Foto reproduzida do Google e postada pelo blog
para ilustrar o presente artigo
Memórias em 35mm
Por Guilherme Assis
jornalismo.assis@gmail.com
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A cultura audiovisual substituída pelo comércio. O que antes
era cine hoje é história. Um cinema de Niemeyer, um destombado, vários pornôs.
A memória de um cinéfilo de Boquim. A história das histórias das salas de
Brasília e de Aracaju.
A sala é escura. Uma tela matte white para projeção da
película. Aos poucos as cadeiras são ocupadas. Casais se abraçam, viúvas
observam os pombinhos como se lembrassem uma época em que isso era comum para
elas. Ao fundo, os mais discretos ou os que sabem que, lá de trás, podem ver
muito mais (até a nuca dos outros espectadores). Nas fileiras da frente, os
atrasados. De pé, só o lanterninha.
Depois de inúmeras propagandas do patrocinador, começa o
filme. Tudo como em todas as outras salas. A quadra é a 106 Sul em Brasília e o
projetor digital, caríssimo, em janeiro de 2012 apresenta um clássico do
dinamarquês Lars Von Trier. O filme é o que menos importa agora. Lá a sala
também era escura.
A tela era uma preocupação. Na verdade, não a tela, e sim o
que era projetado sobre ela. As legendas eram transmitidas ao contrário, pois a
“cabine” de projeção era atrás do grande tecido branco e não na frente, como é
comum hoje. Além de prestar atenção nas cenas, o espectador tinha de inverter
as traduções das falas do galã e da mocinha. Era em uma das ruas do centro
comercial de Aracaju, Teatro Carlos Gomes.
Numa noite quente de 1899, um filme num rolo de 18 metros,
de título desconhecido ou perdido no tempo, foi o primeiro a ser apresentado
para os sergipanos. Apenas quatro anos antes, alemães e franceses faziam as
primeiras sessões no Velho Continente. Sergipe está na avant-garde.
O Cine Brasília ainda é conhecido por sediar o Festival de
Brasília do Cinema Brasileiro – agora está em obras. Com 607 (outrora) belas
poltronas acolchoadas e em tom pastel, o local também atrai o público com
circuitos internacionais de cinema de arte. Ocasionalmente traz algum crítico
ou especialista e, em palestras, o espectador entende mais a linguagem do
cineasta homenageado. A maioria das sessões é gratuita – as pagas custam R$ 6.
O arquiteto da construção foi o imortal Oscar Niemeyer.
O antigo Cine Rio Branco hoje é uma loja de móveis no centro
comercial de Aracaju. Foi fundado em 1904 por Juca Barreto. Antes, levava o
nome de Teatro Carlos Gomes. Lá, eram apresentados peças e filmes, mas, cinco
anos depois, virou somente cinema. “Ô lugar pra ter viado”, relata Claudemir,
taxista na capital desde 1990. “Eu era mais novo e ia às sessões pra adulto,
sabe? Pornô.” Claudemir apresenta o quadro comum a vários cinemas no centro das
cidades. Com o passar do tempo, a multiplicação dos multiplex, a TV a cabo, o
DVD, a internet, talvez a única forma de atrair espectadores para os cinemas de
rua fosse exibindo sexo nas telas. Às vezes, fora dela. O Cine Rio Branco virou
ponto de encontro sexual. “Tu tava vendo o filme e o baitola colocava a mão no
teu p…!”, embrutece o taxista.
Em 1976, foi comprado um ar-condicionado para a sala de
cinema isolada em meio aos prédios da Asa Sul. A partir daí, o público cresceu.
“Parece que antes as sessões não tinham muita gente, quando colocaram o
ar-condicionado o pessoal gostou”, conta o aposentado José Bandeira,
frequentador do Cine Brasília desde aquele ano.
O Cine Rio Branco ficava próximo ao Edifício Maria
Feliciana, antigo maior prédio do Nordeste, com 26 andares. A partir de 1945,
ocasionalmente, a sala era ocupada por membros de partidos políticos para
reuniões. A cultura era substituída pela política. Outro detalhe interessante:
o Rio Branco foi o primeiro monumento brasileiro destombado. Quem explica é
Ivan Valença, de 59 anos, crítico de cinema e historiador da cidade. “A
revogação de tombamento foi requerida pelos proprietários em 1991. Queriam
vender o imóvel.” O processo jurídico pedia que fosse retirado do prédio o
título e, pelas palavras do proprietário, Luiz Barreto (filho do fundador),
fosse preservada apenas a “memória do cinema” – não o local.
