sexta-feira, 17 de abril de 2020

Crítica do filme: "O Destino do Poseidon" (1972)


Texto publicado originalmente no site CINE PLAYERS, em 8 de Junho de 2006

Um divertitíssimo blockbuster pré-Tubarão: tensão e emoção na medida certa.

Por Alexandre Koball 

O Destino de Poseidon (que foi refilmado este ano [2006] e vem recebendo críticas horrendas) é um exemplo perfeito de que realismo em filmes-catástrofe pode ser alcançado sem o uso das modernas técnicas de efeitos especiais. Mesmo tendo sido lançado no não tão longínquo ano de 1972, o filme em nenhum momento denuncia ser de uma época anterior à era da computação gráfica no cinema. Para se ter uma idéia, as situações que ocorrem aqui não devem em nada ao super-mega arrasa-quarteirões Titanic. Inclusive o filme utiliza muitas das técnicas que James Cameron veio a utilizar 25 anos depois, como por exemplo os grandiosos sistemas hidráulicos para simular o naufrágio do navio.

Estrelado por um elenco de ouro, que inclui Gene Hackman, Shelley Winters, Ernest Borgnine e um Leslie Nielsen ainda novo, o filme acabou sendo um tremendo sucesso de bilheteria, e hoje pode ser visto como um dos bons filmes-catástrofe dos anos 1970. E, pelo menos nesse caso, não foi um sucesso gratuito: o roteiro do filme é construído de forma a proporcionar ao espectador grandes doses de adrenalina, além de possuir uma construção de acontecimentos praticamente perfeita. Ainda nos dias atuais ele funciona como um excelente suspense, que vai ficando mais e mais claustrofóbico à medida que chega ao seu clímax, e esse, sem dúvida, é o seu ponto forte.

A história é bem simples: o Poseidon, uma espécie de hotel flutuante, sofre o impacto de uma onde gigantesca, que vira o navio de cabeça para baixo, instantaneamente matando boa parte dos tripulantes e isolando outra parte dentro do salão de festas. Um pequeno grupo, liderado pelo reverendo Frank Scott (Gene Hackman) decide que é melhor eles procurarem a saída por si mesmos, ao invés de esperar que a ajuda chegue, sob protesto de muitos outros. A partir daí, sala a sala, eles enfrentam grandes desafios e perigos mortais, para tentar atingir o casco do navio, enquanto este ainda estiver sobre a água.

O filme utiliza um tempo em seu começo para apresentar seus personagens. Há um bom background de cada uma das figuras centrais do filme e, como não poderia deixar de acontecer, eles lembram um pouco vários estereótipos do gênero: há o líder, a mocinha indefesa, o brigão, etc. Felizmente essas características não incomodam, visto que as interpretações são muito boas e as situações colocadas não abusam da inteligência do espectador. Claro que há momentos em que algum personagem fará algo estúpido somente para elevar a tensão, mas esses momentos são bem restritos. Alguém se lembra da horrenda cena da perseguição do bandido armado ao mocinho, momentos antes do Titanic afundar, no filme de James Cameron? Pois é, aqui nada tão estúpido acontece.

O grande trunfo de Poseidon, como já foi comentado, é a tensão que ele consegue provocar. O navio é nos apresentado como um lugar agradável e divertido em seus primeiros momentos e, embora seja óbvio que algo de ruim vá acontecer (mesmo para quem não conhece a história e não tenha lido a sinopse), o roteiro surpreende ao armar uma atmosfera absolutamente desesperadora para seus personagens, o que, logicamente, influenciará a percepção do espectador mais envolvido, que se sentirá tenso juntamente com os personagens. Então, pasmem! O filme assim mostra que ele funciona. Os ambientes apertados do navio, a água vindo cada vez mais para próximo dos personagens, e os conflitos criados entre eles fazem de O Destino de Poseidon um trabalho interessante de se acompanhar, e difícil de tirar o olho.

Tudo isso é acompanhado de um realismo muito forte, devido a uma parte técnica caprichada e fotografia crua, típica de filmes dos anos 1970, além do relativamente alto grau de violência. A trilha sonora muito boa, que sempre entra em momentos-chave, também dá força ao filme. Obviamente nem tudo são flores: há as já citadas forçadas de barra, que tornam alguns momentos e alguns personagens levemente irritantes e também há um final um tanto quanto decepcionante pela sua forma abrupta de ser, o que pode decepcionar quem esperava um desfecho mais elaborado depois de tanta tensão ao longo da projeção. No final das contas, é apenas um filme-pipoca pré-Tubarão (ou seja, pré-era dos blockbusters): divertido, e só! Isso, nesse caso, é mais do que suficiente.

Texto reproduzido do site: cineplayers.com

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