quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Cineasta Fernando José Spencer Hartmann (1927 - 2014)

Foto: Priscilla Buhr

Fernando Spencer (in memoriam)
Cidade: Recife
Atividade/expressão cultural: cinema
Ano de registro de patrimônio vivo: 2007

Filho de Nicodemes Brasil Hartmann e Maria Serafina Spencer Hartmann, o cineasta Fernando José Spencer Hartmann nasceu no Recife, a 17 de janeiro de 1927. Aposentado como analista em ciência e tecnologia da Fundação Joaquim Nabuco, o cineasta coleciona prêmios e títulos que tem recebido ao longo de mais de cinco décadas dedicadas à sétima arte. Recebeu o título de Memória Viva do Recife, em 1997, quando completou 70 anos. Aos 80, foi o homenageado do Cine PE, quando então apresentou o novo filme Almery, a estrela. Tanto no Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (MISPE), quanto no Cinema Rosa e Silva, há a Sala Fernando Spencer, franca homenagem ao incansável cinéfilo/cineasta, cuja estréia se deu com um curta-metragem experimental, a ficção A busca, em 1969.

Jornalista profissional, exerceu a crítica de cinema durante quatro décadas no Diario de Pernambuco, exatamente de 1958 a 1998. Spencer também foi repórter do Jornal Pequeno, em 1951, e revisor do Jornal do Commercio em 1957. Foi produtor e realizador do programa Falando de Cinema, entre os anos de 1963 e 1978, na TV Rádio Clube, Rede Tupi. Foi produtor, realizador e apresentador de Filmelândia, programa veiculado na Rádio Clube de Pernambuco e Rádio Tamandaré do Recife. No ano de 1985, coproduziu, com Ivan Soares, o projeto Coisas Nossas: Cinema Pernambucano, em oito capítulos de trinta minutos. O cineasta e pesquisador foi diretor da Cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco, membro do Centro Brasileiro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, vice-presidente da Fundação Nordestina de Cinema, sócio-fundador da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), fundador e primeiro presidente do grupo Cinema Super-8 de Pernambuco.

Acumulando as funções de roteirista, diretor, jurado, palestrante, debatedor, presidente de júri, professor, Fernando Spencer tem, ainda, no currículo, diversos livros publicados, a exemplo de Histórias do Tio Joca, editado em 1990 pela Bagaço. Este foi o primeiro título que lançou no gênero literatura infantil. Sobre cinema, escreveu o texto Ciclo do Recife: 60 anos, publicado pela Massangana, em 1983. Ainda pela Massangana, lançou em 1985 o catálogo de filmes da Cinemateca da Fundaj. E, pela Bagaço, produziu em 1989 a publicação 20 anos de cinema [1969 – 1989]: filmografia. No Quase catálogo, organizado por Heloísa Buarque de Holanda e publicado em 1991 no Rio de Janeiro, escreveu verbetes sobre estrelas do cinema mudo de Pernambuco. Em 1995 publicou textos sobre os cem anos de cinema. No mesmo ano, publicou, em parceria com a bibliotecária da Fundaj Lúcia Gaspar, O Nordeste no cinema: uma contribuição bibliográfica, para a revista Ciência & Trópico.

Em 1974, recebeu o prêmio de melhor Super-8 na III Jornada Brasileira de Curta Metragem, no estado da Bahia, com o filme Valente é o galo. No mesmo ano, o cineasta fez a estreia no gênero documentário com o filme Caboclinhos do Recife. Aliás, a temática dos folguedos tradicionais é recorrente na obra de Spencer. Em 1999, realizou A arte de ser profano, vídeo sobre os pastoris, e em 2004 volta ao tema, dessa vez com Os irmãos Valença, em que o pastoril religioso é um tema incontornável. No VI Festival Nacional de Cinema, realizado em Aracaju, pela Universidade Federal de Sergipe, no ano de 1978, recebeu o prêmio de Melhor Filme de Comunicação para As corocas se divertem. Com o filme Estrelas de Celulóide, recebeu um troféu candango no Festival de Cinema de Brasília, em 1987. No III Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa, realizado na cidade de Aveiro, Portugal, em 1988, Fernando Spencer ganhou, em parceria com Flávio Rodrigues, o prêmio de melhor curta, na categoria documentário, pelo trabalho Evocações de Nelson Ferreira.

O percurso de Spencer ganha ainda mais sentido quando ele recapitula o princípio desse amor antigo: cedo apaixonou-se pelo cinema, precisamente aos 12 anos, quando o pai lhe oferece um projetor alemão para filmes de 35 mm, o suficiente para inaugurar, de forma decisiva e em grande estilo, a trajetória deste cineasta das três bitolas. Assim conhecido no meio cinematográfico pela produção tanto em Super-8, quanto em 16 e 35 mm, a criatividade e o amor às tradições pernambucanas selam a produção de Fernando Spencer, com os documentários acima mencionados e, ainda, Frei Damião: um santo no Nordeste? (1977), Santa do Maracatu (1981), Trajetória do frevo no Recife (1987). Sobre literatura de cordel, realiza o documentário O folheto (1971), na bitola 16 mm, em parceria com Liêdo Maranhão, João José e Esman Dias.

Na produção mais recente, de 2009, está o curta Nossos ursos camaradas, em que o cineasta compõe uma abordagem antropológica de fogosos ursos e La ursas na cultura pernambucana, a partir de pesquisa encomendada ao amigo folclorista Mário Souto Maior. Com esse filme, Spencer estreia em nova bitola, a digital, e é promovido a cineasta das quatro bitolas! Maria Bonita e Lampião seriam personagens de novos projetos, interrompidos com a morte do artista, a 17 de março de 2014, no Recife. A família planeja abrir uma fundação como justa homenagem à memória desse cineasta que assina uma obra autoral, prolífica, incansável.

Fernando Spencer foi agraciado com o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2007. Veio a falecer em março de 2014, sendo reverenciado como um dos mais emblemáticos realizadores do cinema pernambucano do último século.

Fonte: Amorim, Maria Alice (2014),  Patrimônios Vivos de Pernambuco; 2. ed. rev. e amp – Recife: FUNDARPE

Texto e imagem reproduzidos do site: cultura.pe.gov.br

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