Entrada do Cine Vitória, localizado na Rua do Turista,
no centro de Aracaju. Créditos: Geilson Gomes
Publicado originalmente no site Contexto UFS Comunicacao, em 29/01/2014
As perspectivas do Cinema de arte em Aracaju
Joel Crea, Myriam Hopkins, Brian Donlew e Edward Robinson. É
bem provável que o caro leitor não reconheça estes astros que faziam sucesso
nas telonas do Cinema Vitória, na década de 40, em Aracaju. O Cinema Vitória –
inaugurado em outubro de 1934 – foi contemporâneo de vários cinemas na capital
sergipana em décadas passadas, mas hoje ele o único cinema de rua que resistiu
ao tempo e continua aberto ao público. Localizado na Rua do Turista, no centro
comercial, o cinema enfrenta hoje dias difíceis com a baixa frequência dos
apreciadores da sétima arte.
O Cinema Vitória pertenceu ao mesmo momento histórico de
vários cinemas na capital sergipana, entre eles: o Cinema Guarany, Cine Rio
Branco e o Cinema Universal Palace.
O Cinema Vitória foi revitalizado no mês de maio de 2013,
após passar onze anos fechado. Segundo a coordenadora do cinema, Dayse Rocha,
este tempo inativo favoreceu para o afastamento gradativo do público. “Pode ter
sido isso que o deixou no esquecimento, estamos tentando revitalizar o hábito
do público sergipano de visitar o cinema sergipano”, analisa.
A gestão atual do cinema fica por conta da Casa Curta-SE,
uma organização não-governamental que atua na área do audiovisual. “Para a
revitalização do Cine Vitória firmamos um convênio, em julho de 2013, com o
governo estadual, através da Secretaria de Cultura do Estado, e com o governo
federal, através do Ministério da Cultura”, disse Dayse Rocha. Ela acrescenta
que o valor do convênio foi de R$ 272.573,17.
Além disso, ela acrescenta que o cinema, pós revitalização,
tem características diferenciadas dos cinemas do shopping. “A proposta é de um
cinema numa sala popular, concentrada no centro histórico da cidade.
Reproduzimos filmes com conteúdos mais restritos, filmes culturais e curtas. O
único cinema em Sergipe com esse foco. Esses são os diferenciais do Cinema
Vitória”, avalia.
Contudo, a coordenadora é enfática em afirmar que um cinema
não se faz sem o público. “Nós da Casa Curta-SE assumimos todos os custos de
manutenção e sustentabilidade do cinema. Cobramos preços populares, no meio da
semana o preço é R$ 4,00 (meia ENTRADA) e R$ 8,00 (inteira), nos fins de semana
o preço é de R$ 5,00 e R$10,00, respectivamente. Os convênios vieram somente
para montagem da sala. Precisamos de verba para manter a sala ativa, e é
através do ingresso que a gente possibilita esse cumprimento do custo mensal”,
garante.
Pontos de vista
Para a cinéfila e jornalista Suyene Correia, há um público
em Aracaju que assiste e gosta de cinema alternativo, porém, este público não
vem comparecendo às sessões do Cine Vitória. “Há muitas pessoas que criticam os
filmes que são ofertados nos cinemas comerciais da cidade, mas não prestigiam
os filmes exibidos no cinema independente de Aracaju”.
Ela afirma que os principais frequentadores deveriam ser os
estudantes de audiovisual. “A porcentagem de alunos de audiovisual que vai ao
cinema é muito reduzida. O que os estudantes estão assistindo?”, indaga a
crítica de cinema.
Suyene ressalta a importância da realização dos festivais e
mostras no sentido de movimentar e trazer bons públicos. “Para mim, o grande
exemplo foi o Festival Varilux de Cinema Francês. As sessões estavam, em sua
maioria, cheias de apreciadores”, diz.
Quem reforça a relevância dos festivais e mostras no cinema
é a realizadora sergipana, Everlane Moraes, que teve um filme exibido no
cinema. “Estes eventos servem com um atrativo a mais para que novas pessoas
frequentem o local. É interessante buscar realizadores de outros estados para
fazerem exibição de seus filmes”. Para ela, incentivos à produção local também
é um fator a ser discutido. “Meu filme foi um dos mais exibidos no cinema, e é
muito bom fazer parte do Cinema Vitória, mas, o que queremos é mais incentivo
na parte de produção e pós-produção. Este apoio é crucial para os realizadores
do estado”.
Os horários das sessões e o local onde está instalado o
Cinema Vitória também foram alvos de críticas por parte de Everlane Moraes.
“Muitas pessoas trabalham e estudam no horário da maioria das sessões. Contudo,
acredito que devemos valorizar mais o cinema popular que temos. Em Sergipe o
incentivo à cultura é muito pouco, por isso que o público também é pouco”.
Alessandro Carvalho, assíduo frequentador do cinema, sempre
reserva um tempo para ir ao cinema. “Gosto da programação daqui, mas, há alguns
problemas como o horário e o local que é de difícil estacionamento”, afirma.
Ele ainda analisa que com avanço das tecnologias, as pessoas preferem baixar
filmes e assistir em casa do que ir ao cinema.
O professor de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe,
Romero Venâncio argumenta que o público do cinema tem que ser criado. “O Cinema
Vitória não tem que se preocupar com o público agora. O público de arte precisa
ser construído, com mostras, debates e conversas. O cinema precisa saber quem é
o seu público e movimentar o cinema com arte. O cinema passa agora por uma
crise de identidade”, avalia.
“Uma outra coisa é que ele (o cinema) não pode concorrer com
o Cinemark. Isso não existe. Cada um tem uma proposta de cinema. No Cinemark
não passa o filme Tatuagem, um filme pernambucano muito premiado que passou em
quase todas capitais. Além do Festival Varilux, esta iniciativa foi bem
acertada”, completa Romero.
Texto: Geilson Gomes.
Texto e imagem reproduzidos do site: contextoufs.comunicacao-ufs.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário