um dos mais exibidos no cinema, e é muito bom fazer parte do Cinema Vitória, mas, o que queremos é mais incentivo na parte de produção e pós-produção. Este apoio é crucial para os realizadores do estado”.

Os horários das sessões e o local onde está instalado o Cinema Vitória também foram alvos de críticas por parte de Everlane Moraes. “Muitas pessoas trabalham e estudam no horário da maioria das sessões. Contudo, acredito que devemos valorizar mais o cinema popular que temos. Em Sergipe o incentivo à cultura é muito pouco, por isso que o público também é pouco”.

Alessandro Carvalho, assíduo frequentador do cinema, sempre reserva um tempo para ir ao cinema. “Gosto da programação daqui, mas, há alguns problemas como o horário e o local que é de difícil estacionamento”, afirma. Ele ainda analisa que com avanço das tecnologias, as pessoas preferem baixar filmes e assistir em casa do que ir ao cinema.

O professor de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe, Romero Venâncio argumenta que o público do cinema tem que ser criado. “O Cinema Vitória não tem que se preocupar com o público agora. O público de arte precisa ser construído, com mostras, debates e conversas. O cinema precisa saber quem é o seu público e movimentar o cinema com arte. O cinema passa agora por uma crise de identidade”, avalia.

“Uma outra coisa é que ele (o cinema) não pode concorrer com o Cinemark. Isso não existe. Cada um tem uma proposta de cinema. No Cinemark não passa o filme Tatuagem, um filme pernambucano muito premiado que passou em quase todas capitais. Além do Festival Varilux, esta iniciativa foi bem acertada”, completa Romero.

Texto: Geilson Gomes.

Texto e imagem reproduzidos do site: contextoufs.comunicacao-ufs.com.br

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