sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Memórias em 35mm., por Guilherme Assis

Foto reproduzida do Google e postada pelo blog
para ilustrar o presente artigo

Texto publicado originalmente no site Meia Um

Memórias em 35mm

Por Guilherme Assis
jornalismo.assis@gmail.com
        
A cultura audiovisual substituída pelo comércio. O que antes era cine hoje é história. Um cinema de Niemeyer, um destombado, vários pornôs. A memória de um cinéfilo de Boquim. A história das histórias das salas de Brasília e de Aracaju.

A sala é escura. Uma tela matte white para projeção da película. Aos poucos as cadeiras são ocupadas. Casais se abraçam, viúvas observam os pombinhos como se lembrassem uma época em que isso era comum para elas. Ao fundo, os mais discretos ou os que sabem que, lá de trás, podem ver muito mais (até a nuca dos outros espectadores). Nas fileiras da frente, os atrasados. De pé, só o lanterninha.

Depois de inúmeras propagandas do patrocinador, começa o filme. Tudo como em todas as outras salas. A quadra é a 106 Sul em Brasília e o projetor digital, caríssimo, em janeiro de 2012 apresenta um clássico do dinamarquês Lars Von Trier. O filme é o que menos importa agora. Lá a sala também era escura.

A tela era uma preocupação. Na verdade, não a tela, e sim o que era projetado sobre ela. As legendas eram transmitidas ao contrário, pois a “cabine” de projeção era atrás do grande tecido branco e não na frente, como é comum hoje. Além de prestar atenção nas cenas, o espectador tinha de inverter as traduções das falas do galã e da mocinha. Era em uma das ruas do centro comercial de Aracaju, Teatro Carlos Gomes.

Numa noite quente de 1899, um filme num rolo de 18 metros, de título desconhecido ou perdido no tempo, foi o primeiro a ser apresentado para os sergipanos. Apenas quatro anos antes, alemães e franceses faziam as primeiras sessões no Velho Continente. Sergipe está na avant-garde.

O Cine Brasília ainda é conhecido por sediar o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – agora está em obras. Com 607 (outrora) belas poltronas acolchoadas e em tom pastel, o local também atrai o público com circuitos internacionais de cinema de arte. Ocasionalmente traz algum crítico ou especialista e, em palestras, o espectador entende mais a linguagem do cineasta homenageado. A maioria das sessões é gratuita – as pagas custam R$ 6. O arquiteto da construção foi o imortal Oscar Niemeyer.

O antigo Cine Rio Branco hoje é uma loja de móveis no centro comercial de Aracaju. Foi fundado em 1904 por Juca Barreto. Antes, levava o nome de Teatro Carlos Gomes. Lá, eram apresentados peças e filmes, mas, cinco anos depois, virou somente cinema. “Ô lugar pra ter viado”, relata Claudemir, taxista na capital desde 1990. “Eu era mais novo e ia às sessões pra adulto, sabe? Pornô.” Claudemir apresenta o quadro comum a vários cinemas no centro das cidades. Com o passar do tempo, a multiplicação dos multiplex, a TV a cabo, o DVD, a internet, talvez a única forma de atrair espectadores para os cinemas de rua fosse exibindo sexo nas telas. Às vezes, fora dela. O Cine Rio Branco virou ponto de encontro sexual. “Tu tava vendo o filme e o baitola colocava a mão no teu p…!”, embrutece o taxista.

Em 1976, foi comprado um ar-condicionado para a sala de cinema isolada em meio aos prédios da Asa Sul. A partir daí, o público cresceu. “Parece que antes as sessões não tinham muita gente, quando colocaram o ar-condicionado o pessoal gostou”, conta o aposentado José Bandeira, frequentador do Cine Brasília desde aquele ano.

O Cine Rio Branco ficava próximo ao Edifício Maria Feliciana, antigo maior prédio do Nordeste, com 26 andares. A partir de 1945, ocasionalmente, a sala era ocupada por membros de partidos políticos para reuniões. A cultura era substituída pela política. Outro detalhe interessante: o Rio Branco foi o primeiro monumento brasileiro destombado. Quem explica é Ivan Valença, de 59 anos, crítico de cinema e historiador da cidade. “A revogação de tombamento foi requerida pelos proprietários em 1991. Queriam vender o imóvel.” O processo jurídico pedia que fosse retirado do prédio o título e, pelas palavras do proprietário, Luiz Barreto (filho do fundador), fosse preservada apenas a “memória do cinema” – não o local.