De 18 de dezembro de 1991 a 26 de março de 1998
desenrolou-se, em Aracaju, um teatro jurídico. De um lado, segundo a peça
cedida por Ivan, “o estado passava por sérias condições financeiras e não tinha
interesse de adquirir o cinema”. Do outro, o comércio imobiliário gritava pelo
retorno do prédio a quem queria vendê-lo imediatamente. Em 1998, saiu no Diário
Oficial do Estado: “São expedidos ofícios aos proprietários do imóvel,
encaminhando cópia do decreto e certidão que invalida o tombamento do Cine Rio
Branco”. Sergipe perdia não apenas o cinema mais antigo do Brasil em
funcionamento contínuo, mas a valorização cultural.
Missão social
Fui ao fundo do baú cultural para encontrar histórias sobre
cinemas de Brasília. Fui também a Aracaju para mostrar um dos vários pedaços do
Brasil que perderam completamente os tradicionais cinemas de rua. Boquim,
município do interior de Sergipe, é outro palco de história neste texto. Aqui
em Brasília, a maior renda per capita do País. Acolá, uma cidade nordestina até
a raiz da macaxeira que vira farinha para o povo comer. Um povo que se agrada
com quem se preocupa com essa cultura. Brasília tem mais de 70 salas de cinema.
Aracaju, apenas 14.
Aqui, um prédio no centro de Taguatinga, famoso por ser uma
das primeiras construções de alvenaria da cidade, foi casa do Cine Paranoá. Lá
era festa! Alunos saíam mais cedo do colégio e trocavam os uniformes por
camisetas.
Tudo para burlar a entrada, que era fiscalizada. O cinema
contava com uma sala de espera ampla, com grandes sofás confortáveis revestidos
em couro. Logo ao centro do salão principal, um platô com expositores e fotos
dos filmes que seriam exibidos, segundo a administração da cidade.
A primeira exibição no local, o filme Hércules de Tebas
(Giorgio Ferroni, 1964, Mark Forest como Hércules). Anos depois, viraria ponto
de encontro para quem procurava sexo. De Hércules a Dionísio. Mais tarde se
tornou uma igreja. Ou melhor, duas. O prédio, que hoje se chama Paranoá Center,
já foi palco para pastores da Igreja da Graça de Deus e da Igreja Mundial do
Poder de Deus, ambas com relações indiretas com a Igreja Universal, conhecida
por fechar vários cinemas e construir templos exuberantes.
Acolá, no centro de Aracaju, próximo ao porto da Barra dos
Coqueiros, havia o Cine Palace, considerado o mais luxuoso da cidade. A
inauguração foi em 1º de janeiro de 1956. Os 850 lugares ficaram lotados de
gente que queria conhecer a tecnologia do Cinemascope, à época um processo
novo. Ivan Valença conta o fim do Palace. “Aracaju tem uma característica
estranha: costuma queimar etapas no desenvolvimento, passar batido por fases
que em cidades mais estruturadas são inevitáveis e servem para preparar o
mercado.
O fim do Cine Palace mostrou o que era futuro e já é o
presente dos cinemas em todo o mundo: apenas partes de shopping centers, mais
chamarizes de público para lojas e lanchonetes.” A última exibição no Palace,
em 1996, foi Prazer de matar, com Antonio Banderas e Victoria Abril. Hoje é uma
esquina chamada Center Palace onde funcionam salas comerciais. O Cine Drive-In,
outro pioneiro na capital brasileira, é um cinema à moda norte-americana.
Desde 1973 no Planalto Central, próximo à Esplanada dos
Ministérios, mais precisamente numa área do Autódromo Nelson Piquet, mantém a
tradição dos cinemas para carros. Recebia mais de 500 carros de estudantes da
UnB, casais de idosos, cinéfilos e demais frequentadores do cinema ao ar livre,
como é chamado. O detalhe? Esse cinema é o último no gênero do Brasil, segundo
a Filme B. De volta a Aracaju, o Cine Vitória. Inaugurado em 1943 por João
Moreira Lima com o filme.
