Foto: Priscilla Buhr
Fernando Spencer (in memoriam)
Cidade: Recife
Atividade/expressão cultural: cinema
Ano de registro de patrimônio vivo: 2007
Filho de Nicodemes Brasil Hartmann e Maria Serafina Spencer
Hartmann, o cineasta Fernando José Spencer Hartmann nasceu no Recife, a 17 de
janeiro de 1927. Aposentado como analista em ciência e tecnologia da Fundação
Joaquim Nabuco, o cineasta coleciona prêmios e títulos que tem recebido ao
longo de mais de cinco décadas dedicadas à sétima arte. Recebeu o título de
Memória Viva do Recife, em 1997, quando completou 70 anos. Aos 80, foi o
homenageado do Cine PE, quando então apresentou o novo filme Almery, a estrela.
Tanto no Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (MISPE), quanto no Cinema Rosa
e Silva, há a Sala Fernando Spencer, franca homenagem ao incansável
cinéfilo/cineasta, cuja estréia se deu com um curta-metragem experimental, a
ficção A busca, em 1969.
Jornalista profissional, exerceu a crítica de cinema durante
quatro décadas no Diario de Pernambuco, exatamente de 1958 a 1998. Spencer
também foi repórter do Jornal Pequeno, em 1951, e revisor do Jornal do
Commercio em 1957. Foi produtor e realizador do programa Falando de Cinema,
entre os anos de 1963 e 1978, na TV Rádio Clube, Rede Tupi. Foi produtor,
realizador e apresentador de Filmelândia, programa veiculado na Rádio Clube de
Pernambuco e Rádio Tamandaré do Recife. No ano de 1985, coproduziu, com Ivan
Soares, o projeto Coisas Nossas: Cinema Pernambucano, em oito capítulos de
trinta minutos. O cineasta e pesquisador foi diretor da Cinemateca da Fundação
Joaquim Nabuco, membro do Centro Brasileiro de Pesquisadores do Cinema
Brasileiro, vice-presidente da Fundação Nordestina de Cinema, sócio-fundador da
Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), fundador e primeiro presidente
do grupo Cinema Super-8 de Pernambuco.
Acumulando as funções de roteirista, diretor, jurado,
palestrante, debatedor, presidente de júri, professor, Fernando Spencer tem,
ainda, no currículo, diversos livros publicados, a exemplo de Histórias do Tio
Joca, editado em 1990 pela Bagaço. Este foi o primeiro título que lançou no
gênero literatura infantil. Sobre cinema, escreveu o texto Ciclo do Recife: 60
anos, publicado pela Massangana, em 1983. Ainda pela Massangana, lançou em 1985
o catálogo de filmes da Cinemateca da Fundaj. E, pela Bagaço, produziu em 1989
a publicação 20 anos de cinema [1969 – 1989]: filmografia. No Quase catálogo,
organizado por Heloísa Buarque de Holanda e publicado em 1991 no Rio de
Janeiro, escreveu verbetes sobre estrelas do cinema mudo de Pernambuco. Em 1995
publicou textos sobre os cem anos de cinema. No mesmo ano, publicou, em
parceria com a bibliotecária da Fundaj Lúcia Gaspar, O Nordeste no cinema: uma
contribuição bibliográfica, para a revista Ciência & Trópico.
Em 1974, recebeu o prêmio de melhor Super-8 na III Jornada
Brasileira de Curta Metragem, no estado da Bahia, com o filme Valente é o galo.
No mesmo ano, o cineasta fez a estreia no gênero documentário com o filme
Caboclinhos do Recife. Aliás, a temática dos folguedos tradicionais é
recorrente na obra de Spencer. Em 1999, realizou A arte de ser profano, vídeo
sobre os pastoris, e em 2004 volta ao tema, dessa vez com Os irmãos Valença, em
que o pastoril religioso é um tema incontornável. No VI Festival Nacional de
Cinema, realizado em Aracaju, pela Universidade Federal de Sergipe, no ano de
1978, recebeu o prêmio de Melhor Filme de Comunicação para As corocas se
divertem. Com o filme Estrelas de Celulóide, recebeu um troféu candango no
Festival de Cinema de Brasília, em 1987. No III Festival de Cinema dos Países
de Língua Portuguesa, realizado na cidade de Aveiro, Portugal, em 1988,
Fernando Spencer ganhou, em parceria com Flávio Rodrigues, o prêmio de melhor
curta, na categoria documentário, pelo trabalho Evocações de Nelson Ferreira.
O percurso de Spencer ganha ainda mais sentido quando ele
recapitula o princípio desse amor antigo: cedo apaixonou-se pelo cinema,
precisamente aos 12 anos, quando o pai lhe oferece um projetor alemão para
filmes de 35 mm, o suficiente para inaugurar, de forma decisiva e em grande
estilo, a trajetória deste cineasta das três bitolas. Assim conhecido no meio
cinematográfico pela produção tanto em Super-8, quanto em 16 e 35 mm, a
criatividade e o amor às tradições pernambucanas selam a produção de Fernando
Spencer, com os documentários acima mencionados e, ainda, Frei Damião: um santo
no Nordeste? (1977), Santa do Maracatu (1981), Trajetória do frevo no Recife
(1987). Sobre literatura de cordel, realiza o documentário O folheto (1971), na
bitola 16 mm, em parceria com Liêdo Maranhão, João José e Esman Dias.
Na produção mais recente, de 2009, está o curta Nossos ursos
camaradas, em que o cineasta compõe uma abordagem antropológica de fogosos
ursos e La ursas na cultura pernambucana, a partir de pesquisa encomendada ao
amigo folclorista Mário Souto Maior. Com esse filme, Spencer estreia em nova
bitola, a digital, e é promovido a cineasta das quatro bitolas! Maria Bonita e
Lampião seriam personagens de novos projetos, interrompidos com a morte do
artista, a 17 de março de 2014, no Recife. A família planeja abrir uma fundação
como justa homenagem à memória desse cineasta que assina uma obra autoral,
prolífica, incansável.
Fernando Spencer foi agraciado com o título de Patrimônio
Vivo de Pernambuco em 2007. Veio a falecer em março de 2014, sendo reverenciado
como um dos mais emblemáticos realizadores do cinema pernambucano do último
século.
Fonte: Amorim, Maria Alice (2014), Patrimônios Vivos de Pernambuco; 2. ed. rev.
e amp – Recife: FUNDARPE
Texto e imagem reproduzidos do site: cultura.pe.gov.br
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