De 18 de dezembro de 1991 a 26 de março de 1998 desenrolou-se, em Aracaju, um teatro jurídico. De um lado, segundo a peça cedida por Ivan, “o estado passava por sérias condições financeiras e não tinha interesse de adquirir o cinema”. Do outro, o comércio imobiliário gritava pelo retorno do prédio a quem queria vendê-lo imediatamente. Em 1998, saiu no Diário Oficial do Estado: “São expedidos ofícios aos proprietários do imóvel, encaminhando cópia do decreto e certidão que invalida o tombamento do Cine Rio Branco”. Sergipe perdia não apenas o cinema mais antigo do Brasil em funcionamento contínuo, mas a valorização cultural.

Missão social

Fui ao fundo do baú cultural para encontrar histórias sobre cinemas de Brasília. Fui também a Aracaju para mostrar um dos vários pedaços do Brasil que perderam completamente os tradicionais cinemas de rua. Boquim, município do interior de Sergipe, é outro palco de história neste texto. Aqui em Brasília, a maior renda per capita do País. Acolá, uma cidade nordestina até a raiz da macaxeira que vira farinha para o povo comer. Um povo que se agrada com quem se preocupa com essa cultura. Brasília tem mais de 70 salas de cinema. Aracaju, apenas 14.

Aqui, um prédio no centro de Taguatinga, famoso por ser uma das primeiras construções de alvenaria da cidade, foi casa do Cine Paranoá. Lá era festa! Alunos saíam mais cedo do colégio e trocavam os uniformes por camisetas.

Tudo para burlar a entrada, que era fiscalizada. O cinema contava com uma sala de espera ampla, com grandes sofás confortáveis revestidos em couro. Logo ao centro do salão principal, um platô com expositores e fotos dos filmes que seriam exibidos, segundo a administração da cidade.

A primeira exibição no local, o filme Hércules de Tebas (Giorgio Ferroni, 1964, Mark Forest como Hércules). Anos depois, viraria ponto de encontro para quem procurava sexo. De Hércules a Dionísio. Mais tarde se tornou uma igreja. Ou melhor, duas. O prédio, que hoje se chama Paranoá Center, já foi palco para pastores da Igreja da Graça de Deus e da Igreja Mundial do Poder de Deus, ambas com relações indiretas com a Igreja Universal, conhecida por fechar vários cinemas e construir templos exuberantes.

Acolá, no centro de Aracaju, próximo ao porto da Barra dos Coqueiros, havia o Cine Palace, considerado o mais luxuoso da cidade. A inauguração foi em 1º de janeiro de 1956. Os 850 lugares ficaram lotados de gente que queria conhecer a tecnologia do Cinemascope, à época um processo novo. Ivan Valença conta o fim do Palace. “Aracaju tem uma característica estranha: costuma queimar etapas no desenvolvimento, passar batido por fases que em cidades mais estruturadas são inevitáveis e servem para preparar o mercado.

O fim do Cine Palace mostrou o que era futuro e já é o presente dos cinemas em todo o mundo: apenas partes de shopping centers, mais chamarizes de público para lojas e lanchonetes.” A última exibição no Palace, em 1996, foi Prazer de matar, com Antonio Banderas e Victoria Abril. Hoje é uma esquina chamada Center Palace onde funcionam salas comerciais. O Cine Drive-In, outro pioneiro na capital brasileira, é um cinema à moda norte-americana.

Desde 1973 no Planalto Central, próximo à Esplanada dos Ministérios, mais precisamente numa área do Autódromo Nelson Piquet, mantém a tradição dos cinemas para carros. Recebia mais de 500 carros de estudantes da UnB, casais de idosos, cinéfilos e demais frequentadores do cinema ao ar livre, como é chamado. O detalhe? Esse cinema é o último no gênero do Brasil, segundo a Filme B. De volta a Aracaju, o Cine Vitória. Inaugurado em 1943 por João Moreira Lima com o filme.