E as luzes brilharão outra vez, o cinema ficava no Edifício
Pio XI, na rua Itabaianinha – próximo ao mercado de artesanato. Tinha 1,2 mil
poltronas e durou 40 anos. Em 1973 foi arrendado e passou a depender de donos
que não faziam gestão alguma do local. Lima, o fundador, temia o fechamento. Em
1982 enviou uma carta ao presidente João Figueiredo. Em quinze parágrafos,
Lima, que também dirigia o Cine Vera Cruz, recorreu, em súplicas, ao poder
máximo do Executivo, na tentativa de manter na cidade uma sala histórica, onde
rodaram filmes como Sansão e Dalila, Quo vadis, Ivanhoé, A roda da fortuna,
Cantando na chuva. Trecho da carta dizia:
“Senhor presidente, minhas dificuldades na direção dos
cinemas começaram há uns dez anos. Eu completava 30 anos na direção destes
cinemas que obedeciam orientação católica. Havia, no Brasil, quase uma centena
de cinemas com esta mesma orientação. O primeiro impacto que ocorreu foi com o
extinto Instituto Nacional do Cinema. O Cine Vitória foi multado porque não
encontrava, no mercado, filmes nacionais próprios para os nossos cinemas. A Lei
determinava 100 dias anuais para exibição obrigatória de produção brasileira.
Recorri, mas não valeram as explicações [...] Não tive direito a voz, apesar de
ir representando os exibidores de Sergipe, todos atingidos pelos filmes
nacionais de péssimas qualidades”.
Moreira Lima tentou, mas a sala foi vendida ao Banco do
Nordeste por 150 milhões de cruzeiros em 1984.
Sapateiro e cinéfilo
Nosso próximo personagem não é um cinema. Encontrei numa das
ruas de paralelepípedo de Boquim o cinéfilo Heró Sapateiro. Antes de achar essa
figura folclórica conversei com Luiz, filho de Antônio do Cinema. Antônio era o
dono das antigas salas da cidade.
Luiz não sabia falar sobre o patrimônio do pai, apenas a
data de inauguração e o número de poltronas: 1960 e “350 acolchoadas com 100 de
madeira”. Se era para falar do cinema, do glamour, dos filmes, Heró, “que mora
na Rua dos Correios”. No interior de Sergipe e em grande parte do Nordeste é
assim mesmo. Todo mundo se conhece e sabe onde mora. Atravesso a rua da casa de
Luiz e encontro a tal Rua dos Correios.
Heró não estava na casa, mas arrisquei perguntar para alguns
jovens que jogavam dominó na calçada. “Seu Heró acabou de descer a rua de
bicicleta, foi à casa de Miguel”, responde um deles. Desço a rua e encontro um
senhor sentado numa cadeira de bambu ao lado de um amigo.
Os óculos ao estilo Woody Allen já me deixaram com boas
expectativas, apesar do abadá em contraste. Heró é sergipano simples em
palavras e nível cultural imensurável. Começa a me contar suas experiências do
Cine Santo Antônio. “Se me perguntarem qual o primeiro filme que vi, respondo
que ‘O Cine Santo Antônio Foi inaugurado em dez de março de mil
novecentos e sessenta O primeiro filme foi Torturado pela angústia O segundo,
Em cada coração uma saudade Terceiro: A carrocinha com Mazzaroppi Quarto:
Curuçu, o terror do Amazonas [...]’ Aí o cabra diz: Meu fi, já chega. Precisa falar mais nada,
não.” A mente decorou em versos os primeiros filmes. Dá uma gargalhada,
orgulhoso das lembranças. Só nesse momento entendo que me deparei com um
homem-memória, talvez a maior personalidade da cidade. Heró continua a me
contar sobre suas experiências no lazer, considerado por ele, mais importante
da cidade.
Como é de praxe levar a paquera para assistir a um bom
filme, no escurinho que só o cinema proporciona, pergunto: “Heró, e as
namorada?”, sem plural mesmo, como é aceitável. Lembra com prazer não de uma,
mas quatro namoradas. E, com vergonha, lembra quando as quatro foram ao cinema
no mesmo dia. “Primeiro eu ia encontrar uma, né? Não sou besta. Quando vi a
outra entrando, me enrolei na cortina. Vai dar problema. Nesse dia eu saí e não
vi filme. Parece que adivinharam”, ri. “Nessa época tinha 27 anos.”
