sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Crítica do Filme: “Intocáveis”

Imagem Divulgação - postada pelo blog para 
ilustrar a presente crítica.

Crítica do filme: “Intocáveis”

Por Eleonora Rosset

Uma Maserati dirigida à toda, costura o trânsito à noite nas ruas de Paris. A polícia persegue o motorista infrator com estardalhaço.

Dentro do carro, ao volante, um jovem negro e um senhor de barba se entreolham com cumplicidade.

“- Você está em forma”, diz o senhor, apreciativo.

“- Aposto 200 como eles nos escoltam”, responde o rapaz negro de olhos sorridentes.

Quando a polícia os encurrala e o negro é jogado sobre o capô da Maserati, o mais velho começa a ter uma crise epiléptica dentro do carro.

“- Vocês estão loucos? Por que acham que eu estava correndo? Ele está doente! Tenho que ir para o pronto-socorro!” grita o rapaz negro para o policial.

E, na cena seguinte, ao som de uma música de discoteca anos 70, a dupla se diverte, cantando junto aos berros enquanto o negro dança ao volante, escoltados pela polícia até o hospital.

Passam os créditos na tela e ficamos sabendo que a história que inspirou o filme é real. No final, aparecem os dois verdadeiros protagonistas. Prestem atenção.

Mas, logo, o que nos cativa é o humor com que essa história, de uma dupla surpreendente, é contada.

Um acidente trágico de “parapente” levou Phillippe (o excelente François Cluzet) a uma cadeira de rodas. O tetraplégico milionário, que mora em um “hôtel particulier”, uma mansão luxuosa, precisa que façam tudo por ele, 24 horas por dia. Ele é inteligente, culto, bem educado. Mas o que é a vida sem um algo a mais que a torne interessante?

É aí que entra Driss, um jovem negro da periferia de Paris, ex-presidiário, desempregado, que tem alegria de viver de sobra.

Se Phillippe não tem como se movimentar e já perdeu as esperanças de algo que o faça vibrar nessa vida, Driss enfrenta dificuldades para sobreviver mas, apesar disso, não perdeu seu jeito bem humorado de ser. Ele entra na vida do outro como uma rajada de forças novas que Phillippe vai saber apreciar.

“Intocáveis” é a história desse encontro, onde dois universos tão diferentes se harmonizam, criando um terreno fértil para uma forte amizade.

Haverá uma troca que beneficiará os dois amigos.

Driss vai ser não só as pernas e braços de Phillippe mas também sua curiosidade e coragem. E Phillippe vai ampliar os horizontes de Driss, apresentando a ele um mundo que ele não conhecia. Será seus olhos e ouvidos abertos para o novo. Mas tudo isso sempre com humor. E nem sempre politicamente correto. Ainda bem. O roteiro dos dois diretores, Toledano e Nakache, tem o bom gosto de não fazer julgamentos nem ser moralista.

Mas “Intocáveis” não seria um filme tão bom e simpático, se não contasse com Omar Sy e François Cluzet como a dupla de amigos.

Não foi à toa que o jovem senegalês de 34 anos levou o César de melhor ator francês, concorrendo com ninguém menos que Jean Dujardin, o ganhador do Oscar americano. Alto, bonito, com um corpo expressivo e ágil, ele sabe fazer rir e comove com a mesma intensidade.

François Cluzet que consegue a façanha de contracenar com essa explosão de forças da natureza que é Omar Sy, apenas com a expressão de seu rosto, foi a escolha acertada para ser o outro da dupla.

Eu torço para que o cinema francês de qualidade conquiste cada vez mais o espectador brasileiro, viciado em “blockbusters” americanos.

Faça como eu e mais de 40 milhões ao redor do mundo e vá se encantar com “Intocáveis”.

Texto reproduzidos do site: eleonorarosset.com.br

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