E as luzes brilharão outra vez, o cinema ficava no Edifício Pio XI, na rua Itabaianinha – próximo ao mercado de artesanato. Tinha 1,2 mil poltronas e durou 40 anos. Em 1973 foi arrendado e passou a depender de donos que não faziam gestão alguma do local. Lima, o fundador, temia o fechamento. Em 1982 enviou uma carta ao presidente João Figueiredo. Em quinze parágrafos, Lima, que também dirigia o Cine Vera Cruz, recorreu, em súplicas, ao poder máximo do Executivo, na tentativa de manter na cidade uma sala histórica, onde rodaram filmes como Sansão e Dalila, Quo vadis, Ivanhoé, A roda da fortuna, Cantando na chuva. Trecho da carta dizia:

“Senhor presidente, minhas dificuldades na direção dos cinemas começaram há uns dez anos. Eu completava 30 anos na direção destes cinemas que obedeciam orientação católica. Havia, no Brasil, quase uma centena de cinemas com esta mesma orientação. O primeiro impacto que ocorreu foi com o extinto Instituto Nacional do Cinema. O Cine Vitória foi multado porque não encontrava, no mercado, filmes nacionais próprios para os nossos cinemas. A Lei determinava 100 dias anuais para exibição obrigatória de produção brasileira. Recorri, mas não valeram as explicações [...] Não tive direito a voz, apesar de ir representando os exibidores de Sergipe, todos atingidos pelos filmes nacionais de péssimas qualidades”.

Moreira Lima tentou, mas a sala foi vendida ao Banco do Nordeste por 150 milhões de cruzeiros em 1984. 

Sapateiro e cinéfilo

Nosso próximo personagem não é um cinema. Encontrei numa das ruas de paralelepípedo de Boquim o cinéfilo Heró Sapateiro. Antes de achar essa figura folclórica conversei com Luiz, filho de Antônio do Cinema. Antônio era o dono das antigas salas da cidade.

Luiz não sabia falar sobre o patrimônio do pai, apenas a data de inauguração e o número de poltronas: 1960 e “350 acolchoadas com 100 de madeira”. Se era para falar do cinema, do glamour, dos filmes, Heró, “que mora na Rua dos Correios”. No interior de Sergipe e em grande parte do Nordeste é assim mesmo. Todo mundo se conhece e sabe onde mora. Atravesso a rua da casa de Luiz e encontro a tal Rua dos Correios.

Heró não estava na casa, mas arrisquei perguntar para alguns jovens que jogavam dominó na calçada. “Seu Heró acabou de descer a rua de bicicleta, foi à casa de Miguel”, responde um deles. Desço a rua e encontro um senhor sentado numa cadeira de bambu ao lado de um amigo.

Os óculos ao estilo Woody Allen já me deixaram com boas expectativas, apesar do abadá em contraste. Heró é sergipano simples em palavras e nível cultural imensurável. Começa a me contar suas experiências do Cine Santo Antônio. “Se me perguntarem qual o primeiro filme que vi, respondo que ‘O Cine Santo Antônio Foi inaugurado em dez de março de mil novecentos e sessenta O primeiro filme foi Torturado pela angústia O segundo, Em cada coração uma saudade Terceiro: A carrocinha com Mazzaroppi Quarto: Curuçu, o terror do Amazonas [...]’ Aí o cabra diz: Meu fi, já chega. Precisa falar mais nada, não.” A mente decorou em versos os primeiros filmes. Dá uma gargalhada, orgulhoso das lembranças. Só nesse momento entendo que me deparei com um homem-memória, talvez a maior personalidade da cidade. Heró continua a me contar sobre suas experiências no lazer, considerado por ele, mais importante da cidade.

Como é de praxe levar a paquera para assistir a um bom filme, no escurinho que só o cinema proporciona, pergunto: “Heró, e as namorada?”, sem plural mesmo, como é aceitável. Lembra com prazer não de uma, mas quatro namoradas. E, com vergonha, lembra quando as quatro foram ao cinema no mesmo dia. “Primeiro eu ia encontrar uma, né? Não sou besta. Quando vi a outra entrando, me enrolei na cortina. Vai dar problema. Nesse dia eu saí e não vi filme. Parece que adivinharam”, ri. “Nessa época tinha 27 anos.”