Interrompe o assunto das namoradas para me fazer uma
pergunta de que se envaidece de sempre saber a resposta: “Meu filho, sabe o
ator de Planeta dos Macaco?”, agora é ele sem plural. “Essa eu pulo, Heró.”
“Charlton Heston”, diz, enquanto aperta os olhos e abre um sorriso que quase
encosta nas orelhas.
Heró revela um repertório para mim ainda desconhecido.
“Salomão e a Rainha de Sabá, com Yul Brynner e Gina Lollobrigida. Rômulo e
Remo, com Steve Reeves…”, enumera, meneando a cabeça como se eu soubesse do que
ele estava falando com sotaque sergipano carregado, que só entendi plenamente
com a ajuda da minha mãe (sergipana) e do Google.
“Mazzaroppi, o vendedor de linguiça, Conde Drácula, Guerra
dos mundos…”, quando ia fazer uma lista de outros filmes que viu, pausa a voz,
arregala o olho, fita meu gravador e me surpreende: “Você tá me entrevistando,
é?”, questiona, aos 15 minutos de entrevista. Heró esbanja a pura simplicidade
característica de seu povo nordestino. “Vai pra Recór?”, Miguel, o amigo
banguela que o acompanha, me pergunta. Continuo sorridente.
Voltando ao filme do Drácula, pergunto: “O Drácula era o
Bela Lugosi?” “Não, rapaz”, me repreende. “Era Christopher Lee”, corrige.
Depois lembro que O Drácula de Lugosi foi feito em 1931. O Drácula de Lee, em
1958.
Com 63 anos de experiência, Heró diz que um espaço para
exibição de filmes na cidade faz muita falta. Os olhos se enchem de lágrimas ao
explicar que, além de se divertir, fazia muitas amizades após as sessões.
“Queria muito o cinema de volta. Queria muito.”
“A morte comanda o cangaço, com Alberto Ruschel. A lei do
sertão, com Maurício Morey. O cabeleira, com Milton Ribeiro. Arara vermelha,
com Milton Ribeiro também. A lei do cão, com Paulo Frederico e Jece Valadão.
Obsessão, Jece Valadão e Edson França. Bonitinha, mas ordinária, com Jece Valadão.
Paixão de um homem, com Valdick Soriano. O poderoso garanhão, com Valdick Soriano…” Heró é
enciclopédia oral de cinema brasileiro. E o apelido Heró não está ligado aos
filmes eróticos, como meu preconceito achava. O homem é um amante do cinema.
“Você sabe quem era o ator de Ben-Hur?”, lá vem o velho
novamente com seu questionário, quase um Show do Milhão sobre filmes. “Ih, não
sei, Heró.” “Charlton Heston”, sorri novamente.
Heró menciona ainda as belas atrizes que venerava: “Brigitte
Bardot, Sophia Loren, Gina Lollobrigida…” Ia continuar a lista, se lembra de
algo importante e solta outra pergunta: “Já assistiu a Moscou contra 007,
rapaz?” Imagino que o protagonista poderia ser mais uma vez o tal do Charlton
Heston, mas algo me diz pra ficar calado. “Sean Connery”, revela. Alívio.
E as salas, onde estão?
Boquim fica a 88 quilômetros da capital. Lá havia três
cinemas. Todos do mesmo dono. Consultada, a Prefeitura de Boquim informou que
um desses cinemas ainda existe.
Na verdade o que existe é apenas um memorial feito para
guardar algumas peças antigas do Cine Santo Antônio, onde, ocasionalmente, são
apresentados alguns filmes. De fato existe o antigo prédio e, por insistência (12 e-mails e oito
ligações), consegui autorização para fotografar o último projetor utilizado por
Antônio do Cinema.
Departamentos da Universidade Federal de Sergipe, contatos
na Secretaria de Cultura, na prefeitura. Nenhuma informação. Lá é comum
motorista não parar na faixa de pedestre, motoqueiro não usar capacete. É comum
departamentos públicos não funcionarem na sexta-feira. É comum “essa gente” não
responder a e-mail, afirma Pablo José, jornalista que conheci num ponto de
ônibus.
De volta a Aracaju, conversei com Isaac Galvão, diretor do
Centro de Criatividade da capital.
O órgão em que trabalha é responsável por organizar,
direcionar e realizar metas para o ramo audiovisual na capital. “De Brasília,
é? Pra qual jornal?” A pergunta só veio depois que ele percebeu que a
entrevista não era por e-mail, mas ao vivo.
