quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Crítica do filme: “Quanto Mais Quente Melhor”

Imagem - Divulgação, postada pelo blog 
para ilustrar o presente artigo

Texto publicado originalmente no site CRÍTICO, em 07.02.2003

Crítica do filme: “Quanto Mais Quente Melhor”

Por Fernando Albagli

"Ninguém é perfeito!"

A frase final que ficou famosa falada por Joe E. Brown (no Brasil apelidado carinhosamente de Boca-Larga) não define, absolutamente, Billy Wilder neste filme. Ele está perfeito. Como diretor, produtor e roteirista.

Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot), na carreira do pequenino judeu austríaco, é como um lado da moeda em que o outro é Crepúsculo dos Deuses. Uma das maiores comédias – o American Film Institute a aponta como a maior – e um dos maiores dramas do cinema americano. Ambos tratam de Hollywood. No drama, explicitamente: Sunset Boulevard, astros do cinema mudo interpretando astros do cinema mudo, um jovem roteirista e uma velha estrela, Cecil B. DeMille em pessoa. Na comédia como referência às grandes screwballs (comédias malucas) de várias épocas: alguma coisa de Keaton, alguma coisa dos Marx, alguma coisa de Hawks, tudo de Wilder.

Quanto Mais Quente Melhor começa como um típico filme de gângster – Lei Seca, anos 1920, Chicago. Dois músicos desempregados – Joe (Curtis) e Jerry (Lemmon) – assistem, numa garagem, ao célebre massacre do Dia de São Valentino.

Fugindo dos assassinos da quadrilha de Spats Columbo (Raft), que querem eliminar as incômodas testemunhas, os dois se travestem como componentes da banda feminina de Sweet Sue (Shawlee), transformando-se em Josephine e Daphne. E viajam com ela para a Flórida.

Os protagonistas são Curtis e Lemmon. Mas o filme só se define com a entrada de Marilyn Monroe (Sugar Kane), a crooner e tocadora de ukelele da banda. Revela, então, seu verdadeiro tema. Inspirada numa antiga farsa alemã - Fanfaren der Liebe - é uma comédia sobre sexo. E sobre os sexos.

Joe / Josephine se apaixona por Sugar. O milionário Osgood E. Fielding III (Brown), casado e divorciado sete vezes, se apaixona por Daphne / Jerry. Sugar se interessa por Joe, quando ele imita a sofisticação de Cary Grant e ela pensa que ele é um ricaço.

E o amor sempre vence. Os dois casais (?!) terminam felizes.

Com certeza a melhor comédia de homens travestidos, demonstra também a habilidade de Wilder em transformar a idéia de uma só piada num filme de duas horas. Sem se repetir, beirando sempre o absurdo sem nunca cair nele, num misto de irreverência e inocência.

Farsa total, mesmo nos momentos que poderiam ser românticos, como no encontro de Tony e Marilyn no iate, Quanto Mais Quente Melhor tem grandes achados no roteiro e pérolas nos diálogos. Mas, principalmente, é conduzido pela mão leve do diretor e se afirma nas interpretações. Curtis e Lemmon muito à vontade, Marilyn entre ingênua e sedutora, sensualíssima quando canta, elenco de apoio excelente.

As frases de humor, às vezes sutis, às vezes óbvias, são sempre muito bem colocadas e pronunciadas num timing perfeito, como se exige dos melhores comediantes. Basta lembrar Lemmon comentando com Curtis a primeira entrada de Marilyn, na plataforma da estação, andando à frente deles: "Olha como ela se mexe. Parece uma gelatina sobre molas".

É curioso lembrar que a primeira opção para a dupla masculina era Danny Kaye / Bob Hope e, mesmo quando descartada, Wilder queria Frank Sinatra e Mitzi Gaynor, em lugar de Lemmon e Monroe. Hesitava, particularmente, em trabalhar outra vez com Marilyn (tinha feito com ela O Pecado Mora ao Lado) e são famosos os artifícios que precisou usar para que ela não se esquecesse do texto.

O filme concorreu aos Oscars nas categorias de Diretor, Ator (Lemmon), Fotografia, Roteiro adaptado, Direção de arte e Figurinos, ganhando nesta última.

Ainda engraçadíssimo 43 anos depois, Quanto Mais Quente Melhor entrou definitivamente para a relação dos clássicos.

Texto reproduzido do site: criticos.com.br

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