Interrompe o assunto das namoradas para me fazer uma pergunta de que se envaidece de sempre saber a resposta: “Meu filho, sabe o ator de Planeta dos Macaco?”, agora é ele sem plural. “Essa eu pulo, Heró.” “Charlton Heston”, diz, enquanto aperta os olhos e abre um sorriso que quase encosta nas orelhas.

Heró revela um repertório para mim ainda desconhecido. “Salomão e a Rainha de Sabá, com Yul Brynner e Gina Lollobrigida. Rômulo e Remo, com Steve Reeves…”, enumera, meneando a cabeça como se eu soubesse do que ele estava falando com sotaque sergipano carregado, que só entendi plenamente com a ajuda da minha mãe (sergipana) e do Google.

“Mazzaroppi, o vendedor de linguiça, Conde Drácula, Guerra dos mundos…”, quando ia fazer uma lista de outros filmes que viu, pausa a voz, arregala o olho, fita meu gravador e me surpreende: “Você tá me entrevistando, é?”, questiona, aos 15 minutos de entrevista. Heró esbanja a pura simplicidade característica de seu povo nordestino. “Vai pra Recór?”, Miguel, o amigo banguela que o acompanha, me pergunta. Continuo sorridente.

Voltando ao filme do Drácula, pergunto: “O Drácula era o Bela Lugosi?” “Não, rapaz”, me repreende. “Era Christopher Lee”, corrige. Depois lembro que O Drácula de Lugosi foi feito em 1931. O Drácula de Lee, em 1958.

Com 63 anos de experiência, Heró diz que um espaço para exibição de filmes na cidade faz muita falta. Os olhos se enchem de lágrimas ao explicar que, além de se divertir, fazia muitas amizades após as sessões. “Queria muito o cinema de volta. Queria muito.”

“A morte comanda o cangaço, com Alberto Ruschel. A lei do sertão, com Maurício Morey. O cabeleira, com Milton Ribeiro. Arara vermelha, com Milton Ribeiro também. A lei do cão, com Paulo Frederico e Jece Valadão. Obsessão, Jece Valadão e Edson França. Bonitinha, mas ordinária, com Jece Valadão. Paixão de um homem, com Valdick Soriano. O poderoso garanhão, com Valdick Soriano…” Heró é enciclopédia oral de cinema brasileiro. E o apelido Heró não está ligado aos filmes eróticos, como meu preconceito achava. O homem é um amante do cinema.

“Você sabe quem era o ator de Ben-Hur?”, lá vem o velho novamente com seu questionário, quase um Show do Milhão sobre filmes. “Ih, não sei, Heró.” “Charlton Heston”, sorri novamente.

Heró menciona ainda as belas atrizes que venerava: “Brigitte Bardot, Sophia Loren, Gina Lollobrigida…” Ia continuar a lista, se lembra de algo importante e solta outra pergunta: “Já assistiu a Moscou contra 007, rapaz?” Imagino que o protagonista poderia ser mais uma vez o tal do Charlton Heston, mas algo me diz pra ficar calado. “Sean Connery”, revela. Alívio.

E as salas, onde estão?

Boquim fica a 88 quilômetros da capital. Lá havia três cinemas. Todos do mesmo dono. Consultada, a Prefeitura de Boquim informou que um desses cinemas ainda existe.

Na verdade o que existe é apenas um memorial feito para guardar algumas peças antigas do Cine Santo Antônio, onde, ocasionalmente, são apresentados alguns filmes. De fato existe o antigo prédio e, por insistência (12 e-mails e oito ligações), consegui autorização para fotografar o último projetor utilizado por Antônio do Cinema.

Departamentos da Universidade Federal de Sergipe, contatos na Secretaria de Cultura, na prefeitura. Nenhuma informação. Lá é comum motorista não parar na faixa de pedestre, motoqueiro não usar capacete. É comum departamentos públicos não funcionarem na sexta-feira. É comum “essa gente” não responder a e-mail, afirma Pablo José, jornalista que conheci num ponto de ônibus.

De volta a Aracaju, conversei com Isaac Galvão, diretor do Centro de Criatividade da capital.

O órgão em que trabalha é responsável por organizar, direcionar e realizar metas para o ramo audiovisual na capital. “De Brasília, é? Pra qual jornal?” A pergunta só veio depois que ele percebeu que a entrevista não era por e-mail, mas ao vivo.