É minha vez de questionar: “E as salas de cinema de rua que
não funcionam mais?” “Pois é! Não tem nenhuma e talvez nem no estado todo. Só
em shopping mesmo, e é caro”, assume. “A gente tem um projeto bom aqui, rapaz,
deixa eu achar pra você.” Isaac encontra um folder na gaveta.
O título do material é: Projeto Orlando Vieira, 80 anos.
Existe de fato trabalho produzido naquele setor, mas nada de relevância em
relação às poucas salas de cinema além shopping.
Ele me explica que há uma verba destinada para 2013 que será
utilizada para reabrir um cinema na Rua do Turista, em Aracaju. “Agora, sim, serão sessões voltadas para cultura, e
não comércio”, afirma, ao reforçar que as sessões serão gratuitas.
Muita grana, pouco investimento
Existe um projeto do Ministério da Cultura chamado Cinema
Perto de Você. Instituído pela Lei 12.599, de 2012, o programa oferece capital
para os empreendedores. Esse projeto atenderá, prioritariamente, aos nada menos
de 92% dos municípios brasileiros que não têm nenhuma sala de projeção. Boquim
poderá ser uma delas. Aracaju, por ser capital, também será beneficiada.
Brasília, provavelmente.
O necessário para a instalação de uma nova sala é apenas um
empresário interessado concorrer ao edital. O Cinema Perto de Você direcionará
mais de R$ 500 milhões para abertura de salas em todo o território nacional.
Isaac Galvão, o diretor, nunca tinha ouvido falar no assunto.
O projeto tenta corrigir um paradoxo da indústria exibidora
nacional. Segundo a Agência Nacional do Cinema (Ancine), a renda de bilheteria
dos filmes estrangeiros exibidos no Brasil foi de R$ 1,27 bilhão em 2011.
Há, sem dúvida, crescimento do número de ingressos vendidos
ano após ano. O problema é que grande parte desse dinheiro circula apenas nos
grandes empreendimentos comerciais cinematográficos, como Severiano Ribeiro,
Cinemark, Cinematográfica Araújo, Rede Arco- Íris, United Cinemas Internacional
Brasil.
De todo esse valor produzido, não há interesse para
investimento em cidades do Nordeste e de outros recantos do País onde não há
sequer projetor de filmes.
Pedro Butcher, analista e especialista em cinema da agência
Filme B, apresenta um quadro desproporcional aos valores altíssimos produzidos
pela indústria audiovisual: “As salas de cinema no Brasil não são suficientes.
O índice de habitantes por sala do País (uma sala para cada 82 mil habitantes)
é considerado um dos mais baixos do mundo”.
Butcher concorda que haja enorme desigualdade na localização
de cinemas, mas aponta um futuro promissor. “Há também muita concentração no
Sudeste (reproduzindo a concentração de renda do País) e, nos estados do
Nordeste, os cinemas estão bastante concentrados nas capitais.
No entanto, nos últimos dois anos começaram a ser abertos
cinemas em cidades do interior (Feira de Santana, Caruaru) com resultados
expressivos. E há expectativa de crescimento em cidades de médio porte.”
No mercado cinematográfico, o Brasil é um dos países mais
importantes do mundo[apenas considerando fatores mercadológicos]. Porém, como é
visível em outras estruturas socioculturais do País, existe contraste gritante
a respeito de investimento onde ainda não há cinema. São 5.565 municípios.
Apenas 445 têm salas de projeção.
Vladimir Carvalho, cineasta paraibano, autor de 22 filmes,
documentarista e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), opina
sobre a tendência mercadológica predominante. “O cinema norte-americano domina
os grandes complexos, o que tira o espaço dos cineastas brasileiros.
Infelizmente essas empresas dão preferência ao grande circuito hollywoodiano.”
Sobre o Cinema Perto de Você, ele vê como “um começo, porém
um começo mal divulgado. Poucos empresários conhecem. Acima de tudo, poucos
empresários gostariam de competir com a hegemonia dos shoppings”.
Este texto faz parte do Prêmio Meiaum para Futuros
Jornalistas. Reportagem originalmente publicada em 2012 na Jenipapo, revista do
curso de comunicação social da Universidade Católica de Brasília, sob orientação da professora Karina
Barbosa.
Texto reproduzido do site: meiaum.com.br
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