É minha vez de questionar: “E as salas de cinema de rua que não funcionam mais?” “Pois é! Não tem nenhuma e talvez nem no estado todo. Só em shopping mesmo, e é caro”, assume. “A gente tem um projeto bom aqui, rapaz, deixa eu achar pra você.” Isaac encontra um folder na gaveta.

O título do material é: Projeto Orlando Vieira, 80 anos. Existe de fato trabalho produzido naquele setor, mas nada de relevância em relação às poucas salas de cinema além shopping.

Ele me explica que há uma verba destinada para 2013 que será utilizada para reabrir um cinema na Rua do Turista, em Aracaju. “Agora, sim, serão sessões voltadas para cultura, e não comércio”, afirma, ao reforçar que as sessões serão gratuitas.

Muita grana, pouco investimento

Existe um projeto do Ministério da Cultura chamado Cinema Perto de Você. Instituído pela Lei 12.599, de 2012, o programa oferece capital para os empreendedores. Esse projeto atenderá, prioritariamente, aos nada menos de 92% dos municípios brasileiros que não têm nenhuma sala de projeção. Boquim poderá ser uma delas. Aracaju, por ser capital, também será beneficiada. Brasília, provavelmente.

O necessário para a instalação de uma nova sala é apenas um empresário interessado concorrer ao edital. O Cinema Perto de Você direcionará mais de R$ 500 milhões para abertura de salas em todo o território nacional. Isaac Galvão, o diretor, nunca tinha ouvido falar no assunto.

O projeto tenta corrigir um paradoxo da indústria exibidora nacional. Segundo a Agência Nacional do Cinema (Ancine), a renda de bilheteria dos filmes estrangeiros exibidos no Brasil foi de R$ 1,27 bilhão em 2011.

Há, sem dúvida, crescimento do número de ingressos vendidos ano após ano. O problema é que grande parte desse dinheiro circula apenas nos grandes empreendimentos comerciais cinematográficos, como Severiano Ribeiro, Cinemark, Cinematográfica Araújo, Rede Arco- Íris, United Cinemas Internacional Brasil.

De todo esse valor produzido, não há interesse para investimento em cidades do Nordeste e de outros recantos do País onde não há sequer projetor de filmes.

Pedro Butcher, analista e especialista em cinema da agência Filme B, apresenta um quadro desproporcional aos valores altíssimos produzidos pela indústria audiovisual: “As salas de cinema no Brasil não são suficientes. O índice de habitantes por sala do País (uma sala para cada 82 mil habitantes) é considerado um dos mais baixos do mundo”.

Butcher concorda que haja enorme desigualdade na localização de cinemas, mas aponta um futuro promissor. “Há também muita concentração no Sudeste (reproduzindo a concentração de renda do País) e, nos estados do Nordeste, os cinemas estão bastante concentrados nas capitais.

No entanto, nos últimos dois anos começaram a ser abertos cinemas em cidades do interior (Feira de Santana, Caruaru) com resultados expressivos. E há expectativa de crescimento em cidades de médio porte.”

No mercado cinematográfico, o Brasil é um dos países mais importantes do mundo[apenas considerando fatores mercadológicos]. Porém, como é visível em outras estruturas socioculturais do País, existe contraste gritante a respeito de investimento onde ainda não há cinema. São 5.565 municípios. Apenas 445 têm salas de projeção.

Vladimir Carvalho, cineasta paraibano, autor de 22 filmes, documentarista e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), opina sobre a tendência mercadológica predominante. “O cinema norte-americano domina os grandes complexos, o que tira o espaço dos cineastas brasileiros. Infelizmente essas empresas dão preferência ao grande circuito hollywoodiano.”

Sobre o Cinema Perto de Você, ele vê como “um começo, porém um começo mal divulgado. Poucos empresários conhecem. Acima de tudo, poucos empresários gostariam de competir com a hegemonia dos shoppings”.

Este texto faz parte do Prêmio Meiaum para Futuros Jornalistas. Reportagem originalmente publicada em 2012 na Jenipapo, revista do curso de comunicação social da Universidade Católica de Brasília, sob orientação da professora Karina Barbosa.

Texto reproduzido do site: meiaum.com.br

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